“O que aprendi como pai depois de ficar viúvo e morar sozinho com a minha filha”

Confira o depoimento inédito do pai que superou uma grande perda e as lições que ele tirou de um dos momentos mais difíceis de sua vida.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 14h01 - Publicado em 6 ago 2015, 19h41
Silvinha Maciel/Raiz Fotografia
Silvinha Maciel/Raiz Fotografia (/)
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Rafael Del Col, 30 anos, é pai da Raisa, de 4 aninhos. Aqui, ele abriu o seu coração e contou com exclusividade ao Bebê.com.br os desafios que enfrentou após a morte da esposa.

“Minha história com a Raisa, minha filha, começou na minha juventude. Desde que eu tinha 12 anos sonhava em ter uma filha que se chamasse RAISA (com esse modo de pronunciar), não RAÍSSA – como estamos acostumados a ver por aí.

Os anos se passaram e em 2004 conheci a Tati. Namoramos, ficamos noivos, nos casamos e um ano após o casamento descobrimos que ela estava grávida. Algo me dizia que teríamos uma menina e, obviamente, o meu desejo era que ela se chamasse Raisa. Para a minha alegria, foi exatamente o que aconteceu. No dia 01/07/2011 realizei o meu maior sonho: Raisa veio ao mundo e só quem passou por isso sabe a emoção que sentimos. Naquele dia, peguei a mãozinha dela ainda na sala de parto e falei: “filha, agora o papai vai cuidar de você”. Disse isso sem ao menos imaginar o que aconteceria dois anos e quatro meses depois do seu nascimento.

Em novembro de 2013, a vida nos surpreendeu. Tati sofreu um acidente de carro e morreu na hora (detalhe: ela estava grávida de dois meses, esperando o nosso segundo bebê). Antes de tudo, preciso ressaltar e dizer para vocês que ela era uma mãezona, estava sempre presente, dando atenção e brincando com a nossa filha. Buscamos educá-la com equilíbrio, sem mimar demais. Creio que Deus já estava preparando tudo, pois Raisa dormia no quarto dela sozinha desde muito novinha, começou a andar com 11 meses e desfraldou quando tinha 1 ano e 8 meses. Com isso, quando a Tati faleceu a Raisa já era uma criança mais independente, que não demandava tantos cuidados constantes quanto um bebê.

De novembro de 2013 para cá, nossa vida tomou um novo rumo e mudou completamente. Depois do acidente, eu decidi que ficaria com a minha filha e que moraríamos apenas eu e ela. Para mim, já estava certo: eu faria tudo o que pudesse para que ela crescesse feliz e saudável. Então, aprendi muitas coisas: a diferenciar o que era uma xuxinha e uma piranha, a combinar roupinhas, a fazer rabo de cavalo, a ler as bulas de todos os remédios, a ler a agenda da escola todos os dias, a brincar de casinha… Ah, e claro, também aprendi quem era a Barbie, o Ken, a Peppa, a Galinha Pintadinha, cada personagem na sua fase – hoje estamos na do Carrossel. Enfim, eu aprendi que a vida tinha que seguir e que essa atitude dependia somente de mim. Compreendi o quanto é bom estarmos com nossos filhos, com a família e o quanto isso faz diferença no nosso dia a dia.

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Foi nesse momento que surgiu o blog O Diário da Raisinha, feito para compartilhar com as pessoas os desafios que enfrentamos. Uma das coisas que mais me motivou a criá-lo foi o fato de que encontrei pouquíssimo conteúdo na Internet sobre a viuvez masculina precoce e, também, sobre pais que moram com os seus filhos, assumindo todas as responsabilidades e fazendo o papel de “PÃE” (pai e mãe). Graças a Deus, tenho recebido um ótimo retorno e o blog vem ajudando milhares de pessoas que não só passam pelo que eu passei, mas também por outras dificuldades.

Confesso que toda essa repercussão me surpreendeu e foi aí que eu tive a ideia de fazer um projeto fotográfico exatamente um ano após a morte da Tati. Em 2009, antes do nosso casamento, tínhamos feito algumas fotos em estúdio. Resolvi reproduzir esse mesmo ensaio com a Raisa. Os sapatos e bijuterias que ela usou são os mesmos que a Tati tinha vestido. Já as roupas, tentei buscar o mais próximo que consegui e o nosso cachorrinho, Raul, ainda é o mesmo. O resultado ficou tão bonito que o vídeo do ensaio viralizou recentemente na Internet e o retorno das pessoas tem sido muito positivo. Com ele, espero que quem assista perceba que não é necessário acontecer algo como a que ocorreu conosco para homenagear a mamãe ou o papai.

Silvinha Maciel/Raiz Fotografia
Silvinha Maciel/Raiz Fotografia ()

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Quero ressaltar que o objetivo desse projeto é que a Raisinha tenha uma recordação da mamãe, do amor entre mãe e filha, pois como ela era muito novinha quando a Tati se foi, é normal que os momentos junto dela começassem se a apagar da memória… Porém, deixo claro que, hoje em dia, a Raisa não vê essas fotos o tempo todo – muito menos pede para ficar assistindo ao vídeo sempre. A intenção é que ela entre em contato com tudo isso quando estiver mais velha e puder entender melhor as coisas.

Com tudo o que aconteceu, também aprendi a organizar melhor o meu tempo e entendi que o essencial mesmo é a qualidade, não a quantidade. Devido a algumas mudanças, atualmente consigo ter um tempo mais flexível, que me permite acompanhar a minha filha de perto, levá-la aos seus compromissos, ao médico, ao dentistas, comparecer às reuniões da escola e suas apresentações… Tudo é uma questão de atitude, de esquematizar melhor a rotina. Uma dica que eu dou para os pais e mães que estão lendo esse relato é que eles não deixem de lado o que é importante pelo que é urgente. Nossos filhos irão crescer, por isso, devemos aproveitá-los o máximo que pudermos.

Durante esses quase dois anos em que estamos sem a Tati, passamos por muitas provações. Confesso que muitas vezes chorei depois que a Raisa dormiu, pois tinha muitas dúvidas – não sabia se conseguiria dar conta de tudo, se seria capaz. Porém, me apeguei muito a Deus e ele sempre me mostrou por onde eu deveria seguir e de que forma deveria agir. Nesse meio tempo, a Raisa ficou muito carente. Houve uma época em que ela encontrava alguém e a primeira coisa que perguntava era: “onde está a sua mãe?”. A intenção dela era saber se só a mamãe dela morava no céu e, como questionava todo mundo sobre isso, algumas vezes ela recebia a seguinte resposta: “a minha também mora no céu, junto com a sua”. Isso a ajudou muito!

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Eu também sempre contei muito com o apoio dos meus pais e da família da Tati. Até hoje, cada decisão que eu tomo é apoiada por eles. Agradeço muito a todos por terem confiado em mim.

Hoje as coisas se acalmaram, estamos felizes e caminhando juntos. Inclusive estou recomeçando e retomando a minha vida amorosa. Estou namorando uma pessoa muito especial, que tenho certeza de que foi enviada por Deus para trazer uma vida nova para mim e para a minha filha. Raisinha a chama de “mamãe”, não teve como impedir. Na verdade, eu nem tentei porque isso aconteceu naturalmente e, no fundo, eu acho lindo vê-la pronunciando essa palavra. Só eu sei o quanto ela queria isso – afinal todos os seus amiguinhos o fazem, porque ela não?

Por fim, quero deixar uma mensagem para todos os papais nesse dia tão especial, parabenizar cada um de vocês que cumprem esse papel de forma exemplar com os seus filhos, afinal, nós somos o espelho deles. Tenham tempo para brincar com as suas crianças, para ouvi-las. Não façam tudo o que elas querem, não deem tudo o que eles pedem porque o presente mais importante é a sua presença. Saber dizer não para os nossos filhos também é uma forma de amá-los, pois o mundo dirá isso em diversos momentos e eles precisam saber lidar com as frustrações. Brinquedos quebram, presentes acabam, mas os momentos que temos com os nossos pequenos ficarão guardados para sempre. Lembrem-se: uma atitude muda toda uma história. Feliz Dia dos Pais!”

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