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“Como foi perder meu filho aos 8 meses de gestação”

Conheça a história dessa mãe que passou por uma triste perda, mas depois construiu uma família linda e hoje ajuda outras mulheres a lidar com a dor.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
31 out 2016, 19h01

Depois do susto de se descobrir com endometriose, a psicóloga Carol Oliva, atualmente com 30 anos, passou por uma gestação aparentemente normal até o oitavo mês, quando, num exame de rotina, recebeu a notícia de que havia perdido o seu bebê. Hoje, com uma família linda, Carol procura ajudar outras mulheres a superar a dor do aborto. Emocione-se com essa história!

“Em maio de 2012, procurei minha ginecologista para fazer um exame de rotina, desses que se faz todo ano, e relatei que eu sentia muitas dores no período menstrual, principalmente ao evacuar. E não era uma dor comum, era uma dor horrível, como se estivesse contorcendo tudo lá dentro. No mesmo momento, a médica me disse que aquilo não era normal e me entregou algumas guias de exames para investigar um possível diagnóstico de endometriose.

Saí do consultório numa tristeza que não cabia em mim. Eu não estava programando uma gravidez naquele momento, mas o sonho de ser mãe sempre foi latente e muito em breve eu sabia que planejaria ter um filho. Estava com quase dois anos de casada e pensar que eu poderia ter que lidar com a infertilidade me doía a alma.

A médica pediu para que eu parasse com o anticoncepcional que eu tomava, pois ele poderia alterar o resultado dos exames e a probabilidade de uma gravidez era muito pequena. Na época, eu usava o anel vaginal e ela disse para eu ‘relaxar’, me assegurando de que na hora certa eu teria meu filho. Mas, por um milagre de Deus, depois de um mês eu já estava grávida! Engravidei com a endometriose, no primeiro ciclo após parar com o anticoncepcional. Foi um misto de sentimentos tão incrível!

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Durante a gravidez, estava indo tudo muito bem – aparentemente! O João era espertinho na barriga e eu estava radiante, era tudo muito perfeito. Eu queria muito ter um parto normal/natural. Inclusive mudei para outro obstetra especializado em trazer ao mundo bebês ‘quando eles quisessem nascer’, bem naturalista mesmo, e eu me sentia em casa com aquilo tudo. Eu acreditava no meu corpo e na natureza. Queria o parto sem nenhuma intervenção, de preferência sem analgesia – era essa minha vontade.

Mas me lembro bem de um dia em que eu estava muito, mas muito inchada mesmo e meu médico disse ser normal, pois fazia muito calor e eu estava em uma cidade muito quente de Minas Gerais. Mas não era normal, já era meu corpo dando alguns sinais de que algo não estava bem…

Foi no dia 1º de abril de 2013, com 34 semanas de gravidez, que eu fui até a clínica fazer mais um ultrassom de rotina do João, meu primeiro filho, meu menininho tão amado e desejado. Estava na reta final e a ansiedade era demais para tê-lo em meus braços. Porém, dessa vez, algo me dizia que não estava tudo bem. Eu senti que seus movimentos haviam diminuído, mas em momento nenhum pensei no pior. Eu até tinha pensado em fazer um ultrassom dois dias antes, enquanto ele ainda se mexia. Pouco, mas mexia. Porém, era feriado de Semana Santa e eu já tinha marcado o exame para dali a dois dias e, mais uma vez, eu jamais acreditaria que o pior pudesse acontecer comigo. Passou pela minha cabeça que ele pudesse estar muito grande e o espaço menor, por isso que as mexidinhas tinham diminuído.

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No caminho, senti meu coração acelerar, sentia minhas pernas inquietas. O ultrassonografista atrasou muito e isso só fez aumentar minha ansiedade. Chegou minha vez. Deitei na cama, coloquei o barrigão para fora e nada. Só silêncio. O médico perguntou se eu estava sentindo ele mexer menos, ou se eu havia perdido líquido, o que não tinha acontecido. Então ele disse que eu estava com líquido zero, que era impossível mensurar.

Eu, que estava preparada para um parto natural, disse que não teria problema, que iria para a maternidade dali, ‘vamos partir para a cesárea, vamos tirar, vai nascer de 8 meses, como eu nasci!’. Mas já não importava mais a via de parto. Olhei para o meu marido e ele já estava pálido quando o ultrassonografista, com o tom mais doce e ao mesmo tempo mais triste possível, disse: “Não, mãe, não tem mais batimentos cardíacos”. Eu perdi minhas pernas, perdi parte do meu coração que já não batia mais dentro de mim, perdi a luz da minha vida. Eu só queria ir junto!

Saímos de lá e fui para o consultório médico. Me disseram que era melhor induzir o parto por diversas questões. Eu não sabia responder por mim e aceitei, mas só pensava em uma coisa: eu quero ver meu filho! Meu parto foi exatamente como imaginei, tirando a intervenção de ter que induzir. Durou 22 horas desde a primeira indução, lidei com a dor do parto, com a dor no coração e a dor da alma. Senti cada contração, foi exatamente tudo como eu havia ‘estudado’. Cada fase, cada necessidade de sentir meu corpo dizendo que estava vindo para os meus braços meu maior amor do mundo. Porém, eu não tive a premiação de tamanha luta, não ouvi o chorinho mais lindo que toda mãe quer ouvir quando dá à luz seu filho.

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Vivemos todo o ritual do parto, eu e meu esposo, que esteve o tempo todo ao meu lado. Peguei meu filho nos braços, ele também pegou, o chamamos pelo nome escolhido pelo seu significado: João, o enviado de Deus. Escolhi sua primeira roupinha, vi cada parte do seu corpinho, aquela carinha linda, redondinha, a boquinha miúda, meu branquelinho dos cabelos pretos, com pés e mãos grandonas iguais às do papai. O mais lindo de tudo é que ele conseguiu acalmar nossos corações em um momento de tanta dor, graças a uma paz indescritível que sentimos ao conhecê-lo. Um verdadeiro anjo que dormia em meus braços.

Tirei uma foto dele para guardar de recordação. Era meu filho e eu tinha esse direito. Uma tia/avó/madrinha fez seu batismo simbólico e fizemos seu enterro sem velório, pois, para mim, não se vela um anjo. E me despedi. Eu nunca, nunca vou esquecer meu primeiro amor incondicional, nunca vou entender de fato porque eu precisava passar por isso, mas essa é a única coisa que não importa mais. O que importa é que eu sempre falei e irei falar sobre meu primeiro filho e que, mesmo após tanta dor, eu consigo ser grata por ter vivido pouco, mas um tempo muito feliz com ele! Depois de tanto desespero, resolvi que era hora de me esforçar para parar de chorar. Minha maior motivação para ficar bem era pensar que meu filho vivia na eternidade, que ele estava me vendo chorando e que nenhum filho gosta de ver sua mãe assim.

O médico que me atendia na gravidez do João não queria pesquisar a causa e dizia ser normal uma, duas ou até três perdas na gravidez. Mas não aceitei essa conduta e procurei outra opinião. E, graças a Deus, a nova médica, especialista em gestação de alto risco, me trouxe a possibilidade de investigação para saber o que houve comigo e, após fazer diversos exames, tive o diagnóstico de trombofilia. Minha placenta infartou com uma trombose.

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O parto do João, por ter sido normal, me possibilitava engravidar de três a seis meses depois, segundo a médica, mas engravidei só dois meses após minha perda. Engravidei do Rafael, que hoje está com dois anos e nove meses. Ele crescerá nos ouvindo falar e rezar pelo nosso João e sua alma tão linda! Ele o ama muito também! Costumamos dizer que ele é nosso renascimento, nossa cura (significado do seu nome).

Carol Oliva e família

Fui precipitada em engravidar rápido? Sim, muito! Foi uma gravidez difícil, fiz todo tratamento com injeções de anticoagulante e tive que lidar também com a IIC (insuficiência istimo cervical). Passei a gestação do Rafael quase inteira de repouso absoluto por causa disso. Mas sobrevivi e, o mais importante, meu segundo filho sobreviveu!

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Perder um bebê é como se tirassem sua identidade e você tivesse que reconstruí-la sozinha para a sociedade te ver bem. Quando as pessoas recebem a notícia, a maioria delas fica em silêncio, pois não sabe lidar com o luto. E não saberá tão cedo se não começarmos a falar sobre a morte e sobre nossas dores.

Esse fato foi a minha maior motivação para criar o canal no YouTube e o blog. Sinto que tenho essa missão na minha vida. Quero ajudar mulheres e famílias que passam por isso a lidarem da melhor forma com essa dor. Quero dar voz a essas pessoas. Quero espalhar acolhimento, amor e empatia, pois sinto que é disso que o mundo precisa. Faço isso desde que aprendi o que é sentir o amor incondicional que sinto pelos meus filhos e pela minha família. Agora, a dor não existe mais e que assim seja, eternamente”.

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