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Dossiê: como proteger grávidas e crianças contra mosquitos no verão

Mosquito da dengue, pernilongo, borrachudo: é nesta época do ano que esses insetos costumam circular e se proliferar. E quem mais corre risco de sofrer com as consequências das picadas são os pequenos e as gestantes. Por isso, consultamos um time de experts para saber tudo sobre como manter os baixinhos e as futuras mamães longe dessas perigosas agulhadas.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 28 out 2016, 08h48 - Publicado em 10 dez 2015, 17h43

Nos últimos meses, o Brasil inteiro está de olho no Aedes aegypti. Isso porque, além de transmitir a dengue, ele também carrega o vírus zika, apontado como o responsável pelo surto de microcefalia que assola o país desde outubro, em especial a região Nordeste. Sabe-se que, ao infectar uma mulher grávida, o micro-organismo tem a capacidade de atravessar a placenta e contaminar o sistema nervoso central do bebê, causando a malformação cerebral. Como essa atividade do zika é inédita para os cientistas, os esforços agora se concentram em entender o funcionamento do vírus para, no futuro, trabalhar na criação de uma vacina. Mas até que isso aconteça, a melhor forma de se proteger é mantendo-se longe do inseto que dissemina esse agente infeccioso.

E essa atitude é especialmente importante durante o verão, época em que não só o Aedes aegypti mas também o pernilongo e os borrachudos tendem a circular com maior intensidade, graças ao tempo quente e úmido. “Os mosquitos apresentam baixo desenvolvimento sob condições extremas, como o frio e o ar seco, pois têm a sua atividade fisiológica reduzida”, revela a bióloga Sirlei Antunes Morais, especialista em zoologia e entomologia médica pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Por isso, se você está esperando um bebê ou tem filhos pequenos e vive em áreas com proliferação desses insetos, confira o dossiê que preparamos com a ajuda de especialistas para proteger toda a sua família na temporada de calor.

Turma da pesada

Os hábitos de cada mosquito

  • Aedes aegypti: o mosquito da dengue (e que também transmite os vírus zika e chikungunya) tem hábitos diurnos, ou seja, é durante o dia que ele costuma atacar suas vítimas.
  • Culex: eis o famoso pernilongo, que concentra suas atividades no final da tarde e à noite.
  • Simulídeos: esse é o grupo a que pertencem os borrachudos, que preferem circular no fim da tarde.

A picada

“Os mosquitos se posicionam sobre as áreas mais finas da pele, pois sua visão aguçada permite enxergar a envergadura dos vasos sanguíneos”, informa Sirlei. Além disso, a espessura fina da derme facilita a perfuração pelas estruturas bucais do inseto. Ao espetar o indivíduo, o bichinho injeta enzimas anticoagulantes e anestésicas – daí porque nem sentimos a picada. Isso gera uma reação no sistema imunológico, que passa a liberar histamina, um composto que tem a função de acelerar a inativação das substâncias introduzidas pelo mosquito. “Esse mecanismo causa uma cascata de reações, dentre elas a coceira e o inchaço de pele”, conclui a bióloga da USP.

No geral, a picadela não ameaça a gestante e o feto – a menos que se trate do Aedes aegypti ou de outro mosquito que transmita doenças. O problema é que as crianças não resistem e coçam as áreas afetadas, por isso é importante ficar atento ao risco de infecções. “O ato de coçar pode acabar causando uma lesão. E a gente sabe que, mesmo quando a criança está limpinha, existem bactérias na pele e nas unhas. E aí, pode infeccionar o local”, alerta o infectologista Francisco Ivanildo Oliveira Junior, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.

Uma vez que a grávida ou o bebê foi picado, a recomendação é lavar com água e sabão, durante o banho mesmo. Compressas frias podem reduzir a dor e o inchaço. “Para aliviar a coceira intensa, as gestantes podem recorrer a cremes tópicos, como loção de calamina ou aquelas que contêm aveia coloidal”, prescreve a dermatologista Adriana Salgado, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). No caso dos pequenos, o melhor é consultar o pediatra – nada de aplicar medidas caseiras! “Dependendo da gravidade, o médico pode indicar alguma pomada com corticoide ou dar um antialérgico por boca”, diz Oliveira.

Mundo dos repelentes

Princípios ativos

  • Piretroide: ele está presente nos repelentes de tomada e nos inseticidas em spray. Sua ação é direta no sistema neuromotor do inseto e também no olfato e no senso de direção. “O mosquito se afasta ao captar a presença de ‘perigo’ no ar”, esclarece Sirlei Morais.
  • Icaridina: alguns produtos em creme ou em gel contêm essa substância, que age confundindo o olfato do bicho e atrapalhando, assim, a busca por sangue. “Mas os estudos sobre esse princípio ativo ainda estão em fase de desenvolvimento no Brasil”, adverte a bióloga.
  • DEET: é a sigla para um composto sintético chamado dietiltoludamida, a base da maior parte dos repelentes em forma de loção. “O DEET interfere nos receptores sensoriais dos mosquitos, inibindo os mecanismos de atração química durante a procura por alimentação de sangue”, explica Sirlei. Assim como a Icaridina, é recomendado para os maiores de dois anos de idade.
  • IR 3535: trata-se de um sintético produzido a partir de várias substâncias. A uma concentração de 30%, é a única substância permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para crianças acima de seis meses. Ao lado do DEET, é considerado um dos melhores repelentes.  

Os tipos

Loção

Grávidas e crianças podem, sim, passar repelente na pele. “Os produtos de uso tópico, à base de DEET, com concentração entre 10 e 50%, são considerados seguros para as gestantes em todos os trimestres”, assegura Adriana. Quanto aos outros princípios ativos, o melhor é conversar com o obstetra para saber a forma correta de usar.

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No caso dos pequenos, vale bater um papo com o pediatra antes de besuntar o filhote. Isso porque, de acordo com a regulamentação da Anvisa, esses itens estão autorizados apenas para os maiores de 2 anos de idade – inclusive as versões infantis. No entanto, dependendo da situação, pode ser que o médico libere o produto para os mais novos. “Se a criança não é alérgica, se ela vive em uma área em que os mosquitos circulam e se estamos em um momento em que a probabilidade de ser picado é maior, aí a gente faz uma avaliação do risco-benefício de indicar o repelente”, pondera Oliveira. Ele lembra que, nos Estados Unidos, a Academia Americana de Pediatria permite o uso desses produtos em bebês a partir de 2 meses de vida. E é claro que estamos falando das versões desenvolvidas especificamente para crianças! 

Cuidados

Tanto as gestantes quanto os baixinhos devem repassar o produto quando acabar o tempo de duração indicado no rótulo. “O número máximo de aplicações por dia também deve ser respeitado, conforme orientação na embalagem”, pontua Adriana Salgado. O ideal é aplicá-lo em toda a área do corpo que estará exposta. A meninada merece uma atenção extra. “Não deixe a criança colocar o repelente sozinha e não use o produto na pele irritada ou infeccionada”, orienta o pediatra José Gabel, secretário do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Primeiros Cuidados da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Evite também passar o creme em áreas próximas a olhos, boca, narinas e genitais.

A seguir, confira nossa seleção de repelentes para crianças e gestantes:

Crianças

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1. Exposis infantil (Icaridina a 25%, dura até 10 horas na pele), Laboratório Osler, R$ 55*
2. Loção Antimosquito (IR 3535, pode ser usado a partir dos 6 meses), Johnson & Johnson, R$ 18*
3. Loção Off Kids (DEET a 6,9%), SC Johnson (à venda na Onofre), R$ 21,08*
4. Repelex Kids Gel (DEET a 7,34%, dura até 3 horas), Reckitt Benckiser (à venda na Onofre), R$ 17,40*

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*Preços pesquisados em dezembro de 2015

Grávidas

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1. Exposis Gel (Icaridina a 20%, dura até 10 horas), Laboratório Osler, R$ 55*
2. Repelex Family Care Spray (DEET a 6,79%, dura até 3 horas), Reckitt Benckiser (à venda na Onofre), R$ 10,75*
3. Loção OFF Family (DEET a 6,9%, dura até 2 horas), SC Johnson (à venda na Onofre), R$  12,97*
4. Gel repelente manipulado (IR 3535 a 20%, dura até 7 horas na pele. Também pode ser usado por crianças), Pharmapele, R$ 37*

*Preços pesquisados em dezembro de 2015

Tomada

Está autorizado colocar esse tipo de repelente no quarto da grávida e do bebê. Apenas se certifique de que o ambiente está bem ventilado (até para os mosquitos poderem ir embora) e procure não colocar o aparelho muito perto do berço. “Lembrando que ocorrerá um ressecamento das vias aéreas, que pode ser minimizado com uma bacia de água no quarto”, indica o ginecologista e obstetra Alberto D’Auria, do Hospital e Maternidade Santa Joana, na capital paulista.

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Inseticida

Dê preferência àqueles à base água. Outros solventes podem ser tóxicos tanto para as crianças quanto para os bebês das grávidas. “O ideal é não colocar imediatamente antes de ir dormir”, orienta Francisco Oliveira, que também é infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. Procure espirrar o produto no quarto uma ou duas horas antes de você ou o pequeno se deitar. E se o seu filho tiver menos de 2 anos, não use esse tipo de repelente.  

Funciona mesmo?

Repelentes naturais

Os especialistas não aconselham usar esses produtos como única forma de repelir os mosquitos. Isso porque, em geral, compostos à base de ervas, frutas cítricas, eucalipto ou mesmo citronela apresentam uma função limitada, já que têm uma curta durabilidade. “Alguns deles chegam a durar somente 15 minutos”, calcula Adriana Salgado, da SBD. E tem mais! “Em grande quantidade, a dispersão dessas moléculas produz um odor forte, podendo causar dores de cabeça nas pessoas ou mesmo acabar atraindo os mosquitos ao invés de espantá-los”, alerta Sirlei Morais. O mais indicado é usá-los em produtos para a limpeza da casa, principalmente aqueles feitos com eucalipto, citronela e cravo-da-Índia. “Eles parecem realmente espantar várias espécies de insetos indesejáveis”, afirma a bióloga.

Alho e vitamina B12

Muitos alegam que ao consumir esse tempero e essa vitamina nosso suor eliminaria um odor capaz de repelir os insetos. Mas nada disso tem comprovação científica!

Outras saídas

Roupas

Embora os mosquitos tenham a capacidade de picar através de tecidos, o uso de calças compridas e de blusas de mangas longas é uma barreira a mais para esses insetos inconvenientes. Apostar em tons claros é uma boa pedida. “É que eles se direcionam melhor para alvos escuros. Alvos claros têm uma maior reflexão de luz e isso confunde um pouco a visão deles”, ensina Sirlei. Não é necessário passar repelente embaixo das roupas, aplique apenas nas áreas expostas.

Telas e mosquiteiros

Eles são ótimos para proteger recém-nascidos e crianças pequenas. “As tramas devem ser finas, capazes de boa ventilação e impedir a passagem do inseto”, indica José Gabel, da SPSP. Mas é necessário se atentar a algumas medidas de segurança, principalmente no caso dos mosquiteiros. “Ele deve estar a uma altura que o bebê não consiga alcançá-lo, além de não ficar dentro do berço, para prevenir estrangulamentos”, orienta o pediatra.

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Ventilador e ar condicionado

O ar gelado repele os mosquitos. Por isso, recorra ao ventilador e ao ar condicionado sempre que possível – mas sem exagero!

Não acumule água

Os mosquitos se reproduzem na água. Portanto, nada de juntar umidade em pneus e vasos de plantas, por exemplo. Ah, e não se esqueça de cobrir a piscina e a caixa d’água! 

Evite usar perfumes fortes

Pernilongos, borrachudos e o próprio Aedes são atraídos por cheiros marcantes. E isso vale tanto para aquele creme ou perfume que você adora quanto para a colônia do filhote.

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