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Discriminação por gravidez no trabalho pode afetar saúde da mãe e do bebê

Achado inédito vem de estudo com mais de 200 gestantes. Entre os prejuízos, risco de depressão pós-parto, baixo peso ao nascer e parto prematuro.

Por Chloé Pinheiro
22 jul 2020, 17h50

O preconceito contra gestantes no local de trabalho é crime, mas mesmo assim acontece. Entre suas manifestações, demissões durante a gravidez, dificuldade para conseguir recolocação no mercado, menos vantagens em promoções, entre outras. Um novo estudo sugere que, além do impacto psicológico negativo, tais atos podem abalar a saúde de mãe e bebê. 

O trabalho foi conduzido na Universidade Baylor, nos Estados Unidos, e publicado no periódico Journal of Applied Psychology. Mais de 250 mães foram questionadas sobre episódios de discriminação ocorridos no ambiente de trabalho durante a gestação, estresse percebido e presença de sintomas de depressão pós-parto

Depois, a saúde dos bebês foi avaliada com parâmetros clássicos, como a duração da gestação e o índice Apgar, que mede batimentos cardíacos, reflexos, respiração e tônus muscular no parto. 

Ao comparar os dados, o grupo concluiu que mulheres que relataram discriminação e estresse também tinham níveis maiores de sintomas de depressão pós-parto, e seus bebês estavam mais sujeitos a apresentar menor peso ao nascer. Outra descoberta foi que eles poderiam chegar ao mundo com idade gestacional inferior à desejável (40 semanas), além de irem mais a médicos depois do nascimento. 

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Embora não estabeleça uma relação de causa e efeito, mas sim uma ligação indireta, o estudo é um dos primeiros a conectar o preconceito contra a gestante à sua saúde. “Foi surpreendente ver que o impacto se estende também ao bebê que a mulher carrega enquanto é discriminada”, comentou em comunicado à imprensa Kaylee Hacknet, pesquisadora da universidade que liderou o trabalho. 

Preconceito contra a gestante

Os autores destacam ainda que, na última década, mais de 50 mil queixas de discriminação no ambiente de trabalho por conta de gravidez foram feitas nos Estados Unidos. Não há dados oficiais sobre o assunto no Brasil, mas uma pesquisa de 2019 conduzida pelo grupo Mulheres do Varejo ouviu centenas de profissionais sobre o assunto, e descobriu que 79% dos homens e 84% das mulheres enxergavam preconceito contra as gestantes no mundo corporativo. 

Além dos mais evidentes, como a demissão e a dificuldade de recolocação, as grávidas podem ainda sofrer com isolamento social no trabalho, estereótipos e tratamentos interpessoais rudes. Outros exemplos são a diminuição de metas profissionais, transferência para tarefas desagradáveis, piadas inapropriadas e comentários intrusivos. 

Por fim, os cientistas que assinam o texto dão dicas para gestores reduzirem a hostilidade do ambiente profissional para as gestantes: 

  • Oferecer horários flexíveis.
  • Manter canais de comunicação abertos e funcionários bem informados sobre benefícios trabalhistas e expectativas para antes e depois da licença maternidade/paternidade.
  • Acolher e respeitar ausências para realização de consultas do pré-natal.
  • Ajudar no planejamento e nos arranjos necessários para a saída da licença maternidade. 
  • Normalizar a amamentação no ambiente de trabalho.
  • Criar um ambiente onde a discriminação não seja aceita. 
  • Não presumir o que a gestante quer, mas sim manter um diálogo aberto sobre suas necessidades e sentimentos.
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