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Parto cesárea: quando ele é indicado, como é o procedimento e o pós-parto

Saiba, passo a passo, como é um parto cesárea: da preparação ao pós-operatório.

Por Camila Lafratta (colaboradora)
Atualizado em 26 out 2016, 11h45 - Publicado em 23 Maio 2015, 12h22

 

O que é o parto cesariano?

A cesárea é um tipo de parto que consiste essencialmente de um corte no abdômen e outro no útero (passando por outras camadas), que abrem um espaço pelo qual o médico puxa o bebê. Segundo dados do Ministério da Saúde, 40% dos partos realizados no Brasil pela rede pública foram cesarianas; na rede particular, esse número sobe para 85%. Ambas as porcentagens estão bem acima da recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 10 a 15%.
 
O debate acerca desse número é fervoroso – médicos, especialistas e pacientes têm diferentes pontos de vista sobre a melhor maneira de conduzir um parto, no que diz respeito aos benefícios e malefícios que uma intervenção cirúrgica pode causar à mãe e ao bebê. Aqui, fazemos um “bê-a-bá” da cesárea: tudo o que você precisa saber sobre esse tipo de parto para ajudá-la na sua decisão.

Por que fazer a cesárea?

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Existem duas vias que podem levar uma futura mãe até o centro cirúrgico na hora de ter o seu bebê: a da necessidade e a da escolha. A primeira é simples – chegou a hora de o bebê sair, mas isso não acontece. Essa situação pode ocorrer por uma série de motivos. “Às vezes, simplesmente não há dilatação suficiente”, explica a Dra. Alessandra Bedin, ginecologista obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein. Outros fatores de complicação podem ser o posicionamento do bebê, seu tamanho, o cordão umbilical enroscado no pescoço, trabalhos de parto muito extensos (que podem prejudicar a oxigenação do bebê). Nenhuma dessas situações automaticamente faz a cesárea ser obrigatória: caberá ao médico responsável fazer essa avaliação e, caso julgue ser a melhor opção, aconselhar a mãe a optar pela cirurgia.

 

A outra via é a das mulheres que decidem que farão a cesárea antes mesmo de chegar a hora de o bebê nascer. Segundo a Dra. Bedin, os motivos para essa escolha são muitos: “Muitas delas têm medo da dor do parto normal, mas essa não é a única razão. O medo de o períneo (região localizada entre a vagina e o ânus, que sustenta todos os órgãos pélvicos) não voltar ao normal após o parto também é grande, assim como o de não chegar a tempo ao hospital se esperarem o trabalho de parto começar naturalmente”, esclarece ela.

Como é a preparação?

“É recomendável que a gestante faça um jejum de 8 horas de alimentos sólidos e leite e de 4 horas para água no período que antecede à cirurgia”, explica a Dra. Alessandra Bedin, ginecologista obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein. “Mas isso é relativo. A mulher que tiver que realizar uma cesárea não planejada não terá grandes problemas por não ter jejuado, apenas a possibilidade de sentir um pouco de náusea durante a cirurgia”, completa.

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Como é a cesárea?

Dentro do centro cirúrgico, ocorre a aplicação da anestesia, na região lombar da paciente, entre duas vértebras da coluna. A dor da picada não é intensa, mas é perceptível. Existem três variações de anestesia: a raquidiana (ou raquianestesia), a peridural e o duplo bloqueio. Todas prezam pela possibilidade da mãe permanecer acordada durante o parto, mas sem sentir dor do peito para baixo. Qual (ou quais) será utilizada no parto depende de cada caso. “A aplicação da anestesia é direcionada de acordo com a paciente, seu quadro clínico, a situação do trabalho de parto, entre outros fatores”, afirma o anestesiologista Dr. Oscar César Pires, Diretor do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA).
 
A diferença básica entre os tipos de anestesia é o local onde o anestésico é aplicado. “A ráqui é administrada muito próxima aos nervos da medula espinhal”, explica o Dr. Ricardo Goldstein, anestesiologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “Já a peridural é colocada em um espaço mais distante e com uma membrana separando-a dos nervos. O duplo bloqueio nada mais é que a combinação entre as duas técnicas: um cateter é colocado dentro do espaço peridural para posterior administração do anestésico durante o trabalho de parto”. Além disso, existe uma diferença de intensidade dos medicamentos e tempo do efeito de cada um: a raquidiana é administrada em menor volume (2 ou 3 ml) e tem efeito total em, no máximo, 2 minutos, enquanto a peridural, que  leva de 7 a 10 minutos para anestesiar a paciente, pode chegar a um volume de até 30 ml.
 
Assim que a anestesia faz efeito, é realizada uma incisão transversal de aproximadamente 10 cm na pele, por cima do osso púbico (naquela região conhecida como “linha do biquíni”), e outra menor no útero, cortando oito camadas de tecido no caminho. Rompida a parede uterina e a bolsa das águas, o médico tem acesso ao bebê, que é puxado. Fora da barriga, ele é avaliado por um médico, que verificará sua oxigenação, cortará o cordão umbilical e o entregará para o neonatologista, para uma avaliação mais completa. Tudo correndo bem, ele será mostrado à mãe e entregue ao acompanhante, enquanto a placenta é retirada e os pontos são dados em cada uma das camadas de tecido cortadas.
 
Caso não haja maiores complicações, a cesárea dura cerca de uma hora.
 
Pós-parto 

Como toda cirurgia, a cesariana tem uma etapa inevitável: o pós-operatório. A intensidade e duração das dores, desconfortos e limitações da paciente variam para cada pessoa, mas, mesmo nos casos mais simples, o pós da cesárea tende a ser pior que o do parto normal.
 
O que acontece após a finalização dos pontos varia de hospital para hospital. “Em alguns hospitais, já é uma prática comum permitir que a mãe fique na sala de cirurgia por um tempo maior”, afirma a Dra. Alessandra Bedin. “Dessa forma, assim que ela se recupera da anestesia, já pode segurar o bebê e tentar amamentar em um ambiente mais protegido”. Outras instituições normalmente levam a mãe para uma sala para se recuperar dos medicamentos. Após cerca de uma hora e meia, o efeito passa e a mãe pode segurar seu filho.
 
Independente dos procedimentos da instituição, a recomendação é que a paciente fique de 6 a 12 horas mais quieta, sem fazer esforço. É necessário ficar, no mínimo, 48 horas internada antes de receber alta, mas esse período pode se estender por até 60 horas ou até mais, em casos em que tenha havido algum tipo de complicação durante o parto.
 
Desse ponto em diante, o desenvolvimento varia de caso a caso. Segundo a Dra. Lucila Nagata, a dor mais intensa deve passar entre 5 e 7 dias, mas dores menores e desconfortos podem chegar a durar semanas ou até meses. Muitas mulheres que optam pela cesárea por medo da dor do parto normal se alarmam ao saber que não conseguirão evitá-la na cesariana também. “A dor é uma defesa”, explica a Dra. Bedin, “e, a não ser que seja acompanhada por sangramento, é perfeitamente natural”. É necessário lembrar sempre que, ao optar por realizar uma cesariana, você está se submetendo a uma cirurgia e a recuperação, por mais tranquila que seja, terá suas dificuldades.
 
A Dra. Bedin destaca o uso de medicamentos para ajudar na manutenção desse período: “Com o uso de analgésicos e anti-inflamatórios, o pós da cesárea não é mais o monstro que já foi”, diz ela. No entanto, reconhece que o parto normal apresenta muito menos desconfortos para a paciente, que se sente mais à vontade para se movimentar e cuidar do bebê desde cedo. Ambas as médicas aconselham a utilização da cinta modeladora para amenizar a dor, mas alertam sobre a necessidade de discutir esse uso com o médico antes. Exercícios leves, como yoga, caminhadas e alongamentos, só após 30 dias e apenas com autorização médica.

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