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Os riscos da pressão alta na gravidez

O ginecologista Eduardo Cordioli esclarece dúvidas sobre a pré-eclâmpsia ou o agravamento dela, um quadro que os médicos chamam de síndrome de HELLP.

Por Manuela Macagnan (colaboradora)
Atualizado em 26 out 2023, 09h25 - Publicado em 15 jun 2015, 11h51

1. O que é pré-eclâmpsia?
Eduardo Cordioli: É o aumento significativo da pressão arterial na gestação sem causas conhecidas. Na verdade, esse aumento da pressão faz parte de uma síndrome, que é como nós, médicos, chamamos um conjunto de sintomas ou doenças. No caso da pré-eclâmpsia, outro sintoma importante é a má adaptação placentária. Ou seja, a placenta não adere direito ao útero. E isso talvez faça com que o organismo feminino reaja como se ela fosse um corpo estranho. Nessa reação, os vasos sanguíneos se contraem, elevando a pressão sanguínea.

2. O que determina o aparecimento da pré-eclâmpsia?

E.C.: Por trás da pré-eclampsia, existem fatores genéticos e seu aparecimento sempre dependerá da combinação entre os genes do casal. Por isso, às vezes uma mulher tem pré-eclâmpsia com um parceiro e, ao ficar grávida de outro homem, já não apresenta o problema.

3. Existe alguma maneira de prever se a mulher terá o problema?

E.C.: Infelizmente, não existem exames que possam antecipar se uma mulher terá ou não pré-eclâmpsia.

4. Será que existe, pelo menos, um grupo de risco?

E.C.: A pré-eclâmpsia costuma acontecer nos extremos da vida reprodutiva da mulher. Se ela é muito nova ou deixou para engravidar bem mais tarde, é preciso ficar mais atento. E tem mais: o problema tende a acontecer na primeira gestação.

5. Quando ele aparece?
E.C.: Em tese, depois do quinto mês, mas é mais comum após o sexto ou até mesmo o sétimo mês de gestação. Quando a pré-eclâmpsia surge mais cedo do que isso, geralmente existem outros problemas, como a doença molar, quando a placenta se transforma em um tumor. Ela, por sua vez, é mais frequente em mulheres com disfunções de tireoide.

6. O que acontece com o bebê quando a grávida tem pré-eclâmpsia?
E.C.: Ele pode ter seu crescimento afetado. Como a placenta não gruda no útero de forma correta, a troca de nutrientes não é adequada e isso faz com que ele não cresça conforme o esperado.

7. A mulher que tinha pressão baixa antes de engravidar tem menos probabilidade de enfrentar essa doença?

E.C.: Nada disso. Ter pressão baixa antes de engravidar não diminui o risco nem favorece o problema.

8. A alimentação tem alguma influência em casos assim?
E.C.: Não. Ingerir mais ou menos sal, por exemplo, não vai impedir a ocorrência da pré-eclâmpsia se houver os tais fatores genéticos. Aliás, nem sequer as hipertensas devem fazer uma dieta com restrição do sal durante a gestação porque o iodo – presente no condimento – é muito importante para o feto e para a mãe. A grávida deve apenas evitar os excessos de comida. Isso porque o ganho de peso exagerado, sim, favorece o aparecimento da doença.

9. Quais são os sintomas de que a grávida está com pré-eclâmpsia?

E.C.: Inchaço acompanhado de aumento da pressão arterial, dor de cabeça frontal ou na nuca, tontura, enxergar pontinhos brilhantes e até dor de estômago. Se a gestante tiver algum desses sintomas, deve procurar o seu médico imediatamente. E, se não conseguir falar com ele, deve ir à maternidade mais próxima. Não se deve perder tempo porque a pré-eclâmpsia pode se transformar em eclâmpsia, que é a convulsão, entre outras complicações.

10. Como os médicos tratam uma grávida com esse quadro?

E.C.: Em primeiro lugar, eles lançam mão de anti-hipertensivos, remédios para controlar a pressão. A ideia é evitar que ela suba ainda mais e, assim, ganhar tempo na gestação, evitando um parto muito prematuro. O parto, diga-se, é o tratamento definitivo da pré-eclâmpsia. O problema só vai passar depois que o bebê nascer e que a placenta, por trás de todas essas reações, for retirada.

11. Quando é indicado fazer o parto prematuro?
E.C.: Quando os exames de sangue e de urina estão muito alterados ou, claro, quando a pressão fica difícil de controlar e a mínima ultrapassa a marca dos 11.

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12. E o que é a síndrome de HELLP?
E.C.: É uma complicação da pré-eclâmpsia, que causa lesões no fígado, problemas de coagulação e hemólise, que é o rompimento de hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue. E isso aumenta o risco de hemorragia. Aí, a mãe corre o risco de morte. E há casos em que o bebê nasce prematuramente e também acaba falecendo.

13. É comum esse tipo de complicação acontecer?
E.C.: A síndrome de HELLP só acontece quando a pré-eclampsia não é tratada, ou seja, quando não há um médico acompanhando adequadamente para receitar anti-hipertensivos ou apontar a necessidade de um parto prematuro. Se a pré-eclâmpsia é controlada, a síndrome de HELLP não tem chance de acontecer e o risco de a mulher morrer é pequeno.

Fonte:

Médico Eduardo Cordioli, obstetra e coordenador da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

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