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Estudo mostra efeitos positivos da música no cérebro de crianças autistas

Trabalho canadense é o primeiro a observar com exames de imagem a ação benéfica dos acordes na mente dos portadores do transtorno.

Por Chloé Pinheiro
9 nov 2018, 10h50

Apesar das dificuldades que enfrentam na sociabilização e na realização de tarefas diárias, crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) costumam gostar de música. Tanto que boa parcela demonstra habilidade inata no assunto, seja acertando os tons de primeira ou decorando ritmos com facilidade.

Um novo estudo, realizado pela Universidade de Montreal e pela Universidade McGill, do Canadá, acaba de dar pistas que justificam essa relação. Os pesquisadores selecionaram 51 crianças autistas, com idade entre 6 e 12 anos, e as dividiram em dois times. Metade recebeu aulas semanais de música e a outra metade terapia com brincadeiras de interação recíproca.

Durante as sessões, as crianças cantaram e tocaram diferentes instrumentos, acompanhadas por um terapeuta que estimulava a interação entre os pares. Depois de 12 semanas, os pais do grupo que recebeu aulas de música relataram melhora significativa na capacidade das crianças de se comunicarem e na qualidade de vida da família.

Achados da ressonância

Os voluntários do estudo fizeram ressonâncias magnéticas antes e depois das aulas. Os resultados dos exames sugerem que houve um aumento da conexão entre as regiões do cérebro responsáveis pela audição e pelo movimento, enquanto a comunicação entre as áreas que comandam visão e audição — que costumam ser super-conectadas no TEA — caiu.

Os autores explicam no texto que melhorar a conectividade entre essas regiões é essencial para que a criança consiga interagir no meio ambiente e reagir à estímulos externos. Quando estamos nos comunicando com alguém, precisamos usar vários sentidos, prestar atenção no que elas dizem, ignorar outros barulhos ao redor e planejar o que dizer quando for nossa vez, o que pode ser um desafio para crianças com autismo.

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Esse é o primeiro estudo a demonstrar na prática que as intervenções musicais podem equilibrar essa conectividade e colaborar na comunicação de portadores do TEA, além de oferecer uma possível explicação neurológica para esse benefício.

Possibilidades para o futuro

Em nenhum dos dois grupos houve redução da severidade do autismo. “Outros estudos maiores sobre o tema também não mostraram melhora relevantes nos sintomas, mas isso talvez ocorra porque não temos ferramentas adequadas para medir as mudanças nas interações sociais”, comentou Megha Sharda, psicóloga da Universidade de Montreal e principal autora do trabalho. A equipe trabalha agora para desenvolver estas ferramentas e replicar os achados da pesquisa em um grupo maior de crianças.

Com o novo estudo, espera-se que aumente o conhecimento sobre o efeito dos acordes no cérebro e, assim, eles sejam usados de maneira mais precisa no estímulo dos portadores do transtorno. Vale dizer que as aulas de música já são um recurso terapêutico para crianças autistas em diversos países. “O apelo universal da música torna essa estratégia aplicados em todo o mundo, em casas e escolas, sem a necessidade de muitos recursos”, declarou à imprensa Aparna Nadig, professora da Universidade McGills e co-autora do trabalho.

 

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