Continua após publicidade

Novo estudo reforça a relação entre zika e microcefalia

Com análises patológicas e sequenciamento do vírus, trabalho esloveno traz uma importante contribuição para as pesquisas sobre o assunto.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 14h28 - Publicado em 11 fev 2016, 16h29

Desde que o Ministério da Saúde confirmou o elo entre o crescente número de casos de microcefalia ao vírus zika, em novembro de 2015, diversas teorias e boatos surgiram para colocar em xeque essa afirmação. No entanto, um novo estudo publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine nesta quarta-feira, 10, traz evidências que reforçam a relação entre a malformação cerebral e o agente infeccioso transmitido pelo Aedes aegypti já apontada em pesquisas brasileiras.

Desenvolvido por um grupo europeu, o trabalho relata o caso de uma eslovena que foi infectada pelo vírus durante o primeiro trimestre da gravidez, enquanto vivia no Brasil. A jovem de 25 anos morava na capital do Rio Grande do Norte, onde trabalhava como voluntária desde 2013. Em fevereiro de 2015 ela engravidou e na 13ª semana de gestação os sintomas começaram a aparecer: dores no corpo, manchas avermelhadas na pele e febre alta. Mas foi apenas na 29ª semana, já de volta à Europa, que a gestante realizou a terceira ultrassonografia – a primeira que apontou a possibilidade de anomalia fetal, constatada num ultrassom realizado três semanas depois. O exame mostrou a diminuição da circunferência do crânio, calcificações em diferentes regiões do cérebro e um aumento dos ventrículos cerebrais. Na época, ela também notou uma redução dos movimentos fetais.

Devido à gravidade da situação, a jovem optou por interromper a gravidez na 32a semana (ato permitido por dois comitês de ética) e, na autópsia do feto feita três dias depois, foi possível analisar placenta, órgãos e cordão umbilical. Por meio de microscopia eletrônica, teste laboratorial de PCR, imunofluorescência indireta e outros exames, os pesquisadores puderam observar que o vírus só se encontrava em grande quantidade no tecido cerebral, onde além dos danos já apontados pelo ultrassom, havia ainda estruturas neuronais destruídas – o que indica uma possível localização do zika em neurônios.

As amostras foram testadas também para outras flaviviroses, como dengue, febre amarela e encefalite transmitida por carrapatos, além de outras doenças, a exemplo da febre chikungunya, citomegalovirose, rubéola e toxoplasmose, mas todas deram resultado negativo. Os cientistas também fizeram um sequenciamento completo do genoma do vírus que apontou uma identificação de 99,7% com o zika isolado na Polinésia Francesa (2013) e, depois, no Brasil (2015).

Continua após a publicidade

Com este estudo do RNA e com as análises patológicas do cérebro afetado pelo zika, a pesquisa eslovena foi considerada pela comunidade científica como a mais completa até agora sobre a questão e traz mais um forte indício da associação entre o vírus e a microcefalia – ainda não assegurada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em tempo: o Ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou nesta quinta-feira, 11, uma parceria entre o governo brasileiro, representado pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), e a Universidade do Texas Medical Branch, nos Estados Unidos, para desenvolver uma vacina contra o vírus zika. O acordo prevê a instituição de um Comitê de Coordenação para analisar o progresso e os resultados alcançados pela cooperação e a participação de outros órgãos de saúde internacionais, como a OMS.”A previsão inicial é que os pesquisadores brasileiros e americanos concluam o imunizante nos próximos dois anos”, declarou o ministro.

Publicidade