Melasma: como amenizar as manchas da gravidez

Ainda não existe cura para as tais marcas, mas é possível prevenir e atenuar o problema que tanto incomoda as gestantes.

Por Cida de Oliveira (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 21h12 - Publicado em 28 Maio 2015, 11h20
CandyBoxImages/Thinkstock/Getty Images
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As alterações hormonais relacionadas à gravidez e ao desenvolvimento do bebê são as mesmas que provocam efeitos indesejáveis, como o aparecimento ou agravamento de manchas marrons em vários pontos da face – o melasma que, durante esse período, recebe o nome de cloasma gravídico. Ainda não são totalmente conhecidos os mecanismos de surgimento da lesão, tampouco o conjunto de hormônios envolvidos. A única certeza é a da participação do estrogênio e da progesterona, além da desconfiança da atuação do hormônio melanotrófico, que age na liberação de melanina, uma proteína que confere cor à pele. “Os hormônios femininos têm ação direta na pigmentação cutânea”, afirma a dermatologista Leandra Metsavaht, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). “Na gravidez, esse processo fica bastante evidente. Basta notar o escurecimento da linha alba, aquela linha vertical bem no meio do abdômen, que escurece e se torna a linha nigra. Do mesmo modo, ficam mais escuros os grandes lábios vaginais, a aréola mamária, as regiões da virilha, axilas e até as pintas espalhadas pelo corpo”. Então, o problema tanto pode aparecer pela primeira vez numa gravidez como ser desencadeado muito tempo antes dela, pela ação dos hormônios presentes nas pílulas anticoncepcionais. A SBD alerta que, apesar de se tratar de uma alteração benigna, sem risco de complicações, o problema traz um impacto psicossocial muito importante na qualidade de vida das mulheres.
 
Embora o problema tenha muitas causas ainda desconhecidas – não se sabe, por exemplo, se há fatores genéticos e hereditários envolvidos – o sol e o calor são os principais aliados dos hormônios nesse processo. “De tudo o que se sabe com certeza é que a lesão aparece, reaparece ou se intensifica com a exposição aos raios solares ou em ambientes muito quentes”, explica a dermatologista Meire Brasil Parada, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo ela, as manchas podem ser mais superficiais ou profundas. Quanto mais externas, mais fácil de clarear.
 
As alterações hormonais persistem por um período de quatro a seis meses após o término da gravidez. Assim a hiperpigmentação tende a diminuir gradualmente após o parto, principalmente e mais rapidamente com o uso de fotoproteção constante. Entretanto, isso não significa que o melasma irá desaparecer.
 
Como infelizmente ainda não há cura para o problema, o melhor a fazer é prevenir o seu aparecimento – leia-se a total proteção contra os raios solares com o uso de bloqueadores, bonés e viseiras, além de evitar, o máximo possível, a exposição ao sol, principalmente entre as 10 e as 15 horas, no horário normal e entre as 11 e 16 horas, no esquema de verão. Alessandra Bisi, dermatologista do Prontobaby Hospital da Criança, do Rio de Janeiro, lembra que, durante a gravidez, as mulheres podem ainda utilizar loções faciais contendo vitamina C a 10%, desde que prescritas pelo médico. “Devem ser usadas duas vezes ao dia, mas é necessário manter o uso do protetor solar”.
 
Meire Brasil lembra que, quanto maior o fator protetor do filtro solar (FPS), melhor – no mínimo 30. Ela recomenda o uso de bloqueadores com cor, semelhantes a uma base para maquiagem. “Eles são mais eficazes porque a base e o bloqueador formam uma dupla barreira física contra os raios ultravioleta”, diz.
 
E aplicar o protetor uma vez por dia não garante nenhuma proteção. O correto, conforme a especialista da Unifesp, é lavar o rosto e espalhar uma camada assim que levantar da cama pela manhã. E a cada duas horas, lavar o rosto ou limpá-lo com loção de limpeza ou demaliquante e reaplicar o filtro solar. “Só respeitando a frequência de aplicação a cada duas horas é que se pode dizer que há proteção”, avisa. Ela ressalta ainda que não basta aplicar uma camada leve. São necessárias quantidades generosas no rosto todo. A recomendação é de dois milímetros cúbicos, ou seja, uma colher de café cheia do produto.
 
Depois que o melasma aparece, não tem mais jeito de acabar com ele para sempre. Mas, existem tratamentos capazes de atenuá-lo, evitando que as manchas se intensifiquem. “Além da proteção contra os raios ultravioleta, existem medicamentos que podem ser prescritos pelo especialista, como o ácido azelaico, a vitamina C tópica, alfa e beta hidroxiácidos e os ácidos retinóico, fítico e lático. Como alguns desses medicamentos não devem ser usados por gestantes, esta é mais uma razão para não se automedicar”, alerta Leandra.
 
Segundo ela ressalta, o único procedimento que a gestante pode e deve fazer em casa para evitar a piora da situação é a fotoproteção. Para controlar o problema, é preciso sempre procurar um dermatologista para o diagnóstico correto e condução do melhor tratamento para cada caso.
 
Os dermatologistas são unânimes ao afirmar que nem todas as mulheres respondem de maneira idêntica aos tratamentos para amenizar o melasma. “Em geral, o tratamento é muito difícil e, não raro, frustrante, tanto para o médico, quanto para o paciente”, enfatiza Leandra Metsavaht, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.  “Estudos mostram que algumas combinações de medicamentos são mais eficazes do que os medicamentos isolados. Porém, algumas pacientes ficam com a pele extremamente sensível e isso deve ser avaliado caso a caso”, diz. O mais importante é que quem tem melasma deve ter em mente que não existe milagre e nem cura. “Uma vez com melasma, sempre com melasma. E quanto mais vermelha e sensível aos raios ultravioleta estiver a pele, pior ficará o aspecto do melasma.
 
Como tratar? 
Segundo a dermatologista Tatiana Jerez Jaime, da Clínica Denise Steiner, em São Paulo, em muitos casos o melasma gravídico pode desaparecer após o parto. “Em 30% das mulheres, as manchas se mantêm após o período gestacional, mas é importante que elas tenham em mente que uma pele que apresenta melasma deverá ser cuidada pelo resto da vida. As manchas podem desaparecer com o tratamento, porém qualquer exposição ao sol, mesmo que mínima, pode fazer a mancha reaparecer”, destaca.
 
Conforme a especialista, existem diversos produtos e tratamentos para o melasma. Na maioria das vezes, em busca de melhores resultados, o dermatologista combina estes tratamentos. Conheça os principais:
 
Ácidos – são, na sua maioria, produtos considerados medicamentos e, por isso, vendidos em farmácias, na forma de creme, loção, gel, serum. Em geral, são produtos para uso noturno, devendo ser removidos pela manhã. Sua função é promover a renovação celular e estimular a formação de colágeno, além de facilitar a penetração, através da pele, de outros agentes com funções clareadoras. Devem sempre ser prescritos por um dermatologista, que explicará a forma correta de uso. Quando mal usados, podem levar a irritações da pele e com isso piorar as manchas. Os ácidos mais usados são o retinóico ou tretinoína, o glicólico, o azelaico e adapaleno. O único ácido que, comprovadamente, pode ser usado no período da gestação e aleitamento é o ácido azelaico.
 
Clareadores
– Em sua maioria, são considerados produtos cosméticos. Nessa categoria estão o arbutin, o ácido kojico, a vitamina C ou ácido ascórbico, o melawhite e skin whitening complex. Há ainda o hidroquinona, um despigmentante mais potente e considerado medicamento. Estes ativos podem ser usados em produtos combinados com os ácidos para aplicação noturna ou em produtos clareadores para serem aplicado de dia. “O uso dos clareadores é sempre recomendado no tratamento do melasma. Alguns deles podem ser usados durante a gestação e o aleitamento, como a vitamina C. Porém a hidroquinona é proibida neste período”, destaca Tatiana. A resposta ao tratamento com produtos tópicos é lenta e gradual. Alguns casos apresentam melhora significativa após um mês de uso dos produtos, outros precisam de até 3 meses para que os resultados sejam visíveis. O importante, segundo ela, é não esperar resultados milagrosos e rápidos, mas insistir no tratamento. Já os recursos domiciliares, contínuos e prolongados, com ácidos e clareadores, são considerados os melhores tratamentos para o melasma desde que, óbvio, sempre aliado à proteção solar.
 
Proteção solar
– Os filtros solares são fundamentais no tratamento do melasma. Um único dia de descuido pode colocar a perder os resultados obtidos com meses de uso de produtos clareadores. Hoje em dia os especialistas dão preferência aos filtros que contenham cor de base por serem mais efetivos na proteção contra a luz visível, aquela emitida pelas lâmpadas e refletores. Os filtros brancos, por mais alto que seja seu FPS, só protegem dos raios ultravioleta do sol. No dia a dia, quem tem melasma deve repassar o filtro pelo menos 3 vezes ao dia (manhã, no almoço e meio da tarde). “É importante lembrar que a proteção dos filtros nunca é 100%. Por isso, devemos sempre tentar usar meios físicos de proteção, como chapéus e viseiras de abas largas, sobrinhas e, na praia, ficar à sombra de barracas”, diz. A proteção solar pode e deve ser usada durante a gestação e o aleitamento.
 
Ativos via oral – Algumas substâncias, quando ingeridas, protegem a pele do dano solar, contribuindo para o tratamento do melasma. São produtos eficientes para serem usados como adjuvantes aos de uso tópico (local), disponíveis em formulações industrializadas ou fórmulas manipuladas. Os ativos mais usados  incluem as substâncias polypodium leucotomos, picnogenol, luteína e outros antioxidantes, como o licopeno. “São produtos usados principalmente no verão, quando a exposição solar é maior. No geral, recomendamos iniciar o uso 15 a 30 dias antes do início da exposição. Como não existem estudos em grávidas, estas substâncias de uso oral não são recomendadas durante a gestação e o aleitamento”, destaca Tatiana.
 
Peelings – são escamações da pele promovidas pelo uso de ácidos – no caso, de peelling químicos – ou por uso de objetos abrasivos como lixas e cristais, os peelings físicos. Esses procedimentos podem ser superficiais, médios ou profundos, conforme a camada da pele que a descamação atinge. Quanto mais profundo, mais agressivo e mais intensas a inflamação e irritação da pele logo, após o procedimento. “Como o melasma é um quadro que pode ser piorado por irritação e inflamação na pele, os peelings mais agressivos não são recomendados’, diz Tatiana. Mesmo os superficiais, que podem ser usados em alguns casos, devem ser feitos com cautela e sempre indicados e acompanhados por um dermatologista. Não devem nunca ser usados como tratamento único para o melasma e sim como coadjuvantes ao tratamento tópico domiciliar, feito com ácidos e clareadores. Geralmente são necessárias em média cinco sessões, com intervalos de cerca de 30 dias. “Como a pele com melasma não deve ser submetida a irritações, evitamos intervalos menores e procedimentos mais agressivos, o que poderia piorar as manchas”. Os peelings químicos são contraindicados durante a gestação. Já os peelings físicos, como o de cristal, poderiam ser usados. Mas os seus possíveis benefícios talvez não justifiquem os riscos, já que a possibilidade de pigmentação por irritação ou inflamação é ainda maior durante o período que vai da gestação até seis meses após o parto.
 
Lasers e Luzes – são tecnologias mais recentes e de uso bastante controverso no tratamento do melasma. Nunca devem ser considerados uma forma de cura ou salvação ou mesmo utilizados como tratamento único. Segundo Tatiana, muitos tratamentos como a Luz Intensa Pulsada e os Lasers Fracionados mostraram resultados desanimadores para o melasma. A maioria dos casos apresenta uma melhora inicial, seguida de uma piora importante, conhecida como efeito rebote. Na tentativa de evitar o rebote, estas tecnologias, quando usadas, devem ser sempre com baixa intensidade, distribuída em um maior número de sessões.
 
Segundo a especialista da Clínica Denise Steiner, recentemente chegou ao Brasil uma tecnologia nova que, diferente dos lasers mais antigos, apresenta resultados promissores e que, em muitos casos, parece não haver o risco de pigmentação rebote, ou seja, escurecimento da mancha após o tratamento. Trata-se de um equipamento chamado Q-switched Nd:YAG, que dispara raios em pulsos ultra-rápidos (nanosegundos), capazes de destruir a melanina sem gerar calor suficiente que cause agressão à pele ao redor, evitando a irritação e a inflamação que seriam responsáveis pela piora da mancha. O tratamento com esse tipo de laser é feito, a princípio, em dez sessões semanais. A tecnologia ainda não representa a cura para o melasma, mas parece apresentar resultados mais eficientes e duradouros do que as outras técnicas empregadas até hoje.

Como ela destaca, como ainda não há estudos sobre os riscos para o feto, o uso de lasers não é recomendado nas gestantes. Durante o aleitamento, em tese, eles poderiam ser usados, porém com muita cautela, por conta dos índices do hormônio responsável pela pigmentação aumentada nas gestantes, que se mantém elevado cerca de seis meses após o parto.

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