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Alimentação infantil

Por Coluna
Dr. Hugo Ribeiro é pediatra especializado em gastroenterologia e nutrologia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
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Terrible twos e alimentação: seu filho está com dificuldades para comer?

A fase por volta dos 2 anos pode ser bem desafiadora para os pais, não só em relação ao comportamento da criança, mas também quanto à hora das refeições.

Por Da Redação
Atualizado em 30 Maio 2018, 08h04 - Publicado em 30 Maio 2018, 08h04

2 anos de idade: esta é uma fase especial na vida da criança. É quando ela passa a se comportar de modo em oposição às solicitações dos pais. De repente, a criancinha obediente e tranquila passa a berrar e espernear diante de qualquer contrariedade. Dizem “não” para tudo, resistem em seguir qualquer orientação, a aceitar com tranquilidade as decisões dos pais, brigam para trocar uma roupa, para sair de um local ou até mesmo para guardar um brinquedo. Para completar, não atendem aos pedidos e parecem ser sempre do contra. Ufa! Não é mesmo um período fácil!

Mas essas crises de birras são, muitas vezes, provocadas pela frustração do seu filho frente à incapacidade de completar uma tarefa que ele pensa que poderia fazer sozinho. Além dessa sensação de decepção, os pequenos geralmente ficam irritados porque não possuem habilidades linguísticas para expressar seus sentimentos. Vale lembrar, no entanto, que isso é absolutamente normal para o desenvolvimento que cada criança atravessa e que essas manhas tendem a diminuir por volta dos 4 anos de idade, uma vez que a capacidade motora e de comunicação está melhor desenvolvida.

Diante deste contexto, por volta dessa faixa etária seu filho poderá apresentar “problemas” na alimentação. Afinal, comer é uma escolha que as crianças têm o poder de fazer e não demoram muito para aproveitar uma oportunidade para um jogo de poder sobre seus pais. Muitas resistem ao comer certos alimentos – ou insistem em comer apenas um ou dois favoritos. E quanto mais você luta com seu filho sobre suas preferências alimentares, mais ele estará determinado em desafiar você.

A dica, na verdade, é oferecer uma grande variedade de alimentos saudáveis – muitas vezes, é surpreendente para os pais o quão adaptável a criança é e como ela irá experimentar coisas diferentes se receberem esse estímulo. Por isso, deixar que ela faça escolhas diante do que é ofertado permitirá que ela coma uma dieta equilibrada por conta própria.

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Os pais só devem estar atentos se o cardápio da criança contempla, diariamente, pelo menos um de cada grupo de alimentos básicos:

  • Carne, peixe, aves, ovos
  • Leite, queijo e outros produtos lácteos
  • Frutas e vegetais
  • Cereais, batatas, arroz, produtos de farinha

Toddlers, como são chamados os pequenos entre 12 e 36 meses de idade, também gostam de se alimentar, então, sempre que possível, ofereça porções que possam ser alcançadas com os dedos, ao invés de alimentos preparados de forma que sempre exijam um garfo ou colher para comer. É claro que, nesta idade, a criança já está apta para usar talheres e beber em um copo ou xícara só com uma mão. No entanto, ela ainda pode estar aprendendo a mastigar e a engolir de forma eficiente e pode engasgar com determinados pratos, especialmente quando estiver com pressa para continuar com um jogo ou brincadeira. Por esse motivo, o risco de sufocação é alto.

Outro aspecto importante da alimentação infantil na fase conhecida como terrible twos é que, a essa altura, os pequenos já deveriam fazer três refeições saudáveis ao dia e mais um ou dois lanches. E, no momento em que tiver muitos dentes, a criança provavelmente também estará comendo exatamente a mesma coisa que o restante da família. Ao aprimorar o idioma e as crescentes habilidades sociais, seu filho pode se tornar um participante ativo nas horas das refeições se tiver a chance se sentar à mesa com os pais e possíveis irmãos. Só não fixe quantias. Não torne estes momentos em verdadeiros campos de batalha. O importante é fazer escolhas saudáveis, afinal, as crianças estarão atentas ao modelo apresentado.

E lembre-se: alguns bebês estão sempre com fome e rapidamente devoram o que é colocado na frente deles. Outros, no entanto, são exigentes e se tornam mais problemáticos. Talvez você precise verificar se manteve os requisitos de alimentos em constante mudança. Experimente algumas maneiras diferentes de lidar com as demandas de atenção da sua criança e, em vez de dar lanches nos momentos de birras, ajude-a a identificar seus sentimentos de frustração ou tédio.

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Indico algumas iniciativas:

  • Dê seu tempo e atenção ao invés de comida. Muitas vezes, basta simplesmente dedicar seu olhar para o seu filho por alguns minutos e para resolver alguns problemas.
  • Em vez de confundir seu filho, ofereça opções limitadas para que ele aprenda a tomar decisões, pois ele é muito jovem para essa grande responsabilidade. Por exemplo, pergunte: “Você gostaria de uma banana ou de uma maçã agora?”, ao invés de questionar “O que você gostaria de comer agora?”.
  • Tente ser mais claro, firme e consistente em sua abordagem. Você está no comando de sua agenda! Reforce e diga sempre qual é o momento das refeições.
  • Crie o hábito e ensine o seu filho ficar sentado enquanto come. Senão, a transição para a pré-escola será mais difícil para ele. Isso porque enfermarias e pré-escolas devem impor esta regra por causa da ameaça de engasgamento. Simplesmente remova o prato cada vez que ele se levantar e diga claramente para se sentar novamente. Quando ele estiver sentado, substitua a comida. Não há necessidade de tornar isso um problema.
  • Comece cedo a ensinar boas maneiras à mesa. De preferência, tente comer com a família reunida, em vez de assistir televisão nesse momento. Se isso não for possível em sua situação familiar, então, sente-se com seu filho enquanto ele faz sua refeição. Esta é uma oportunidade valiosa para a interação pacífica em conjunto e constitui a base de uma excelente vida familiar para o futuro.
Dr. Hugo Ribeiro

É pediatra especializado em gastroenterologia e nutrologia, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fellow em Nutrologia Infantil pela Universidade de Cornnel, em New York, e coordenador e pesquisador do Centro de Pesquisa Fima Lifshitz da UFBA

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