Uma menina de 7 anos teve uma parada cardíaca no último fim de semana enquanto inalava desodorante do tipo aerossol. Segundo os pais, a pequena Adrielly Gonçalves tentava imitar vídeos do “desafio do desodorante”, em que adolescentes testam quem consegue aguentar o maior tempo possível após aspirar o produto.
A garotinha chegou a ser levada pela família para a Unidade de Pronto Atendimento em São Bernardo do Campo (SP), onde morava com os pais, mas os médicos não conseguiram reanimá-la e ela faleceu na madrugada do sábado, 03.
“Ela, criança inocente, colocou o desodorante direto na boca e desmaiou, tendo parada cardíaca em sequência”, relatou uma amiga da mãe de Adrielly em postagem feita no Facebook, que alcançou mais de 17 mil compartilhamentos. A mulher fez um alerta sobre o tal desafio, que é visto como brincadeira pelos pequenos.
Agora, os pais também querem conscientizar outras famílias sobre a importância de acompanhar a presença das crianças na internet.
A menina teve a vida interrompida na semana do Dia da Internet Segura, criado justamente para conscientizar e educar a sociedade sobre o uso consciente da internet. A ideia é proteger crianças, adultos e idosos de ameaças como o bullying, discursos de ódio, assédio e outros perigos.
No caso dos baixinhos, o principal risco está no uso da internet não monitorado ou sem orientação. “A criança tem curiosidade de descobrir o mundo, mas ainda não sabe discernir o certo do errado, os pais devem ensinar”, explica Evelyn Eisenstein, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), participante do evento organizado pela ONG Safer Net, em São Paulo, para celebrar a data.
Nesse sentido, quanto mais novo, mais importante é o acompanhamento. “Aos sete anos, a criança não tem noção de limites, então fica muito animada pela recompensa do desafio”, explica Clay Brites, pediatra e neuropediatra do Instituto NeuroSaber, em Londrina. “E como o desodorante é uma coisa que se usa em casa, ela não imagina que aquilo fará mal”, completa o médico.
Apesar de realmente não fazer mal quando aplicado na pele, há consequências se o produto é ingerido. “Em maior quantidade, as substâncias podem desencadear reações alérgicas, crises asmáticas e em altíssimas doses até alterar o ritmo cardíaco, provocando uma parada”, alerta Brites.
Além do desafio que vitimou Adrielly, há outros vídeos em redes sociais mostrando o “congelamento” de partes do corpo com desodorante, ato que pode provocar queimaduras na pele e lesões. “E o desodorante é só uma de uma série de desafios perigosos para os quais temos alertado há anos, como os que convidam as crianças a inalar talco e canela, que também podem fazer mal”, continua a pediatra da SBP.
Rede segura
O assunto merece cautela, mas não dá para fugir da internet, isso é certo. “Temos que alertar para a supervisão e o monitoramento constante das atividades dos filhos. A internet é como a rua, um espaço público, e não dá para deixar o filho sozinho sem orientação na rua”, compara Evelyn.
Não adianta também apenas vigiar o histórico ou reclamar do comportamento. É preciso ensinar desde cedo sobre proteção da privacidade e conversar francamente sobre estes temas para, caso um dia o filho passe por uma situação estranha, sinta-se à vontade para falar sobre o assunto com você.
E impor limites, claro. “Para as redes sociais, a recomendação é que a criança só tenha seu perfil próprio depois dos 13 anos”, diz a especialista da SBP. Para saber mais, vale pesquisar o site da SaferNet, que disponibiliza vários conteúdos educativos sobre o assunto, tanto para os adultos quanto materiais voltados especialmente aos jovens e crianças.