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Devo fazer teste rápido no meu filho se ele tiver sintomas do coronavírus?

Especialistas explicam por que os testes comprados na farmácia podem não ser o melhor caminho para descobrir se a criança está infectada.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 2 jun 2020, 19h41 - Publicado em 2 jun 2020, 19h37

Com a curva crescente do novo coronavírus no Brasil, é inevitável não se questionar sobre o que fazer ao perceber que o filho está desenvolvendo sintomas de síndrome gripal e não conseguir diferenciá-los da inflamação respiratória responsável pelo estado de pandemia ao redor do mundo.

Uma das formas de tirar esta dúvida é o que está sendo chamado de “teste rápido de farmácia”. Pelo nome popular que recebeu, o exame parece uma forma de fácil acesso para descobrir se a pessoa está ou não com coronavírus. Entretanto, o resultado não funciona exatamente assim. Antes de correr para a drogaria mais próxima, veja o que os médicos dizem sobre o teste.

Como é feito?

Primeiro, é preciso deixar claro: você não aplicará o exame sozinho no seu filho. Segundo informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os testes rápidos não são autotestes. Isso significa que eles não podem ser comprados nas farmácias, levados para casa e feitos sem acompanhamento qualificado.

“Somente um profissional tem o entendimento para interpretar a aplicabilidade ao paciente específico levando em consideração a avaliação da janela imunológica (período que o organismo demora para produzir anticorpos, variando de acordo com a infecção) e outros aspectos”, reitera a Agência.

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Vale ressaltar que algumas farmácias pedem agendamento prévio.  Na hora da coleta, o profissional deverá estar paramentado com equipamentos de proteção individual e a pessoa que será testada precisará lavar as mãos e usar máscara.

A forma de colher esse exame é parecida com a de testes usados para indicar a glicemia no corpo. Com uma picadinha no dedo, deposita-se uma gota de sangue em uma tira e o resultado é indicado no visor.

Mas o que esse exame mostra?

“Os testes rápidos de Covid-19 são chamados de “testes sorológicos”, em que eles vão procurar em geral pelos anticorpos que o organismo produziu quando em contato com aquele vírus”, explica Karina Soeiro, farmacêutica e biomédica.

Neste caso, os anticorpos apontados pelo teste são principalmente das classes IgG e IgM, cujos valores variam conforme o organismo trabalha na defesa a curto e longo prazo contra o vírus causador da doença.

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Segundo documento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), se o exame indicar que a quantidade de IgM está diferente, isso significa que a pessoa já foi exposta ao vírus e está na fase ativa da doença, normalmente com os sintomas clássicos presentes.

Já quando o teste acusa uma taxa de IgG diferente, ele pode indicar “que a pessoa está na fase crônica e/ou convalescente, ou já teve contato com a doença em algum momento da vida”.

Essa contagem ainda pode significar que o paciente desenvolveu uma proteção para aquela infecção que está sendo analisada. Entretanto, para os casos de coronavírus, ainda não existem estudos o suficiente que comprovem esta imunidade completa contra a doença, caso você já tenha sido contaminado alguma vez.  

Inicialmente, o teste rápido parece ser um bom caminho para identificar a inflamação respiratória, já que ele é capaz de contabilizar os anticorpos produzidos. Entretanto, o que pontua a Dra. Maura Neves, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), é que o resultado deste teste não identifica diretamente a quantidade de vírus no corpo do paciente e precisa ser colhido a partir do décimo dia de contágio.

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Ou seja, existem muitas variáveis para cravar um laudo apenas com este teste de farmácia. “Os nossos anticorpos começam a subir a partir do quarto, quinto dia, mas o exame para contabilizá-los nesse período dará negativo, porque a quantidade deles é pouca perto da do vírus. Portanto, o ideal é fazer o teste rápido depois do décimo dia, quando a pessoa terá uma quantidade maior de anticorpos na corrente sanguínea e, consequentemente, maior chance de positividade”, detalha a otorrino. 

O mesmo ponto é ressaltado pelo infecto-pediatra Marcio Moreira, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Ele explica que o teste rápido é capaz de responder se a criança foi exposta ao coronavírus anteriormente e se o seu organismo está desenvolvendo anticorpos naquele momento.

“Quem vai marcar essa imunidade é o anticorpo da categoria do IgG. Eventualmente, podemos identificar o IgM, sem identificar o IgG. Quando isso acontece, significa que ainda é uma infecção muito recente, porque o IgM é o primeiro que sobe, mas não tem longa duração. Entende-se com isso que não é ele quem vai conferir imunidade a médio e longo prazo para a criança – ainda não muito determinada em relação ao novo coronavírus”, ressalta o especialista. 

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Neste cenário em que o teste dê positivo, Márcio explica que é importante contatar as pessoas próximas a criança,  porque esse resultado mostra que ela foi infectada recentemente e a probabilidade é que quem está próxima a ela também esteja doente no momento. 

E se o resultado for positivo?

A Anvisa ainda ressalta que, pelas restrições dos testes rápidos, é importantes que o seu resultado não seja a única análise feita para fechar o laudo.

“Pelo conhecimento que se tem sobre a Covid-19 e pelas limitações relacionadas ao desenvolvimento do teste, não é possível utilizar o teste rápido isoladamente como diagnóstico, sendo recomendada a confirmação por ensaio molecular (RT-PCR), que identifica a presença ou não do vírus”. 

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Pensando nisso, o infecto-pediatra orienta que o primeiro passo para pais com filhos que apresentam sintomas do novo coronavírus é entrar em contato com o médico da criança.

Neste primeiro momento, a comunicação pode ser por telemedicina. Mas, dependendo do caso, o especialista pode pedir para analisar o pequeno pessoalmente, respeitando intervalos maiores entre as consultas e redobrando as medidas de higiene nos consultórios.

Com a confirmação do pediatra de que a criança pode estar com coronavírus, é ele quem será capaz de dizer qual é o melhor exame para o momento. O PCR ou “teste do cotonete” para a fase aguda da doença, ou o teste rápido para quando o paciente já está na segunda semana da infecção.

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