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Acupuntura em bebês e crianças: tudo o que você precisa saber

Conheça os benefícios promovidos pela tradicional técnica chinesa e os cuidados na hora de aplicá-la nos pequenos.

Por Chloé Pinheiro
30 jun 2017, 15h34

Utilizada há mais de dois mil anos na China, a acupuntura pode parecer não combinar muito com o público infantil à primeira vista. Mas essa é apenas uma impressão equivocada. Primeiro, porque o método é seguro – desde que aplicado pelo profissional correto – e a agulha é minúscula. Depois, porque pode ser uma ajuda e tanto para períodos difíceis do crescimento infantil.

“A partir do nascimento já é possível realizar as sessões, tanto para auxiliar no tratamento de algumas condições quanto para preveni-las”, aponta Márcia Yamamura, pediatra acupunturista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A equipe da médica já publicou um trabalho que mostrou que a técnica ajuda a diminuir as infecções em recém-nascidos internados na UTI neonatal.

Além do reforço para a imunidade, nos primeiros meses de vida a acupuntura pode entrar em jogo para auxiliar na aceitação do leite materno, colaborar para o funcionamento intestinal e facilitar um sono mais regular e tranquilo. Já para as crianças mais velhas, o método atua como complemento no alívio da dor em doenças musculoesqueléticas e também no tratamento de transtornos psicológicos, como ansiedade, hiperatividade e depressão.

Porque a acupuntura funciona

Existem duas maneiras de explicar os benefícios dessa técnica milenar para problemas tão diferentes. A primeira é mais conservadora ou, como dizem os especialistas, ocidental. Quando a agulha penetra na pele, ocorre um estímulo sensorial que viaja pelo sistema nervoso até o cérebro. “Ela não é um remédio, mas uma maneira de incentivar o corpo a fabricar o próprio remédio”, explica o pediatra acupunturista Nilton Kiesel Filho, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.

“Ela atua tanto na liberação de neurotransmissores como a substância P, que dosa nossa resposta a dor, quanto diretamente nos nervos da região ou órgão a ser tratado”, conta Brent Bauer, médico especialista em Medicina Integrada da Clínica Mayo, nos Estados Unidos. Serotonina, endorfina e outros neurotransmissores envolvidos no bem-estar também são impactados por esse estímulo.

A segunda explicação vem dos orientais criadores do método. “A medicina tradicional chinesa ensina que a acupuntura foca no Qi e em facilitar seu fluxo normal”, continua Brent. O tal do Qi é a energia vital que circula pelo corpo humano por canais chamados meridianos e cada um deles corresponde a um órgão: coração, cérebro, pulmão e por aí vai. “Uma dor no ombro, por exemplo, pode significar algum problema no meridiano do pulmão, então estimulamos pontos desse canal para que ele volte a fluir normalmente”, ensina Márcia.

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Como é feita nas crianças

Todos os especialistas são unânimes em afirmar que é preciso muita técnica e especialização para realizar as sessões em crianças. “O Conselho Federal de Medicina determina que é preciso ser médico para fazer acupuntura em pessoas de qualquer idade. No caso dos mais novos, é preciso ter ainda um amplo conhecimento da anatomia infantil, que é diferente”, ressalta Márcia.

“Antes dos 14 anos, a placa óssea ainda não está totalmente formada, por isso é preciso cuidado na hora da aplicação, uma vez que os ossos ainda estão um pouco ‘moles’”, detalha Kiesel. Tanto é que nos bebês, por exemplo, a cabeça não recebe os estímulos da agulha.

Com a técnica correta e um profissional treinado, o procedimento é totalmente seguro e sem efeitos colaterais relevantes. Nos pequenos, a sessão é mais curta e as agulhas são menores do que as utilizadas em adultos. “São 0,18 milímetros de diâmetro contra 0,25 milímetros e 8 milímetros de comprimento contra 30. Também estimulamos um número pequeno de pontos e o processo todo dura entre 5 e 15 minutos”, diferencia Márcia.

Há ainda versões da acupuntura que não usam agulhas: a auriculoterapia, que utiliza sementes de mostarda na orelha, em pontos que seriam correspondentes aos meridianos e órgãos, e a aplicação de laser nos pontos tradicionais para que o calor estimule os nervos no lugar da picada.

O que esperar do tratamento

Primeiro, uma criança bem mais relaxada e com mudanças positivas de comportamento. Por exemplo, é comum que o bebê fique bem sonolento depois da sessão. Nos mais velhos, os efeitos comportamentais são igualmente percebidos. “Há uma melhora geral de humor e rendimento escolar enquanto fatores negativos, como a agressividade e ansiedade, tendem a diminuir”, conta Márcia.

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O difícil ainda é convencer os pacientes e pais de que as agulhas são inofensivas. Isso porque, ao falar em agulha, já vem à nossa cabeça aquelas usadas para colher sangue, tomar vacina etc. Também há a impressão de que a sessão é dolorosa – mas não é. “É uma questão cultural, por isso antes de iniciar o tratamento é necessário fazer um trabalho de aceitação”, orienta Kiesel.

Já as reações adversas, apesar de não tão comuns, existem e são sérias, daí a importância de buscar um pediatra acupunturista qualificado. “Além do risco de hematomas ou sangramentos, há também a possibilidade do diagnóstico errado: ou seja, tratar uma dor de cabeça sem investigar o porquê desse sintoma”, destaca Márcia. Se a criança ficar chorona ou reclamar de dor depois das sessões, sinal de que é melhor procurar o médico.

Vale lembrar também que a acupuntura é um tratamento complementar. Ou seja, não substitui o uso de remédios já prescritos pelo médico ou outras terapias.

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