50 brasileiras incríveis: mãe lança livro para inspirar crianças
Personalidades como Elza Soares, Cecília Meireles e Maria da Penha estão entre as homenageadas.
Em outubro, a obra “50 brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer”, publicada pela Editora Record, chega nas principais livrarias do país. Dedicada inicialmente para o público infantil, ela traz informações sobre a vida de personalidades que fizeram história, mostrando que as mulheres podem ser o que elas quiserem.
Entre as homenageadas estão a jogadora de futebol Marta, eleita a pessoa que mais marcou gols pela seleção brasileira; a escritora Cecília Meireles, que começou a fazer poesias com 10 anos de idade; a cantora Elza Soares, que apesar de ter tido uma trajetória triste, se destacou no meio artístico e a Maria da Penha, farmacêutica que ficou paraplégica ao levar um tiro do marido e, depois de muita luta, ganhou em 2006 uma lei com o seu nome para ajudar as mulheres que, assim como ela, foram vítimas de violência doméstica.
Produzido somente por mulheres – desde a escritora e cientista política Débora Thomé, passando pela designer que fez a capa até as ilustradoras -, o livro também apresenta um espaço em branco para que os pequenos relatem histórias das heroínas que os inspiram. Em entrevista exclusiva ao Bebê.com.br, Débora conversou com a gente sobre o projeto. Confira o bate papo:
Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre o tema?
A ideia surgiu dentro da Editora Record. A Ana Lima, que é a editora do selo, conheceu outras obras no mundo que vinham fazendo este mesmo trabalho de trazer à luz a história de mulheres cujo passado desconhecemos. Ela me convidou para escrever o livro e foi uma espécie de casamento perfeito, porque eu já vinha trabalhando há muito tempo com esse tipo de preocupação, ou seja, de fortalecer as meninas quanto ao seu papel na sociedade, quanto a capacidade de realizarem os seus sonhos e de transformarem o país – e até mesmo o mundo. A preocupação de contar narrativas de mulheres que muitas vezes ficaram escondidas é internacional porque em todos os países conhecemos muito mais os grandes nomes e feitos de homens do que de mulheres. Hoje, morando nos Estados Unidos, também vejo aqui muitos livros nessa linha.
Quais foram os critérios adotados para escolher as personagens?
Eu já vinha trabalhando com a questão das mulheres há alguns anos e lendo muitos trabalhos a respeito. Nós sabíamos que queríamos fazer um livro diverso, com mulheres que tiveram importância em áreas bastante distintas: esportistas, cientistas, religiosas, políticas, heroínas históricas, artistas, entre outras. E de origens e tempos distintos também. Começamos com uma lista de 70 nomes e acabamos em 50. Nem todas nasceram aqui, como a Clarice Lispector, mas todas são ao menos brasileiras de alma.
O livro é dedicado para crianças de que faixa etária? Ele também foi feito para os meninos?
A faixa etária que pensamos é até 12 anos, mas como muitas de nós, mulheres, não conhecemos estas histórias, ele pode interessar a todas as idades. Pessoalmente, acredito que o machismo – imaginar que só os homens podem ser heróis – faz mal a todas as pessoas e crianças. Isso deixa as meninas com menos opções e os meninos tendo que cumprir um papel que lhes é imposto. Basicamente, sim, os meninos precisam saber que assim como há homens heróis e realizadores, há mulheres heroínas e realizadoras. Isso certamente vai ajudar no futuro das crianças, de mais respeito e menos pressão, não importa se são garotos ou garotas.
Todas as ilustrações da obra foram feitas por mulheres?
As ilustrações são o toque especial, a mágica do livro – e olha que eu que o escrevi! A Ana Lima selecionou 16 ilustradoras mulheres e elas foram escolhendo as personagens que gostariam de ilustrar. Essa mescla – e a incrível criatividade – das artes fez com que o livro ganhasse um frescor e, acredite, ele ficou ainda mais bonito do que os estrangeiros. As ilustradoras fizeram interpretações de grandes nomes para um livro para crianças, utilizando técnicas das mais distintas. Na maior parte das vezes, elas aproveitaram algum trecho do texto e adaptaram no desenho.
Como você espera que as pessoas recebam o livro?
Antes de tudo, espero que as pessoas se emocionem e que o livro fale a seus corações. Na primeira vez em que li diagramada a primeira página, a abertura, o texto que eu mesma escrevi, comecei a chorar porque ela começa com a frase “querida leitora, querido leitor”. Na minha vida toda, não me lembro de ter me reconhecido nos livros de infância, lá para os anos 80. Eles tratavam, na maioria das vezes, de princesas com as quais não me identificava, que não tinham sonhos de voar pelo mundo ou de serem grandes profissionais. Como mãe que sou hoje, fico muito feliz quando minha filha e meu filho dizem que querem ser como Ada Rogato, a grande pilota; ou como Maria Lenk, a nadadora; ou como Thaisa Storchi, a astrônoma. Se outras filhas e filhos, mães e pais puderem ter essa mesma sensação, de que podem sonhar muito alto também, vou considerar trabalho cumprido.