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Documentário britânico mostra pais que criam filhos sem regras

O programa apresenta três famílias cujos filhos crescem totalmente fora dos padrões e mostra os efeitos positivos e negativos dessa escolha.

Por Chloé Pinheiro
10 nov 2017, 21h01

Imagine criar um filho sem falar não? É assim a vida dos pais que optam pela extrema desescolarização, método que prega liberdade total às crianças e nenhum tipo de ensino formal, com lições e matérias como vemos na escola. Três dessas famílias estão retratadas no documentário Feral Families (ou “Famílias Ferozes”, em tradução livre), lançado pela emissora britânica Channel 4 na semana passada.

No estilo reality show, o programa acompanha o cotidiano das casas. Algumas das crianças nunca foram à escola e outras foram tiradas, depois, gradualmente pelos pais. Em comum, uma criação bem diferente, na qual o “não” quase nunca é ouvido e os pequenos cortam o cabelo sozinhos, além de dormirem a hora que quiserem. A decisão radical surpreende os especialistas.

“Me parece algo surreal, porque crianças estão em desenvolvimento e precisam de referências para aprender autocuidado e entender que nem sempre podemos fazer o que queremos”, comenta Deborah Moss, neuropsicóloga mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo. E isso nem apenas por uma questão de hierarquia. “Para uma criança, um doce é só algo gostoso que ela vai querer comer muito. Ela não sabe que aquilo fará mal para ela”, completa a especialista.

O trailer da atração, disponível em inglês, já tem 9 milhões de visualizações no YouTube e mostra as crianças brincando, tingindo o cabelo e escolhendo as refeições. Os pais dizem que calculam os riscos antes de cada situação, mas concluem que o benefício é maior.

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Estrutura faz falta?

Em um trecho do programa disponível no Facebook, uma das famílias conta que optou por não colocar os sete filhos na escola. O pai diz acreditar que isso dará às crianças “independência, liberdade e a capacidade de pensarem por si mesmas”. Assim, o material segue mostrando a rotina da prole, que faz as próprias escolhas. Sejam elas tomar sorvete às dez da noite ou manusear ferramentas de adulto.

Em um momento do vídeo, dois dos filhos decidem ir para a escola, para fazer amigos e ver como eram as lições. Depois de seis semanas de teste, os irmãos optaram por voltar ao ensino “orgânico” da casa. Entre os argumentos usados por eles estava o de que algumas lições eram interessantes, mas outras não faziam sentido. “Eu gosto de estrutura, mas essa estrutura é muito restrita e repetitiva”, diz um dos garotos no vídeo.

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Dá para criar sem regras?

Segundo a especialista, o limite deve, sim, estar presente. “Ninguém é livre por completo, pois a minha liberdade acaba quando começa a do outro e isso deve ser ensinado cedo ou, na vida adulta, os filhos não terão como lidar com todos os ‘nãos’ que receberão. E quando temos filhos temos que prepará-los para o mundo lá fora”, expõe Deborah. 

Dá para flexibilizar hierarquias e apostar em modelos de educação menos tradicionais, mas sempre com regras. “Nosso relacionamento familiar muda a cada geração, tanto que antes chamávamos nossos pais de senhor e senhora e tudo bem que não seja mais tão rígido assim, mas ainda assim os filhos devem obedecer”, opina a psicóloga. Ou seja: o ‘não’ pode e deve ser explicado e carinhoso, mas segue sendo não.

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