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“A cor preferida da minha filha é vermelho e ela diz que quer ser bombeira”

Conheça a história de uma menina que tem preferências consideradas fora dos padrões pela sociedade e os preconceitos que ela enfrenta.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 20h51 - Publicado em 8 mar 2016, 07h00

Livia da Silva Ferreira Adate, 33 anos, é mãe da Liana Akemi, de 2 anos e 10 meses, e do Júlio Kiyoshi, de 8 meses, atriz e empresária. Aqui, ela fala sobre os olhares de reprovação que a sua filha recebe por não ter os mesmos gostos das outras garotas da sua idade. 

“Cada criança nasce em um livro branco e vai preenchendo as páginas de acordo com o seu conhecimento do mundo, registrando as suas experiências e percepções, e é curioso para nós, adultos, observar o surgimento de preferências. Eu tenho dois filhos e a nossa preocupação sempre foi oferecer o maior número possível de opções para que eles fizessem descobertas de maneira intensa e saudável, com liberdade para desenvolver as suas personalidades.

Desde os preparativos para a chegada da Liana, sempre demos preferência para coisas coloridas e alegres, um enxoval com peças modernas e confortáveis. A mesma regra serviu para os brinquedos: bonecas, carrinhos, ferramentas, coisas de montar, livros e de tudo um pouco. Lembro que a minha avó ficou indignada porque esperava muito rosa, babados e princesas. Dessa maneira, acredito que a Lia cresceu tendo referências bem diversificadas, mas quando tinha apenas dois anos, ela me surpreendeu com as suas escolhas consideradas ‘fora do padrão’.

Minha filha se tornou exemplo de diversidade: ela só sai de casa com bolsa a tiracolo e óculos escuros. Sua brincadeira preferida é ficar de ponta cabeça, ser girada por nós e dar cambalhotas, mas numa hora ela brinca de casinha com o irmão e na outra está subindo no portão ou deitada no chão ‘consertando’ a bicicleta. Ela também gosta de andar descalça e ama guerra de travesseiros. Hoje, a poucos meses de fazer três anos, sua cor preferida é vermelho. Ela adora ouvir Iron Maiden no carro (mas tem que ser bem alto, é a exigência que faz para o papai), sua roupa favorita é uma camiseta azul dos Beatles com o submarino amarelo e diz que vai ser bombeira quando crescer, inclusive pediu para ter uma festa com esse tema.

Um episódio na última semana me fez perceber como ela é diferente e como as pessoas se surpreendem com isso. Fomos ao aniversário de uma amiga com a decoração de Cinderela, presença de princesa, príncipe e valsa. As garotinhas olhavam as cenas encantadas, todas loucas para ficar perto da princesa, enquanto a Lia observava entediada e ainda fez questão de fazer cara feia na hora da foto. Ela foi a única menina na comemoração que estava mais interessada nos brinquedos do que na própria Cinderela.

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Esse acontecimento gerou risadas na maioria, mas também muito nariz torto – principalmente depois de saberem o tema que ela escolheu para comemorar os seus três anos. Sim, as pessoas ainda se surpreendem por garotas não gostarem tanto de coisas consideradas de ‘meninas’ ou pelo fato de elas querem ter uma ‘profissão de homem’. Como a Lia faz questão de contar as suas preferências para todo mundo, seja conhecido ou não, nós recebemos os mais diversos comentários: positivos e negativos.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal ()

Em casa fazemos de tudo para abolir tais conceitos e aqui não existe brinquedo de menina ou de menino, profissão de mulher ou homem. Embora tudo a nossa volta diga o contrário, como pais acreditamos que o nosso papel é reforçar que ela pode ser o que quiser independente do que os outros digam. Se ela quiser fazer algo que nenhuma mulher fez, então ela será pioneira!

Nós temos a obrigação de mostrar para a Lia que existem muitas opções – seja de música, profissão, cor, brincadeira. Para mim, é um orgulho ver que ela já faz suas escolhas com muita personalidade, que vai até o cantor do restaurante e pede seu rock preferido, que ela vê na profissão de bombeiro a oportunidade de ajudar as pessoas e salvá-las – como ela mesmo diz. Espero que a minha filha cresça acreditando no seu poder de escolha, lutando pelo que acredita, mesmo que as pessoas falem que ela não pode ou não deve e que, acima de tudo, seja muito feliz com as suas decisões. Isso é o que realmente importa!”

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