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Minha jornada como mãe solteira

Ao descobrir a gravidez, algumas mulheres não recebem o apoio dos parceiros. Confira o relato de uma mãe que vivenciou isso.

Por Luísa Massa
Atualizado em 22 out 2016, 22h33 - Publicado em 25 Maio 2015, 07h43

Pâmela Ghilardi, 24 anos, é mãe do Lucca, de 2 anos e 7 meses, e idealizadora do blog Fofoca de Mãe. Aqui, ela conta como uma gestação não planejada mudou a sua vida e os desafios que enfrenta por ser mãe solteira. Veja!

“Quando você se torna mãe inesperadamente, você começa a viver um novo mundo. Isso assusta porque apesar de um filho sempre trazer muitas coisas boas com a sua chegada, você não tinha planejado e se preparado para ser mãe naquele momento. Comigo foi exatamente assim: um grande susto mudou completamente os meus planos e a minha vida.

Eu sempre fui uma pessoa que gostava de namorar. Desde muito nova, tive namoros sérios e longos. Com o término de um deles, percebi que eu precisava ficar sozinha para me conhecer um pouco melhor. Como não estava com ninguém e também não estava procurando um parceiro, deixei de me cuidar. Conheci o pai do Lucca em uma festa, ficamos juntos por alguns meses e tivemos relação sexual sem proteção – foi então que uma reviravolta começou.

Descobrir que eu tinha engravidado de uma pessoa que conhecia há poucos meses não foi nada fácil. Eu estava sem coragem para realizar o teste de farmácia, mas uma amiga minha me incentivou a ir para a casa dela fazer. Não levou nem cinco segundos para sair o resultado: sim, eu estava grávida. Confesso que pensei em cometer uma loucura – e isso me dói profundamente hoje – até porque meus pais tinham se separado há pouco tempo e eu sabia que não podia decepcioná-los naquele momento difícil.

Conversei com o pai do meu filho e fomos atrás da forma mais “segura” para que o aborto fosse feito. Eu estava com muito medo, mas não conseguia enxergar outra saída para aquele “problema”. Foi nesse momento que os meus pais descobriram a gravidez. Meu pai, que era com quem eu estava morando na época, não olhava mais nos meus olhos – ele estava completamente decepcionado comigo e tinha toda razão. Contei para o pai do Lucca que eu não faria mais o aborto, ele me xingou bastante e ficou um bom tempo sem me procurar.

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Voltei a morar com a minha mãe e depois de alguns dias, meus pais vieram conversar comigo e dizer que eles estavam do meu lado, que por mais assustada que eu estivesse, eles estariam comigo naquele momento! Isso foi o que me deu forças para seguir adiante. A gravidez foi bem difícil. Aceitar que eu estava grávida e que toda a minha vida mudaria inesperadamente foi complicado. Mas, aos poucos, o sentimento maternal começou a nascer e a alegria passou a preencher o meu coração aflito.

Na reta final da gestação, o pai do meu filho me procurou para saber como estavam as coisas. Resolvemos as pendências financeiras, eu o convidei para assistir o parto do Lucca e ele disse que iria pensar. Com 34 semanas, entrei em trabalho de parto prematuro, por isso, tive que ficar em repouso absoluto por 15 dias. Quando esse período de licença estava terminando, minha bolsa estourou. Foi um susto! O Lucca estava com pressa e não queria mais esperar. Logo que cheguei ao hospital, mandei mensagem para o pai dizendo qual seria o horário estimulado do parto. Eu queria que ele participasse desse momento para que começasse a ter um vínculo com o filho. 

Foram mais de 8 horas de contrações, sem nenhum avanço de dilatação. A cesárea foi marcada e decidimos que a minha mãe entraria comigo, já que o pai do Lucca  ainda não tinha aparecido. Quando estava me preparando para o procedimento, ele chegou. Por incrível que pareça, ele se mostrou preocupado comigo e assim que o pequeno nasceu, ele caiu em choro. Meu coração dizia que eu tinha feito a coisa certa! Por umas três semanas tudo foi uma grande alegria, o pai do Lucca queria participar de todos os processos, mas depois de uma discussão que tivemos, ele resolveu se afastar e não manter contato conosco.

Foi aí que a minha jornada como mãe solteira começou de verdade. Posso dizer que essa não foi uma das tarefas mais fáceis que vivenciei, mas com o tempo, fui me adaptando à situação. Morei na casa dos meus pais até o primeiro ano de vida do Lucca. Depois disso, conquistei o meu próprio cantinho. Confesso que eu estava com muito medo dessa mudança, pois ainda não sou financeiramente estável e não sabia se conseguiria cuidar de um filho pequeno sozinha. Mas criei coragem, bati no peito mais uma vez e encarei a situação. Nossa casa é simples, sem luxos, mas dentro do nosso lar há muito amor e companheirismo.

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O Lucca veio para iluminar a minha vida. Nós dois sempre fomos muito próximos e apegados, depois que fomos morar juntos nossa relação se fortaleceu ainda mais. Nossa rotina é bem corrida: acordamos cedo, eu o levo para a escola (onde ele fica o dia todo), vou para o trabalho e o final da tarde o busco. É aí que começa a loucura – preparo a janta com ele requisitando a minha atenção, dou comida, brinco com ele e o coloco no banho. Enquanto ele fica brincando no banho, saio correndo para lavar as louças, recolher os brinquedos, colocar as roupas na máquina de lavar e preparar sua cama. Depois disso, o levo para dormir e conto uma história.

Essa é a nossa dinâmica durante semana. Pode ser uma loucura, pode ser cansativo, mas nada é mais recompensador do que isso. Somos nós dois juntos, nutrindo a nossa relação com muito carinho e cumplicidade. Essa é a minha família: pequena, mas cheia de amor. Ser mãe me mudou como pessoa, hoje, sou alguém muito melhor graças ao meu filho. Todos os dias eu luto para que nada falte ao pequeno e o que me faz feliz é estar perto dele!

Depois quase dois anos, o pai do Lucca quis se reaproximar e pediu a regularização da guarda. No começo, foi muito difícil aceitar essa decisão, mas pedi que Deus me iluminasse e me mostrasse o caminho certo. Apesar de ter várias figuras masculinas na sua vida, o meu filho merece ter contato com o pai. Ter um pai presente é essencial para qualquer criança. Hoje, ele passa alguns finais de semana com o pai e por mais que as nossas despedidas sejam tristes, que o Lucca chore ao me ver indo embora, sei que ele está feliz, que está sendo bem cuidado e amado. 

Sei também que eu não sou a melhor mãe do mundo – algumas vezes deixo o meu filho dormir sem banho, finjo que não percebi que ele descobriu o esconderijo de chocolates ou então que fique assistindo desenhos por mais tempo do que deveria. Mas sou muito feliz e tenho orgulho de ser mãe solteira. Também consigo ver o lado bom dessa situação: na maior parte do tempo, o Lucca está comigo e é de mim que ele vai ter as melhores lembranças da infância. Além disso, quando o pequeno está no pai, tenho oportunidade de ter um tempo para mim, fazer coisas que me agradam, ficar com o meu namorado, descansar e dormir – apesar de ficar contando os minutos para a chegada do Lucca, para vê-lo vindo ao meu encontro com os olhos brilhando de felicidade!

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Por fim, o conselho que eu dou para as mães solteiras é que elas sejam firmes e sigam os seus corações. Sabemos que não é fácil dar conta de tudo, não podemos dividir as tarefas com um parceiro, nem mesmo dizer “fica com ele para que eu possa ir ao banheiro”. Sem falar também no preconceito e julgamentos que enfrentamos (se saímos sem os pequenos somos desnaturadas, se vamos a balada é porque não nos preocupamos com eles, se arrumamos namorados, vamos esquecer que os filhotes existem). Mas sejam fortes, confiem na educação que vocês estão dando para os seus filhos porque nada é mais recompensador do que ser mãe! Se eu pudesse voltar atrás, não mudaria em nada o meu status – mesmo porque um amor infinito cresce dentro de mim todos os dias, a cada sorriso do Lucca.”

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