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Furar a orelha do bebê ou não, eis a questão

O assunto gera polêmica e opiniões acaloradas. Saiba o que dizem os especialistas sobre o ato de colocar brincos nos bebês.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 6 set 2019, 17h10 - Publicado em 6 set 2019, 16h56

Furar a orelha das meninas logo que elas nascem sempre foi um hábito comum no Brasil. Mas, com o aumento das discussões sobre gênero e o impacto negativo de seus estereótipos, o comportamento passou a ser questionado. Afinal, o brinco seria uma imposição de gênero ou desrespeito ao direito de escolha da criança?

O assunto é complexo. “É normal que os desejos dos pais para a vida dos filhos reflitam nas escolhas que eles tomam no início da vida”, comenta Bruno Jardini Mader, psicólogo do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). “No caso do brinco, há uma visão de feminilidade, de apresentar essa filha como menina à sociedade”, explica o psicólogo.

Para o especialista, não há um grande problema em fazer o furo se os pais assim o desejarem. “É claro que em determinado momento os pais escolhem pelos filhos, pois não há a possibilidade deles mesmos o fazerem – o quarto, o nome, as roupas”, comenta Mader. “E eles não devem se sentir culpados nem serem julgados por isso”, continua. O mesmo vale para quem opta em não furar a orelha do bebê. 

E a autonomia infantil?

Por volta dos três anos, quando a criança passa a expressar suas vontades, deve ser respeitada caso não deseje mais usar o brinco. “A escolha da estética, do que gosta e não gosta de usar é, em certa medida, um direito dela”, explica Mader. O ideal é que os pais incentivem e respeitem a vontade própria dos pequenos. Se ela for coibida ou desestimulada, aí sim pode haver imposição de gênero. Vale lembrar que usar ou não a peça não determina nada, além da personalidade da criança. 

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“O problema não é colocar o brinco, mas sim só permitir que a criança brinque com brinquedos ‘de menina’, use rosa, e por aí vai, pois essa arbitrariedade é negativa para o desenvolvimento infantil”, destaca o psicólogo. Mesmo que a criança, mais tarde, se sinta desconfortável com o próprio gênero (uma situação que já abordamos aqui), o brinco será apenas parte de um quebra-cabeças mais amplo, com sinais de desconforto para além da orelha.

É seguro?

Não há contraindicações médicas para o furo. “Creio que devemos dar oportunidade para as crianças escolherem quando forem mais velhas, mas essa é uma questão cultural brasileira, então a família pode ficar à vontade para decidir”, opina Samir Kassar, pediatra do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Quem pode fazer?

A prática é considerada segura, desde que sejam respeitados alguns cuidados, pois é uma perfuração, que pode abrir a porta para a entrada de bactérias e causar reações como inflamação – as complicações são raras, vale esclarecer. “O procedimento deve ser feito em local totalmente esterilizado, com materiais descartáveis, por um profissional experiente e fora do ambiente hospitalar, onde há maior risco de infecção”, ensina Kassar. Médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem costumam oferecer o serviço em casa. E o ideal, claro, é sempre consultar o pediatra da criança antes do furo, ok?

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