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“Segundo mês de quarentena é mais difícil”, relatam pais de outros países

Há mais de dois meses em isolamento social, famílias da Itália e da China dividem seus aprendizados e dicas para lidar com melhor o período.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 15 Maio 2020, 15h48 - Publicado em 24 abr 2020, 14h56

Quando as aulas foram suspensas na cidade de Piacenza, na Itália, no final de fevereiro, a vida da família Rolleston não mudou muito. “O isolamento foi ocorrendo aos poucos, no início eram apenas as escolas fechadas, mas ainda podíamos sair, então as crianças achavam que estávamos de férias”, conta Kelly Rolleston, dirigente esportivo, morador da região que viveu um dos primeiros surtos italianos de Covid-19. 

O filho mais velho, Joshua, de 7 anos, ficou feliz por não precisar ir para a escola, e o mais novo, Noah, de 3 anos, sentiu poucas mudanças na rotina. “Ele já ficava em casa comigo ou com os avós maternos enquanto a mãe trabalhava”, lembra o pai. Com o tempo, contudo, as restrições sociais foram ficando mais severas e a família teve que se recolher de vez.

A esposa de Rolleston, Lucia, fisioterapeuta do sistema público de saúde, continuou trabalhando, enquanto o pai se viu diante de novos desafios com os filhos, incluindo aí organizar o aniversário dos dois, comemorado com maratona de jogos de tabuleiro, brincadeiras e piquenique.

A família durante o piquenique de aniversário. A mãe de Rolleston, que vive na Nova Zelândia, estava hospedada na casa do filho desde dezembro. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Com o tempo, as crianças começaram a sentir falta dos amigos, dos avós maternos, então agora estamos sentindo o fardo, pois eles estão com muita energia acumulada, estão mais irritados e reclamões”, desabafa Rolleston. 

Manter a rotina é fundamental 

 “Quando percebemos que a situação ia demorar para se normalizar, tentamos resgatar uma rotina mais estruturada”, relembra Rolleston, cuja vida ainda não retornou ao que era antes da pandemia. A família sempre gostou do cotidiano organizado, mas flexibilizou um pouco as regras nas primeiras semana de isolamento. 

Entre as medidas para manter a ordem, dormir todos os dias no mesmo horário, acordar, trocar de roupa como se fosse sair e passar o maior tempo possível realizando atividades no quintal. “Tivemos sorte por ter esse espaço ao ar livre em casa”, comenta Rolleston. 

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Há dezenas de milhares de quilômetros de Rolleston, Rocky Gao, morador de Beijing, China, tem que se virar no próprio apartamento para entreter o filho Noah, também de três anos de idade. A família está há três meses confinada em casa. “Enquanto trabalho, arrumo tudo para que ele faça suas atividades favoritas. E, quando está particularmente triste, deixo ele assistir desenho”, diz Gao. 

(Reprodução/Arquivo Pessoal)

A mudança para ele foi sentida. “Agora ficamos 24 horas por dia [com o filho], o que imagino que faça com que praticamente todos os pais se sintam exaustos”, conta.

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Exercícios físicos 

Rolleston e Gao são franqueados da Little Kickers, rede internacional de ensino por meio do futebol, então os filhos tiveram desde cedo o estímulo esportivo em casa. Os dois ressaltam os benefícios da prática de atividades físicas para os filhos. “Jogo com meu filho desde que ele tem 17 meses, e vejo que isso o ajuda a ser independente, interagir socialmente e ter mais saúde emocional durante o confinamento”, diz Gao. 

Rocky Gao e o filho Noah, de 3 anos (Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Com o quintal, conseguimos até nos exercitar junto com eles, brincando e nos divertindo em família. Percebemos benefícios como sono melhor e menos brigas entre eles”, destaca Rolleston.  

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Aprendizados e dicas para os brasileiros 

Uma situação tão excepcional como essa trouxe aos pais reflexões sobre a criação dos filhos. “Ao mesmo tempo que a interrupção de nossas vidas é difícil, também é um momento único de aproximação. Eu costumava passar apenas duas noites da semana em casa, no restante trabalhava, então agora posso cozinhar para eles e jantamos juntos em vários dias, o que não aconteceria em outra situação”, celebra Rolleston. 

“No segundo mês, as coisas podem ficar mais complicadas em alguns aspectos, como o comportamento das crianças, mas, por outro lado, de certa forma esse jeito de viver se ‘normaliza’ um pouco”, continua ele, que recomenda criatividade, disposição e paciência extra para brincadeiras, cantorias, teatros e novas atividades. 

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No geral, a falta de interação social das crianças é o que mais preocupa os pais que já estão há meses praticando o distanciamento social. Por isso, ambos recomendam manter o contato com família e amigos, mesmo de longe. “Nem que seja por uma mensagem de texto ou vídeo, isso realmente muda o dia, e também é importante que os adultos troquem experiências com outros pais”, conta Rolleston. 

Gao ressalta ainda a necessidade de cultivar o equilíbrio para sobreviver ao período. “Levo como lição o fato de que preciso aprender a controlar minhas emoções perto de uma criança que não está se comportando bem”, reflete.

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