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Pronto-socorro ou pediatra: quando recorrer a cada um deles

Quando as crianças ficam doentes, muitas famílias preferem correr para o hospital a marcar uma consulta com o médico dos pequenos, mesmo nos casos mais brandos. Mas é a melhor opção?

Por Thais Szegö (colaboradora)
Atualizado em 26 out 2016, 18h17 - Publicado em 29 jun 2015, 01h30

É noite de domingo. A sala de espera do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, está cheia, e muitas das pessoas presentes estão acompanhadas por crianças. A advogada paulista Katia Mourão é uma delas. Trouxe com o marido a filha Isadora, 2 anos, porque a menina estava com febre. “Notei que ela começou a ficar muito manhosa, que o seu corpinho estava quente, daí o termômetro confirmou as minhas suspeitas, conta. Achei mais prático vir direto para cá, pois, do contrário, teria que falar com o pediatra somente amanhã. Ele provavelmente marcaria uma consulta, mas nossa agenda está lotada na semana que vem e não há outra pessoa que possa acompanha-la. A publicitária carioca Fernanda Coelho decidiu ir ao pronto-socorro por puro medo e ansiedade de esperar até o dia seguinte para falar com o médico que acompanha seu filho, Arthur, 1 ano e meio. Como a maioria das mães de primeira viagem, fico bastante assustada diante de qualquer sintoma e tenho receio de dar remédio por conta própria, diz. Como o Arthur está muito abatido, com febre e um pouco de diarreia, preferi procurar ajuda hoje mesmo.

Assim como Katia e Fernanda, muitos pais, seja pela praticidade, seja pela falta de tempo ou ainda pela ansiedade, preferem correr para o hospital a entrar em contato com o pediatra e, se necessário, agendar uma consulta. O fato de o pronto-socorro funcionar 24 horas e ser de fácil acesso faz com que seja bastante atrativo para muitos pacientes que poderiam, tranquilamente, aguardar uma consulta com seu médico de confiança, afirma a pediatra Milena De Paulis, do Hospital Israelita Albert Einstein, que também é membro do Departamento de Emergências da Sociedade de Pediatria de São Paulo e médica do pronto-socorro do Hospital Universitário da USP. O problema é que se trata de um local de atendimento de emergências: ou seja, quando há, de fato, risco de a pessoa morrer ou de o quadro se complicar, o que faz com que a atuação do médico tenha que ser imediata, explica a Dra. Milena. Mas, como muitas pessoas procuram o serviço em outras situações, é inevitável que ele fique lotado e haja um grande aumento na insatisfação dos pais e dos pacientes e também um desgaste da equipe.

Outro inconveniente: o excesso de gente faz com que a espera fique muito maior. “Assim que o paciente chega, é feita uma triagem e os quadros urgentes são atendidos com prioridade”, conta o Dr. José Luiz Setúbal, presidente do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. Os outros demoram cerca de 40 minutos para serem recebidos pelo médico. Em algumas épocas do ano, como o inverno, em feriados, finais de semana e às segundas-feiras, e em alguns períodos como a hora do almoço ou após as 18 horas, em que a procura é ainda maior, o tempo que as pessoas permanecem na sala de espera se torna muito mais longo. Os casos classificados como menos graves costumam aguardar cerca de 30 minutos, e os sem gravidade, dependendo da época, podem aguardar entre uma e duas horas, em média, calcula a Dra. Milena De Paulis. Os atendimentos mais comuns no pronto-socorro acabam sendo de doenças simples, como resfriados e quadros respiratórios, bronquites, ou infecciosos, como as pneumonias ou diarreias, completa o Dr. José Luiz Setúbal.

Contaminação

Além de deixar profissionais, pacientes e acompanhantes bem desgastados, a permanência no pronto-socorro aumenta o risco de os bebês piorarem o quadro. Isso porque a maioria das pessoas que procura o hospital está com alguma doença infecciosa, e aquele tempo na sala de espera faz com que os pequenos entrem em contato com algum outro vírus ou bactéria que esteja no ambiente. O contágio pode ocorrer por via respiratória, por meio da tosse, por exemplo, ou pelo contato com secreções contaminadas, como a saliva e a coriza, alerta a Dra. Milena. Em se tratando de crianças que, mesmo doentes, gostam de explorar o ambiente e interagir umas com as outras, existe uma possibilidade grande de adquirirem nova infecção.

Pediatra 24 horas

Por tudo isso, o ideal é sempre procurar primeiro o pediatra que acompanha a criança e conhece seu histórico de saúde. Assim, a puericultura, que é a pediatria da promoção à saúde e da prevenção, terá sua validade, afirma o dr. Moises Chencinski, pediatra homeopata de São Paulo. Claro, é preciso ter critério antes de ligar no meio da madrugada para o médico, mas você não precisa se constranger de contatá-lo caso seu bebê apresente um sintoma mais forte ou haja um agravamento do quadro, você fique preocupada com alguma reação que a criança apresente após ingerir remédios ou alimentos, ou tenha dúvidas sobre certos cuidados que o especialista recomendou. Os pediatras estão acostumados a ouvir o telefone tocar a qualquer hora do dia ou da noite. Ter um médico atencioso é essencial – assim os pais se sentem seguros e não pensam em recorrer ao pronto-socorro diante de qualquer alteração.

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Na maioria das vezes, é possível resolver tudo com uma orientação pelo telefone e, se for o caso, marcar uma consulta para o dia seguinte, diz a pediatra Maria Cristina Senna Duarte, da UTI Pediátrica e Neonatal Cirúrgica do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro. Agora, se o profissional escolhido para cuidar de seu filho não atende o celular, não retorna as ligações nem se mostra disponível para ajudá-la, procure outro. Foi o que fez a advogada paulista Silvana Di Pietro, mãe de Lucas, 3 anos, e Georgia, 1 ano e meio. Quando o Lucas nasceu, tinha uma médica que sempre parecia incomodada em me atender fora do horário das consultas, mesmo por telefone”, lembra Silvana. “Uma vez ele teve febre e uma diarreia muito forte por volta das 22 horas. Como tinha apenas 6 meses, achei melhor entrar em contato. Em vez de me acalmar e orientar, ela disse para eu ir ao hospital, onde existem médicos de plantão a qualquer hora.” Depois desse episódio, Silvana trocou de pediatra e hoje conta com um profissional que se mostra mais disponível para ajudá-la com o que for preciso – e em qualquer horário.

Quando o pronto-socorro é a melhor opção?

Há, sim, situações em que vale a pena correr para o hospital. “Quando o estado geral da criança estiver muito alterado (com prostração, febre alta persistente, oscilação grande de temperatura ou ainda convulsões), procure o serviço de emergência”, recomenda o presidente de hospital José Luiz Setúbal. “No caso da febre, se a criança tiver menos de 3 meses de idade e apresentar mais de 37,8º ou se tiver idade inferior a 3 anos e com temperatura maior do que 39°, sem nenhum sintoma como tosse, coriza ou alteração intestinal, também justifica procurar o PS”, acrescenta a pediatra Milena De Paulis. “O mesmo vale para recém-nascidos apáticos, pálidos ou roxinhos de repente e sem explicação aparente, em quadros de vômitos incontroláveis (mais de três episódios por hora) ou muita dificuldade para respirar”, diz a Dra. Milena. Queimaduras, cortes, engasgos, fraturas, traumas na cabeça seguidos por sonolência e reações alérgicas com placas vermelhas pelo corpo ou falta de ar também não podem esperar. Em casos mais brandos, adotar um pediatra atencioso é mais vantajoso do que frequentar esse ambiente nada agradável.

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