Carta de uma mãe para uma grávida

O que você diria para uma gestante sobre a experiência de ser mãe? Thaís Vilarinho fala sobre como as coisas realmente acontecem na prática.

Por Luísa Massa
Atualizado em 22 out 2016, 20h24 - Publicado em 29 ago 2016, 09h22
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal (/)
Continua após publicidade

Thaís Vilarinho, 37 anos, é mãe do Matheus, de 9 anos, e do Thomás, de 6 anos, fonoaudióloga e idealizadora do Instagram Mãe Fora da Caixa. Aqui, ela fala sobre vários aspectos da maternidade e dedica uma carta às grávidas.

“Olá, minha querida,

A primeira coisa que eu tenho para dizer é: você é muito mais forte do que imagina! Nunca se esqueça disso. Você está aí, prestes a ter o seu bebê, já comprou todos os apetrechos, leu muito a respeito e está ansiosa para tê-lo em seus braços, não é mesmo? Gostaria que, através dessa carta, você pudesse vivenciar a minha experiência: meus erros, acertos, medos e entender como consegui ter alguma segurança nessa tal de maternidade. Além disso, queria poder te dar colo nas horas difíceis e rir com você nos momentos de alegria, mas na vida aprendemos e evoluímos somente com as nossas próprias experiências – não tem outro caminho. Por isso, se com essa carta eu conseguir fazer com que você perceba a força que tem e também entenda um pouco sobre a tão falada maternidade real, já vou me sentir muito feliz.

Queria que você me escutasse, mesmo que eu não seja uma autora de um livro incrível sobre dicas e ensinamentos para mães que já vendeu milhares de exemplares. Gostaria que me ouvisse e me desse crédito, mesmo eu sendo somente uma mãe que gostaria de ter lido isso quando estava grávida. Sinto que já te conheço, que sei exatamente como se sente agora: você anda lendo livros, escutando histórias sobre a maternidade e reparando em mães – naquelas que te inspiram, lógico, mas também naquelas ‘doidas’ que andam com seus filhos dando chiliques. Também sei sobre os seus pensamentos, que são: “Nossa, que mãe é essa que não consegue controlar o próprio filho? Que mulher estressada! Será que ela não leu o livro que eu estou lendo? Aquele que fala tanto sobre limites e birra…”.

Então, é exatamente aí que eu queria chegar. A maternidade não é da maneira que imaginamos quando estamos grávidas. E posso te dizer? O mundo é realmente muito cruel, porque além de não nos dizer a verdade sobre ser mãe, fantasia algo de uma maneira tão linda que, quando nos deparamos com a realidade, sentimos muita decepção. Você deve estar pensando: “Que horror, ela deve ser uma mãe infeliz”. E eu te digo: não, não é nada disso. O que acontece é que após alguns anos nessa função, consigo dizer verdades que lá atrás não falaria de maneira alguma por me culpar de sentir o que a maternidade realmente me fez sentir e não o que o mundo dizia que eu sentiria.

Continua após a publicidade

Minha querida, a maternidade vai vir com um turbilhão de sentimentos que você não pode imaginar. Você vai sentir coisas maravilhosas, é claro, mas também vai ter sentimentos que não são nada maravilhosos. Sim, a realidade vem à tona e, aos poucos, a fantasia que a sociedade e a mídia criam sobre ser mãe desmorona em cima da nossa cabeça. E o pior: no momento em que estamos mais frágeis!

Quando você não estiver feliz, vai sentir culpa. Sim, uma culpa sem fim. Você vai sentir o peso gigante da responsabilidade de ser mãe nas costas e depois da maternidade ‘perfeita’ ter desmoronado na sua cabeça. Além disso, por mais que o seu parceiro seja participativo e cumpra com o papel dele, muitas vezes você vai se sentir só – mais só do que jamais se sentiu. Os filhos levam anos para se tornarem companhias para a gente. E mesmo que você tenha pessoas que te ajudem, quando o calo apertar é você que vai resolver. Já escutou aquela frase “Quem pariu Mateus que o embale”? É bem isso.

Você vai se sentir doando, doando, doando e no dia seguinte vai ter que se doar muito mais. Vai ter um sono sem fim e um desejo imenso de dormir a quantidade de horas que dormia antes de ser mãe. Você vai sentir muito medo de não estar fazendo a coisa certa. Vai se preocupar demais. Também vai se achar um pouco E.T na hora que sair na rua. Vai sentir falta da liberdade que tinha antes de ser mãe, mas isso vai melhorar – eu prometo! Vai sentir um desejo enorme de ser exemplar no papel de mãe e se não perceber logo que isso é uma tremenda furada, vai se frustrar muito e novamente vai sentir culpa. Por isso, por favor, me escute: não existe mãe perfeita. Entenda: você é humana e vai errar muito no seu papel. E, além de tudo isso, você vai sentir uma insegurança tão grande que vai achar que não é capaz. Mas lembra da primeira frase da carta? Então, acredite em mim!

Continua após a publicidade

E se ninguém te falou, você vai ficar menstruada por mais ou menos um mês após ganhar o seu bebê (juro que só fiquei sabendo disso no hospital). Porém, misturado com tudo isso, você vai sentir uma alegria sem fim de ver a carinha do seu filho – uma realização deliciosa de poder ver seus pais se tornarem avós e seus avós se tornarem bisavós. Vai se emocionar com o crescimento e com cada coisa nova que o seu pequeno fizer.

Quando o seu filho crescer um pouco, você vai perceber que não aproveitou nem 20% das dicas do livro mais lido sobre “ser mãe” e que a sua força e o seu sexto sentido foram e continuam sendo os seus principais parceiros nessa caminhada chamada maternidade. E quando o seu filho fizer birra em um lugar público e você perceber que tem uma grávida te observando, vai saber exatamente o que está passando pela cabeça dela e imediatamente vai pensar: “Ah, se ela soubesse como é ser mãe na prática… Um dia ela entenderá”. A maternidade vai fazer você se colocar no lugar do outro, se sentir solidária com as mães que você tinha como doidas e vai te humanizar da maneira mais profunda que existe. E o maior segredo que eu posso te contar desse mundo é: não tem fórmula, cada mãe faz o melhor que pode!”.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

oferta

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.