Continua após publicidade

Pesquisa relaciona o uso excessivo de antibióticos na infância à obesidade no futuro

Levantamento americano é o maior já feito a apontar o elo entre esse tipo de medicamento e o excesso de peso.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 22 out 2016, 22h44 - Publicado em 26 out 2015, 15h00

Nos últimos tempos, muito tem se falado dos riscos de tomar antibióticos a torto e a direito. Uma das grandes preocupações da ciência são as bactérias que, de tanto terem contato com o medicamento, criam resistência a ele, de modo que a droga deixa de agir como deveria. Outro possível efeito maléfico do uso indiscriminado desses remédios – principalmente na infância – é o excesso de peso. Isso mesmo! Estudos demonstram que os pequenos que recorrem com frequência a esse tratamento tendem a ser obesos quando mais velhos. E essa relação acaba de ganhar fortes evidências graças a uma pesquisa da Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

No trabalho – divulgado no dia 21 de outubro de 2015, no periódico International Journal of Obesity -, cientistas americanos notaram que os antibióticos administrados na infância podem ter um efeito cumulativo no índice de massa corporal (IMC) – utilizado para avaliar se um indivíduo está dentro do peso considerado saudável. “Nossos dados sugerem que a cada vez que as crianças recebem um antibiótico, elas ganham peso mais rápido ao longo do tempo”, comenta o professor Brian S. Schwartz, líder da investigação.

Para chegar a essa conclusão, o time de Schwartz analisou nada menos do que 163 820 crianças e adolescentes com idades entre 3 e 18 anos. Os pesquisadores analisaram o IMC e a altura dos voluntários e também o uso que eles fizeram de antibióticos ao longo de suas vidas. De acordo com os resultados, aos 15 anos, os participantes que tomaram esse tipo de medicação sete ou mais vezes durante a infância pesavam, em média, 1,4 quilos a mais do que aqueles que não tiveram contato com o remédio. “Embora o aumento de peso atribuído aos antibióticos seja modesto na adolescência, a conclusão de que esse efeito é cumulativo aumenta a probabilidade de que essa ação continue na fase adulta”, alerta Brian Schwartz.

Qual a relação entre antibióticos e excesso de peso?

A ciência ainda está investigando as causas dessa ligação. A principal suspeita é que esses medicamentos contribuam para os quilos extras devido à sua ação na microbiota, que é a população de bactérias que habita o corpo humano. Boa parte desses micro-organismos se encontra no trato gastrointestinal e tem a função de ajudar o organismo a digerir os alimentos e absorver seus nutrientes. Acontece que, quando um antibiótico age, ele não mata apenas as bactérias que estão fazendo mal, mas também essas que são benéficas. E se isso ocorre várias vezes, existe o risco de alterar a forma como a microbiota aproveita os alimentos, aumentando o número de calorias absorvidas. O resultado são quilos a mais.

Continua após a publicidade

Cautela na prescrição

Brian Schwartz, docente da Universidade Johns Hopkins, alerta para a necessidade de que tanto os pediatras quanto os pais evitem o uso indiscriminado desses remédios. “A administração sistemática de antibióticos só deve acontecer quando houver forte indicação. Pelo que estamos vendo, é mais importante do que nunca que os médicos mantenham seus jovens pacientes longe de drogas que, além de não ajudá-los, podem prejudicá-los no longo prazo”, adverte o especialista. 

No Brasil

Desde 2010, a venda de antibióticos sem receita médica é proibida por lei em território brasileiro. Para adquirir o medicamento na farmácia, é obrigatório que o pedido esteja em letra legível e sem rasuras, que contenha o nome do remédio ou da substância prescrita, a dosagem ou concentração, a forma farmacêutica, quantidade e posologia. Além disso, a receita é válida por apenas dez dias. 

Publicidade