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Novas descobertas sobre os prejuízos que a exposição precoce ao cigarro causa às crianças

Estudos recentes apontam que o contato com essa droga ainda dentro da barriga ou nos primeiros meses de vida afeta, lá na frente, os dentes, o coração, o condicionamento físico e até a saúde mental dos pequenos.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 27 out 2016, 18h51 - Publicado em 31 Maio 2016, 09h40

Não é segredo para ninguém que fumar durante a gestação faz muito mal para o bebê (e para a mãe, claro!). Diversas pesquisas já demonstraram que o hábito atrapalha o desenvolvimento do sistema nervoso central do feto, contribui para o surgimento de doenças congênitas e de transtornos psicológicos, favorece a prematuridade e o baixo peso ao nascer e interfere na capacidade pulmonar do pequeno. E a ciência não para de investigar outros malefícios que o tabagismo pode oferecer aos filhos de mulheres que fumam ou mesmo a crianças que convivem com fumantes. A seguir, confira alguns achados recentes:

1. Maior propensão à esquizofrenia

Em um trabalho publicado no dia 24 de maio de 2016 na revista científica The American Journal of Psychiatry, cientistas americanos e finlandeses descobriram que tragar cigarros na gravidez aumenta o risco de esquizofrenia na criança. A pesquisa analisou mil indivíduos esquizofrênicos que nasceram entre 1983 e 1998 na Finlândia. Os voluntários foram comparados a pessoas que não apresentavam o distúrbio, e a constatação foi que níveis mais altos de nicotina no sangue da gestante estão ligados a uma maior probabilidade de o bebê desenvolver esse transtorno mental. Para se ter uma ideia, a intensa exposição do pequeno à principal substância do cigarro eleva em 38% a tendência à esquizofrenia, de acordo com o estudo. E isso mesmo considerando outros fatores de risco para o problema, como o histórico psiquiátrico da família, a situação socioeconômica e a idade da mãe.

Segundo os pesquisadores, a nicotina atravessa a placenta e cai na corrente sanguínea do feto. O principal alvo do composto é o cérebro, o que pode gerar alterações cognitivas e problemas neurológicos no curto e no longo prazo. “Nós utilizamos uma amostra nacional, com o maior número de casos de esquizofrenia já incluídos em um levantamento desse tipo”, diz Alan Brown, principal autor do estudo e professor da Universidade Columbia, nos Estados Unidos. De acordo com ele, acredita-se que essa seja a maior investigação já feita sobre o tema.

2. Menor capacidade aeróbica

Filhos de mulheres que fumam têm menos fôlego para correr, andar de bicicleta ou nadar. É o que aponta uma pesquisa da Universidade de Oulu, na Finlândia, publicada em dezembro de 2015 no periódico International Journal of Obstetrics and Gynaecology (BJOG). Participaram do estudo 508 rapazes, todos na faixa dos 19 anos de idade. Desses, 59 tiveram contato com o tabaco quando ainda estavam na barriga de suas mães – que fumavam no mínimo um cigarro por dia na gestação. Após analisar os resultados de testes de corrida realizados no início do treinamento militar desses garotos, os cientistas notaram que os voluntários cujas mães eram fumantes apresentavam resultados piores na atividade.

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Além do cigarro, outros fatores que se mostraram ligados ao mau desempenho dos participantes foram a obesidade e o excesso de peso de suas genitoras antes da gravidez e durante os nove meses. Para os cientistas, esses achados só reforçam algo que todo mundo já sabe. “Nosso estudo contribui para a base de evidências já existente a cerca dos impactos negativos e a longo prazo do tabagismo na gravidez. As mulheres precisam ser orientadas a parar de fumar e a manter um peso saudável na gestação, a fim de minimizar riscos aos seus filhos que ainda nem nasceram”, recomenda Maria Hagnäs, líder da investigação.

3. Dentes com mais cáries

Karen Ilagan/Thinkstock/Getty Images
Karen Ilagan/Thinkstock/Getty Images ()

Consumo excessivo de açúcar e falta de escovação é o que mais contribui para que as cáries apareçam. Mas a ciência já suspeita há um tempo que a exposição precoce ao cigarro também pode fazer com que esses buracos surjam nos dentes. Agora, essa hipótese ganhou mais uma evidência – e de peso! Pesquisadores japoneses estudaram nada menos do que 76 920 crianças nascidas entre 2004 e 2010. Elas fizeram check-ups logo após o parto e em vários momentos até completarem 3 anos de idade. As mães dos pequenos também foram analisadas: elas responderam a questionários sobre estilo de vida, hábitos alimentares e cuidados dentários desde a época em que estavam grávidas.

Os resultados demonstraram que o contato direto com a fumaça do cigarro (fumo passivo) aos 4 meses de vida dobra o risco de meninos e meninas desenvolverem cáries aos 3 anos. Já os baixinhos que convivem com familiares que fumam no ambiente doméstico apresentam uma probabilidade 1,5 vezes maior de desenvolver o problema dental em algum momento, de acordo com a investigação. 

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Mas calma lá: apesar dos achados curiosos, os autores da investigação alertam que esse é apenas um estudo observacional, ou seja, ainda não se pode estabelecer uma relação de causa e efeito. De qualquer forma, está aí mais um indício de que tabagismo e criança saudável não combinam.

4. Coração descompassado

De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia publicado em outubro de 2015 no jornal HeartRhythm, pessoas que foram fumantes passivas durante a infância ou mesmo quando ainda estavam na barriga da mãe estão mais propensas a desenvolver fibrilação atrial – a principal causa de arritmia cardíaca no mundo.

Para esse trabalho, os experts analisaram 4 976 indivíduos que participaram de um levantamento online sobre a saúde do coração. Desses, 12% relatavam sofrer com a fibrilação atrial. Após avaliar diversos fatores notoriamente ligados ao problema – como sexo, raça, idade e estilo de vida -, os pesquisadores viram algo curioso: aqueles que tiveram contato com o cigarro antes mesmo de nascer ou quando ainda eram crianças tinham um risco 40% maior de apresentar a arritmia em comparação a quem não foi exposto à droga.

Mais uma vez, contudo, não é possível afirmar que uma coisa leva à outra – são necessários mais estudos. No entanto, fica o recado: para criar filhos (e adultos) saudáveis, é uma boa deixar as baforadas para trás antes de se tornar mãe. 

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