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“Já fui julgada pela minha escolha de parto”

Veja a reflexão que essa mãe fez sobre as críticas que as mulheres recebem após a chegada dos filhos e que, muitas vezes, surgem exatamente de outras mães.

Por Da Redação
14 Maio 2017, 07h12

Daniela Graicar, é empresária, mãe do Caio, de 13 anos, e dos gêmeos Theo e Thomas, de 6. Ela passou por dois tipos de parto: o normal e a cesárea. E acabou recebendo críticas no nascimento dos caçulas. Foi pensando nisso e analisando como as mães são avaliadas por qualquer decisão que tomam em relação à criação dos filhos, à forma como conduzem suas famílias, que ela teve a iniciativa de criar o movimento #JaFuiJulgada. Aqui, ela relata como foi a chegada de seus pequenos e fala sobre essa falta de empatia que existe no universo da maternidade. Confira:

“Eu já tinha vivido o prazer de ser mãe. Caio estava com sete anos e trazia consigo a história do meu primeiro casamento e uma meiguice que me dava a certeza de que eu queria mais filhos, para poder preencher a casa e a minha vida. Em 2010, quando me casei de novo, meu marido Marcio logo se alinhou ao meu sonho. Ele sempre quis ser pai, amava crianças e resolvemos acelerar. Pronto! E em menos de um mês de casados eu estava grávida. Estava naquela torcida louca e enrustida por uma menina, que formaria um casalzinho, como a maior parte das mães sonha.

Chegou o dia do primeiro ultrassom, aquela tensão no ar (no meu ar) e ao olhar a tela, a médica disse: ‘Você está entendendo o que eu to vendo, Dani?’. Meu marido, com zero de experiência no assunto, comentou: ‘Só vejo dois olhos’. Não eram olhos, eram dois bebês e eu tinha entendido bem!

Minha primeira reflexão foi péssima e egoísta: se eu já tinha engordado 30 quilos na gestação de um filho, será que agora iria engordar 60? Eu mal dou conta de um, como cuidarei de três? E se vierem dois meninos e nenhuma menina? Será que eu poderei jogar tênis na gestação?

Em uma semana, tudo mudou. Aquelas perguntas fúteis já não me importunavam mais e eu só me imaginava mãe de gêmeos, procurava os melhores carrinhos, pensava na disposição do quarto, lia atentamente os blogs de mães de gêmeos e, claro, trabalhava, trabalhava, trabalhava. Tenho uma agência de comunicação desde os vinte anos de idade e essa paixão pelo trabalho é minha essência e realização como profissional.

Quinze dias depois, o primeiro retorno à médica foi péssimo: ‘Daniela, sinto muito, mas apenas um dos embriões se desenvolveu, o outro, seu corpo deve…”. O resto, eu nem ouvi. Como assim? Eu queria dois, eu tinha dois, eu preciso de dois, eu mereço dois! Passei o dia muda, triste. Logo eu que nem tinha me animado com a ideia de gêmeos no começo…

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A única coisa que me veio à cabeça foi fazer uma promessa (odeio promessas): ‘Enquanto houver dois bebês aqui dentro, não como chocolate’. Chocolate é outra das minhas paixões!

Dez dias depois, sem chocolate, sem tênis e cheia de esperança, retornei à médica. O tempo passava lentamente até que eu fui surpreendida por uma imagem linda: os dois embriões estavam do mesmo tamanho e maiores! Era um presente e foi assim que eu escolhi o nome para o bebê. Eu, não! Meu filho Caio, o mais velho, disse que os irmãozinhos se chamariam Thomas e Theo, sendo que Theo significa presente de Deus. A essa altura, eu já tinha até esquecido o sonho de ter uma menininha – nasci pra ser mãe de meninos e estava bem feliz com isso!

(Daniela Graicar/Arquivo Pessoal)

Semanas depois eles seguiam firme como eu, na correria do trabalho e da família. Quando completei a 38ª semana de gestação, enquanto montava o carrinho duplo, a bolsa estourou. Eu, calma, mãe de segunda viagem, fui jantar, tomar banho e me arrumar, enquanto meu marido arrumava a malinha dele, assustado e animado. ‘Isso significa que eles chegam hoje, Dani?’. Sim! Era isso mesmo!

No hospital, as contrações me lembravam do primeiro parto. Aliás, só mesmo uma mãe para esquecer as 18 horas de trabalho de parto mais longas e doloridas da minha vida que trouxeram Caio ao mundo. Não, eu não poderia passar por isso de novo! ‘Quero cesárea’, eu gritei bem alto, para não deixar dúvidas. ‘Quero anestesia, quero que nasçam logo, não quero sentir dor’. Foi aí que começaram os julgamentos: ‘Dani, tanta gente querendo gêmeos de parto normal… Quer tentar?’. E eu só pensava: ‘Não, eu não quero tentar nada!’. Minha escolha foi atendida e em cinco minutos os gêmeos nasceram – lindos, fortes, com mais de três quilos cada!

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Era um dia de êxtase! A vida mudara para sempre. E eu era uma orgulhosa mãe de três.

Ao chegar da maternidade, deixei os bebês com a enfermeira nova e fui almoçar fora com meu marido, a barriga ainda puxando por conta da cicatriz, mas aquela era, pra mim, uma demonstração de que a vida não iria desacelerar, eu precisava sair, me arrumar, confiar. Sim, sou uma mãe prática, dessas que resolve as coisas das crianças sem reclamar, que amamentou dois ao mesmo tempo pra poder, justamente, ter tempo; que ouve atentamente as críticas construtivas, mas que não aceita julgamentos de outras mães que não conseguem se colocar no meu lugar.

Não me considero uma mãe pior ou melhor que as outras e sei o esforço hercúleo que faço para, em meio à rotina corrida e desafiadora, encontrar tempo para longas conversas com meus rapazes, acompanhar seu crescimento, ver a lição de casa, estudar junto, torcer no futebol e me emocionar com cada nova conquista.

Outro dia, conversando com mães da agência, percebemos como as mães são cheias de julgamentos em relação às outras. Exercitar a empatia e calçar o sapato alheio incomoda demais e é mais fácil julgar. Foi pensando nisso que criamos o movimento #jafuijulgada. Nossa missão é compartilhar histórias de mães que se sentiram julgadas por outras mães e pelas pessoas em geral. Tem feito um bem enorme provocar a consciência de que não há um jeito certo de exercer a maternidade. Somos pessoas muito diferentes em sonhos, criação, valores, mas precisamos, juntas, valorizar nosso principal papel nessa vida: o de ser mãe!”

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