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“Como foi descobrir que minha filha nasceria com uma malformação nos membros”

Conheça a história da mãe que soube durante o pré-natal que sua filha teria uma deficiência física e, hoje, celebra cada conquista da pequena.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 26 out 2016, 18h40 - Publicado em 10 out 2016, 16h10

Aos 36 anos, Eliane Rocca é mãe de Ellen, de 15, e Eloísa, uma pequena com 2 anos e 8 meses que inspirou a idealização da página Princesa Eloísa, no Facebook, onde ela compartilha momentos de superação da caçula que nasceu com uma malformação. Aqui, ela fala sobre os momentos de angústia desde a gravidez e sobre todo aprendizado e amor que essa experiência tem trazido para sua vida.

“Quando a Ellen, minha primeira filha, tinha cerca de 7 anos, eu e meu marido começamos tentar outro bebê. Foram anos de tentativas frustradas, até que resolvi desistir da gravidez – e foi quando a novidade surgiu. Ficamos muitos felizes – eu, meu esposo e nossa filha. Muito felizes mesmo!

Comecei o pré-natal por volta da 6ª semana de gestação. Com 9 semanas, fiz o primeiro ultrassom, com 14, outro e, com 23, fiz o morfológico, que detectou que Eloísa nasceria com malformação nos membros, ou seja, com partes deles faltando. Foi uma notícia bem difícil de ouvir, nenhuma mãe está preparada para esse tipo de informação. O médico não foi nem um pouco sensível e aquele foi o pior dia da minha vida. Chorei, me desesperei, o medo tomou conta de mim. O que seria da minha pequena? Tantas perguntas, tanta insegurança… Não sabíamos o porquê e, na verdade, ainda não sabemos. O médico geneticista ainda não fechou um diagnóstico, mas não temos pressa em saber, pois isso não mudará nossa realidade, já que hoje temos outras prioridades. 

Durante aquela primeira semana, eu não conseguia comer nem dormir, foram dias de muita angústia e aflição. Recebemos apoio de familiares e amigos, o que nos fazia sentir acolhidos, mas o medo ainda persistia. Foram três meses assim, mas depois eu comecei a sentir paz. Eu quis tanto outro bebê e, se era para ela nascer assim, eu a aceitaria e a amaria incondicionalmente. Não importava como seria. Já estava com 8 meses de gestação e só nesse momento comecei os preparativos para receber minha pequena. Eu estava muito feliz por poder conhecê-la, estava ansiosa como qualquer outra mãe. Mas quando ela nasceu, a pediatra constatou que ela tinha também uma malformação anurretal e toda aquela dor voltou. Fiquei com muito medo de perdê-la, pois ela precisou passar por uma cirurgia para fazer uma colostomia e, como na minha cidade não tem cirurgião pediátrico, ela foi transferida para Campinas acompanhada pelo pai, enquanto eu fiquei internada na minha cidade. Dois dias depois tive alta e fui voando pra lá, não me conformava em não tê-la em meus braços, foi terrível. Ela ficou 12 dias na UTI e não podíamos permanecer o tempo todo com ela.

Doía demais – não a cesárea, mas meu coração. Como doía vê-la entubada, cheia de picadas de agulhas… Enquanto estava com ela eu não chorava, não queria que ela sentisse minha tristeza, mas era só sair de perto que eu desabava. Depois, ela foi transferida para uma unidade de cuidados intensivos e aí sim podíamos passar o dia com ela, mas à noite tínhamos que ir embora. Continuava doendo muito vê-la naquela situação, era como se me arrancassem o coração. Eu só queria ter ido para casa assim que ela nasceu, queria que ela sentisse nosso amor. Quando isso finalmente aconteceu, parecia que tínhamos ganhado na loteria! Estávamos tão felizes por poder estar com ela!

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Os meses se passaram e ela teve que passar por outras cirurgias para terminar o processo de reconstrução e, assim como no começo, foram dias muito difíceis. E quando essa fase finalmente passou, ainda tínhamos que enfrentar outras batalhas, pois Eloísa precisava ser protetizada. E quando as próteses ficaram prontas, a Eloísa resistiu muito. Não queria, tinha medo, chorava demais… Mas aos poucos ela foi aceitando e, agora, até pede para colocá-las. Sei que em breve ela finalmente irá dar seus primeiros passinhos e terei mais um dia lindo e emocionante ao vê-la andar.

 

 

Em fevereiro deste ano, fizemos uma página no Facebook para contar o dia a dia dela e para mostrar que ser diferente não é nenhum bicho de sete cabeças. Nossa princesinha é linda do jeito que ela é. E um dos objetivos é justamente mostrar que uma pessoa com deficiência física não é nenhuma coitadinha digna de pena. Muito pelo contrário: são pessoas especiais que merecem respeito e dignidade como qualquer outra. Embora digam que não, ainda existe muito preconceito e meu desejo é que alguém que conheça a história da Eloísa possa mudar seu modo de ver a vida e com ‘pré-conceitos’ que só são preconceitos por falta de informação e por falta de vivências com pessoas com necessidades especiais.

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Cada conquista dela é muito festejada. Ela é persistente e forte, não desiste do que quer e eu aprendo muito com ela. Há três anos, no dia 23/10/2013, eu recebia a notícia que, naquele momento, eu achava que era a pior da minha vida. Eu achava que não aguentaria passar por nenhum tipo de dificuldade, mas hoje me vejo mãe de um princesa que não veio para que eu a ensinasse nada. É ela que me ensina a ser forte. Tenho um orgulho enorme dela. Tenho, sim, meus momentos de dúvidas e incertezas e sei que será assim por toda minha vida, mas o sorriso dela espanta qualquer medo que possa brotar em meu coração. Sei que ainda teremos muitas batalhas a serem vencidas, mas são justamente essas batalhas que nos tornam a pessoa que somos hoje. Cada batalha nos define e hoje minha definição é amor”.

 

 

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