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“Como me preparei para um parto normal após uma cesárea”

Confira o depoimento de Mariana Bonnás, que buscou na auto-hipnose uma forma de lidar com a dor.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
26 dez 2016, 09h02

Depois de crescer ouvindo que o parto era a “pior dor do mundo”, Mariana Bonnás, do blog Vida de Gestante e Mãe, optou pela cesárea na gestação do primeiro filho sem hesitar. Depois, na segunda gravidez, a psicóloga das mães e palestrante de 31 anos decidiu que era hora de tentar o parto normal. Para lidar com a dor – uma questão séria para ela – a mão do Vítor e da Mariah buscou ajuda na auto-hipnose e compartilha aqui a sua história.

“Desde pequena eu ouvia coisas horríveis sobre a dor do parto normal e, por isso, nem cogitava ter um. Para mim, a cesárea era como uma evolução do parto normal e, já que eu não tinha medo de cirurgia, estava tudo certo. Engravidei do meu primeiro filho e, apesar de algumas pessoas tentarem me falar o contrário, eu não tinha dúvidas sobre fazer uma cesárea. Meu médico, cesarista, achou isso ótimo e com 38 semanas de gestação disse que meu filho, Vítor, já poderia nascer.

Então, marcamos a cirurgia para dois dias depois e tudo correu bem, mas não sei porque, no momento em que o vi pela primeira vez me deu a sensação de que não era hora dele nascer. Fiquei com isso na cabeça um tempão e, por conta do blog, sempre recebi diversos relatos de partos normais e também de cesáreas que me faziam pensar no assunto. Quase dois anos depois, eu estava grávida novamente e decidida a fazer diferente.

A primeira coisa que pensei foi que eu precisaria ler e me informar sobre os partos, pois não dava para ficar de novo à mercê da decisão de um médico – eu que queria ser a protagonista da minha história dessa vez. Li muito, tudo que podia e comecei a desejar um parto normal. Mas e a dor? Eu que não faço nem escova nos cabelos porque sinto dor não sabia como eu passaria pela ‘pior dor do mundo’. Mais uma vez recorri aos estudos e com ele aprendi que era possível lidar com a dor de forma que ela não ficasse insuportável. Sou psicóloga e já tinha ouvido falar em hipnobirthing, que é uma técnica de hipnose voltada para que as gestantes aprendam a lidar com a dor. Conversei com um amigo da área e ele topou me ensinar tudo sobre o assunto. Comecei a praticar a hipnose com ele, depois a auto-hipnose e os resultados foram surpreendentes! Me lembro que eu tinha cólicas intestinais horrorosas e depois que comecei a praticar nunca mais sofri com isso.

Eu me sentia então realmente preparada para o meu parto. Quando eu estava com 38 semanas de gestação, veio a sugestão do meu marido: ‘Por que não tentamos ter a Mariah em casa?’ Aqui onde eu moro tem uma equipe especializada em partos domiciliares e a obstetra responsável era a que estava acompanhando a minha gestação. Ela disse que daria para tentar numa boa.

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Até então eu não tinha falado para ninguém, mas sempre que eu imaginava minha filha nascendo, eu estava no quarto de casa. Até tentava reprimir essa ideia, mas não tinha jeito, não conseguia imaginá-la nascendo em outro lugar. Por isso topei a ideia do meu marido na hora. Organizamos tudo para o nascimento e ficamos esperando o grande dia chegar! No dia 25 de março de 2014 acordei de madrugada com algumas contrações. De manhã meu marido veio me dar bom dia e eu disse:
– Sabe que dia é hoje?
– Sei, 25 de março. – respondeu ele.
– Não, o dia que você se tornará pai pela segunda vez!

Mariana Bonnás

Claro que ele se preocupou com o que eu estava sentindo, mas eu disse para ficar tranquilo, pois eu estava bem, que qualquer coisa avisaria. Nesse dia meu filho foi passar a manhã na casa dos avós, a tarde ele tinha escola e eu comecei a organizar a casa para a chegada da Mariah. Por volta das 14h, as contrações se intensificaram e eu ficava sempre com a sensação de que poderia não ser a hora ainda. Eu estava extremamente calma e tudo que eu tinha aprendido sobre relaxamento e respiração com a hipnose acontecia automaticamente. Eu não deixava a dor presa no meu corpo, ela entrava e saia, fazendo seu ciclo.

A cada contração eu sabia exatamente o que estava acontecendo comigo e com meu corpo e sabia que a hora de conhecer minha filha se aproximava. Uma amiga que estava comigo pediu para eu avisar a médica da frequência das minhas contrações que já estavam bem ritmadas. Eram 17h quando a doula e minha médica chegaram. Eu já não tinha muita noção de tempo e comentei com a minha médica que parecia que eu estava fora de mim. Foi quando ela respondeu ‘não Mari, ao contrário, você está dentro de você!’ que eu entendi o quão intenso era tudo aquilo que eu estava vivendo.

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A Mariah ia nascer e nós duas é que estávamos fazendo tudo acontecer. Eu estava na minha casa, cercada de pessoas queridas e realizando o sonho de ser a protagonista do meu parto! Fiquei o tempo todo falando baixinho e de olhos fechados, apenas sentindo e me conectando com a minha filha. Músicas que eu escolhi tocavam pelo apartamento e me tranquilizam. Como era bom estar ali!

Eram quase 20h quando minha médica disse que iria para casa tomar um banho, mas que logo voltava. As dores eram intensas e eu sabia que estava perto do fim, mesmo assim me calei. Uns 15 minutos depois eu senti minha filha descer e eu sabia, virei para a doula, que também é enfermeira e falei:
– Se ela nascer, você sabe pegar?
– Sim, sei. – ela respondeu.
– Ela está nascendo!

Só ouvi os passos rápidos da doula enquanto pedia para meu marido ficar comigo. Logo ela voltou dizendo que tinha comunicado a médica e que ela já estava retornando. As dores intensas dos últimos 20 minutos tinham ido embora e agora só sentia vontade de fazer força. ‘Vem filha, está na hora de nascer!’ eu pensei diversas vezes enquanto sentia ela descendo mais. A médica chegou a tempo de colocar as luvas e acolhê-la. Às 20h25 ela nasceu, no mesmo momento em que meu marido disse ‘Amor, olha a música que está tocando!’. Era ‘…não sei se a igreja subiu ou se o céu desceu, só sei que está cheio de anjos de Deus, porque o próprio Deus está aqui!’(Padre Marcelo Rossi – Anjos de Deus). E era exatamente como eu me sentia naquele momento, com muita paz e amor ao meu redor!

Assim que ela nasceu, a peguei no colo e foi difícil acreditar em tudo que eu estava vivendo. Olhava para ela tentando assimilar tudo e meu marido repetindo sem parar que eu tinha conseguido. Sim, eu consegui!!! Passei pelo medo, pela dor e pude me tornar mãe pela segunda vez, da forma mais sublime e intensa que poderia ser! A menina que não aguentava sentir dor tinha parido sua filha e se deixado viver a maior e mais linda experiência de sua vida!”

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