Continua após publicidade

Os bebês choram em diferentes idiomas? 

Um estudo alemão desvendou os sons emitidos pelos recém-nascidos de acordo com a língua natal - e as descobertas são surpreendentes!

Por Flávia Antunes
Atualizado em 26 nov 2019, 14h27 - Publicado em 19 nov 2019, 10h50

A importância dos sons para o desenvolvimento da fala, claro,  já é conhecida. Pesquisas comprovam que, ainda dentro da barriga da mãe, os bebês conseguem distinguir os diferentes idiomas pela entonação e mudanças de ritmo de cada um. E mais: a exposição precoce às palavras faz com que as crianças comecem desde cedo a familiarização com a linguagem nativa.

Mas e o choro dos pequenos? Será que também varia dependendo da língua falada pelos pais? Um recente estudo alemão tende a acreditar que sim.

Tudo começou com a descoberta da bióloga e antropóloga médica Dr. Kathleen Wermke, especialista nos primeiros sons dos bebês. Em sua clínica na Universidade de Würzburg, na Alemanha, ela gravou o choro do recém-nascido Joris e, mesmo sem a ajuda de ferramentas computacionais, conseguiu notar um padrão diferente nos gemidos do menino.

“Ele acabou de chorar em alemão, certo?”, disse ela, animada com o achado.

Antes disso, em 2009, a doutora e seus colegas já haviam dado os primeiros passos no sentido desta descoberta. Eles conduziram um estudo que comprovou que recém-nascidos franceses e alemães produziam “melodias de choro” muito diferentes, que refletiam as linguagens que haviam escutado ainda no útero.

Continua após a publicidade

Enquanto os bebês germânicos emitiam choros que caiam de um tom mais alto para um mais baixo, imitando a entonação decrescente do idioma, as crianças francesas tendiam a chorar em uma entonação crescente. Apesar de os pequenos experimentarem uma ampla variedade de sons – e serem capazes de aprender qualquer língua – eles certamente já são influenciados pelo idioma que suas mães pronunciam.

Hoje, o laboratório da especialista abriga um acervo com cerca de meio milhão de gravações, que vão desde os países europeus até os mais distantes, como Camarões e China. Em Pequim, por exemplo, estudantes da graduação transitaram 24 horas por dia pelos corredores de um hospital prontos para captar o choro dos bebês.

A análise acústica quantitativa destes registros proporcionou resultados ainda mais promissores. Recém-nascidos cujas mães falam línguas tonais, como mandarim, tendem a produzir melodias de choro mais complexas. Já os bebês suecos, choram de forma mais “cantada” – isso porque o idioma típico da Suécia tem o que os linguistas chamam de “sotaque tonal”, quando as sílabas tônicas são pronunciadas de um modo mais acentuado que as demais.

Continua após a publicidade

E os insights proporcionados não são mero fator de curiosidade. Ao mapear o desenvolvimento do choro dos bebês, assim como suas vocalizações, como o arrulho e o balbucio, os médicos podem diagnosticar precocemente possíveis problemas.

Sendo assim, as gravações são capazes de ajudar especialistas da saúde e até os próprios pais a entenderem como problemas de audição podem afetar a habilidade das crianças de imitar e experimentar a linguagem. O quanto antes forem identificados, melhores os progressos do tratamento.

 Já conhece nosso podcast? Dá o play! 

Publicidade