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OMS registra 7 tipos de violência sofridos no parto

A Organização Mundial da Saúde revisou 65 estudos e mapeou quais são os maiores desrespeitos e abusos que mulheres do mundo todo sofrem na hora de dar à luz.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 28 out 2016, 22h28 - Publicado em 18 ago 2015, 17h55

Durante toda a gravidez, a ansiedade toma conta – ver a carinha do bebê, senti-lo sair do ventre e carregá-lo nos braços são alguns dos momentos mais esperados por uma gestante. Mas nem sempre a hora do nascimento ocorre como esperado: agressão física e verbal, falta de informações sobre procedimentos realizados no parto e não receber um alívio para a dor são alguns dos tipos de violência obstétrica a que a nova mãe pode ser submetida.

E não para por aí. De acordo com um levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – publicado no fim de junho de 2015 no periódico científico PLOS Medicine -, os direitos das mulheres ao dar à luz podem ser violados de diversas maneiras, o que configura, em cada caso, um tipo diferente de desrespeito e abuso.

Para identificar os principais tipos de violência sofridos por mulheres, um grupo de cientistas da OMS e de vários outros países foram atrás de pesquisas já publicadas sobre o assunto. “Começamos a montar um banco de dados muito grande e, a partir daí, reunimos as informações dos 65 trabalhos revisados para esse estudo”, conta João Paulo Dias de Souza, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e o responsável por coordenar a pesquisa da OMS nas línguas portuguesa, espanhola e francesa. As pesquisas que fizeram parte dessa investigação eram provenientes de 34 países, localizados em todos os continentes.

Foram elencados, no total, sete tipos de violência: abuso físico, abuso sexual, abuso verbal, preconceito e discriminação, mau relacionamento entre os profissionais de saúde e as pacientes, falta de estrutura no serviço de saúde e, por fim, a carência de um sistema de saúde de boa qualidade. “No Brasil, os maiores problemas apontados foram a restrição de ter um acompanhante durante todo o parto, o abuso verbal, a agressão física, a relação ruim entre o profissional e a parturiente e a não obtenção de consentimento para determinados procedimentos, como a episiotomia“, revela Souza.

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Próximos passos

Segundo o professor da USP, o objetivo desse trabalho era classificar os tipos de abuso sofridos por mulheres. “A ideia é criar um modelo conceitual a partir do qual a gente possa gerar ações para combater esses problemas”, conta João Paulo. “Agora, a OMS está iniciando um novo estudo com vistas ao enfrentamento”, relata.

No Brasil

Por aqui, esse assunto tem sido bastante debatido – o que já é, certamente, um grande passo. Mas ainda há muito que precisa ser feito. Para João Paulo Dias de Souza, o primeiro ponto que merece atenção é a necessidade de alertar as gestantes sobre as violências que elas podem sofrer na hora do parto – e que isso não é aceitável. “A gente precisa empoderar as mulheres e dar a elas a noção de que não é normal serem tratadas de forma desrespeitosa e abusiva nesse momento”, diz o professor.

Outro ponto fundamental para combater esses tipos de violência diz respeito à qualidade do próprio serviço de saúde – seja ele público ou privado. E isso inclui, de acordo com João Paulo Dias de Souza, desde uma carga horária menos abusiva dos profissionais de saúde até melhores condições de estrutura para os pacientes e aqueles que trabalham nessas instituições. “Temos que cuidar de desfazer essas armadilhas que o nosso próprio sistema de saúde criou”, crava o médico.

 

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