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Ambientes abertos são o suficiente para proteger crianças do coronavírus?

Especialistas explicam o que pais precisam ponderar na hora de frequentar parquinhos do prédio, piscinas, praias e até restaurantes.

Por Alice Arnoldi
25 set 2020, 13h20

A verdade é que passamos mais da metade do ano dentro de casa, precisando reestruturar toda a rotina da família e até mesmo repensar o que é diversão para manter quem amamos seguros do coronavírus. Só que as consequências deste isolamento social já são muitas, principalmente para a saúde mental dos pequenos, o que faz com que pais questionem se já não está na hora de fazer um passeio que lembre aos filhos que ainda existe uma vida do lado de fora.

Em uma tentativa de reduzir as possibilidades de contaminação, adultos tendem a optar por saídas que sejam ao ar livre. Só que o que explica Cristiana Meirelles, infectologista pediátrica, é que estar a céu aberto pode amenizar as chances, mas não as anulam completamente.

“Só é 100% seguro se realmente deixarmos a criança em casa, com os familiares, sem sair para canto nenhum. Portanto, o que tentamos é sempre minimizar os riscos de contaminação. Os lugares que são a céu aberto têm uma segurança maior porque você não aglomera muitas pessoas em um ambiente fechado e o ar circula melhor, tendo menos chance de se contaminar”, detalha a especialista.

O mesmo é reforçado pela pediatra Márcia Yamamura, especializada em infectologia pediátrica e professora da Escola Paulista de Medicina. “O que se sabe até o momento é que, como o vírus é transmitido nas gotículas de saliva, o fato de se estar em um ambiente mais ventilado minimizaria as que estão suspensas no ar. É muito semelhante ao sarampo, que é altamente transmissível e devemos evitar o contato próximo”, esclarece.

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Com a consciência de que apenas estar a céu aberto não protege as famílias completamente do coronavírus, Cristiana reforça que é preciso trabalhar com cuidados concomitantes, ou seja, que são feitos ao mesmo tempo. São eles: higiene correta e constante das mãos, uso de máscara e distanciamento social.

Neste momento de flexibilização da quarentena, sair com crianças demanda atenção redobrada dos pais, especialmente na hora de colocar na balança o que está em jogo, como o pequeno ser do grupo de risco ou algum familiar próximo estar mais suscetível à doença. Pensando nisso, listamos abaixo as orientações das pediatras a locais que famílias possam estar cogitando ir, para entender quais circunstâncias fazem com que eles sejam menos seguros para todos.

1. Parquinho do condomínio

Áreas comuns de prédios e condomínios estão reabrindo com a flexibilização, como os parquinhos. No passado, eles costumavam ser ótimas saídas para quando a criança precisava de distração, só que ao optar por usá-lo neste momento, é preciso cuidado.

Como lembra Márcia, o primeiro passo é não esquecer que a possibilidade só fica mais segura quando o parque é a céu aberto. Não arrisque caso a área que reabriu for uma brinquedoteca em ambiente fechado, com pouca ventilação, pois as chances de contaminação são maiores.

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Já na hora de frequentá-lo, Cristiana enfatiza: “Parque em local aberto só é seguro se os pais garantirem a higiene das mãos”. A medida é essencial já que não se tem o controle de limpar todos os brinquedos, por exemplo – ou seja, continua arriscado para quem espera minimizar 100% o risco de contágio.

Também é importante ficar atento com a quantidade de crianças que estão no ambiente. “É claro que a criança vai querer brincar com outras, mas o que temos orientado é manter como se fosse “clusters”, que são pequenos grupos”. Isso faz com que os pequenos estejam sempre em contato com os mesmos amiguinhos e as famílias consigam controlar a contaminação caso alguém apresente sintomas do coronavírus. A medida é semelhante ao que se tem pensado para o retorno das aulas.

Para os maiores de dois anos, também é imprescindível o uso de máscaras nos parquinhos e a troca sempre que ela umedecer ou sujar. Já para os que estão abaixo da faixa etária e o utensílio não é recomendado por risco de sufocamento, é importante que os cuidadores redobrem a atenção para que os pequenos fiquem mais distantes de outras crianças e tenham as mãos limpas com frequência.

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2. Piscinas e parques aquáticos

Com o aumento da temperatura, um banho de piscina sempre parece uma boa ideia, principalmente pela felicidade das crianças em contato com a água. Mas a diversão em uma área comum do prédio precisa de atenção.

“No caso da piscina, o grande problema é a aglomeração, porque o cloro da piscina inativa o vírus”, pontua Cristiana. Pensando nisso, é visto com bons olhos condomínios que fazem rotatividade na hora de usar o ambiente, para que famílias possam ficar distantes umas das outras, especialmente com crianças pequenas que costumam querer ficar perto uma das outras.

Márcia também enfatiza que é essencial que os adultos estejam atentos a política de higienização de onde mora, pois o contato entre os pequenos não é só dentro da água. Mas também fora da piscina, com toques em superfícies que, se não estiverem bem limpas, podem acabar sendo meios de contaminação.

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Já nos casos dos parques aquáticos – o governo de São Paulo, por exemplo, liberou a reabertura em setembro -, a pediatra explica que a situação é um pouco mais delicada já que as chances de aglomeração são maiores, ainda que com a capacidade de público reduzida. “Ninguém vai usar máscara e se ficarem várias famílias próximas, a chance de contaminação é muito grande. É o mesmo que a praia”.

3. Praia

Sim, construir castelinho de areia e ver o pequeno desbravando o mar com os pais são momentos deliciosos. Mas no atual cenário pode ser uma decisão perigosa, já que as notícias são de que as praias estão cada vez mais lotadas aos finais de semana.

Como explicou Cristiana, o passeio seria uma escolha certeira se fosse um ambiente com apenas uma ou duas famílias, mantendo o distanciamento social necessário. “Mas a questão é que quando a gente libera o uso desses lugares, acaba acontecendo aglomeração e, mesmo sendo ao ar livre, a chance de contaminação é muito grande”, enfatiza a pediatra.

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Em locais com água, o uso de máscara também fica prejudicado. Fora da piscina ou do mar, elas devem usadas. Entretanto, é preciso que elas sejam trocadas quando ficarem úmidas ou molhadas, pois perdem a barreira de filtro assim.

4. Restaurantes

Os restaurantes que estão voltando a funcionar estão sendo procurados com frequência pelas famílias, ainda que com a capacidade reduzida. E esse é um dos primeiros fatores que Márcia alerta na hora de escolher o estabelecimento para ir com o filho pequeno.

“Primeiro é avaliar o ambiente, se é aberto, fechado e se tem muita gente”, enumera a pediatra. Em seguida, confira se as mesas estão posicionadas respeitando o distanciamento social, já que a família ficará sem máscara quando estiver comendo. Não esqueça de colocá-la de volta quando for transitar pelo estabelecimento.

Atente-se também às medidas de higiene do local, como a preocupação de desinfectar mesas e cadeiras após o uso por outros adultos e se há pias e álcool em gel disponíveis para todos lavarem as mãos.

Ainda que este passeio pareça o mais fácil de colocar em prática, ele também é bastante delicado. Como lembra Márcia, é um serviço que demanda outras pessoas para acontecer e dificilmente se conseguirá ter controle completo da limpeza de todos os objetos que estão ao seu redor.

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