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Os benefícios do parto normal para o bebê

Da respiração ao sistema imune, a ciência comprova: vir ao mundo naturalmente, quando possível, ajuda a garantir um início de vida mais saudável e seguro.

Por Chloé Pinheiro
19 out 2017, 20h18

O parto vaginal ainda pode parecer cercado de mistérios, mas é o meio de nascimento considerado ideal pelos especialistas. Primeiro, pelo fato de nascer quando a hora certa chega. “É o momento em que o bebê está completamente formado, maduro, e isso reduz muito as chances de complicações e internações na UTI neonatal”, destaca Alberto Guimarães, ginecologista e obstetra do Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.

“Tanto que é uma substância liberada pelo pulmão do feto que avisa o corpo da mãe que está na hora do trabalho de parto começar”, continua o médico. A partir desse alerta, o organismo da mulher aumenta a produção de hormônios como a ocitocina, que vão facilitar as contrações uterinas e musculares, e o cortisol, que regula os níveis de estresse.

Com tudo pronto e os organismos da mãe e do bebê preparados espontaneamente para o final da gestação, o filho finalmente é despejado do ventre materno – processo que, diferente do que se pensa, pode, sim, ser menos doloroso com o uso de anestesias. Essa expulsão natural, aliás, é outra vantagem do parto normal.

“Enquanto o bebê passa pelo canal vaginal, seu tórax é comprimido de maneira que facilita a saída do líquido amniótico e diminui a incidência de problemas respiratórios”, explica Desireé de Freitas Valle Volkmer, pediatra e chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

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A forcinha para o pulmão do recém-nascido não para por aí. Os obstetras têm incentivado a permanência do cordão umbilical ligando bebê e placenta por alguns minutos. São cerca de três minutos em que o recém-nascido conta com a ajuda do oxigênio fornecido pela placenta. “Isso ainda diminui o risco de anemia no início da vida”, realça Guimarães.

(PHDG/Thinkstock/Getty Images)

Micróbios do bem

Em sua descida pelo canal vaginal da mãe, o feto é recoberto por bactérias e fungos presentes na microbiota da região. O contato com esses pequenos organismos colabora para um desenvolvimento saudável porque eles ajudam a colonizar o intestino da criança, que desenvolverá a partir daí sua própria microbiota. “E, como sabemos hoje, a saúde do intestino é tão importante que ele é considerado o novo cérebro”, ensina Desireé.

Já no útero, o feto começa a receber alguns micro-organismos necessários para seu próprio corpo via placenta, mas é na passagem final que o banho fica completo. “Esses agentes colaboram para a maturação do sistema imunológico e deixam o bebê melhor preparado para se defender de agentes externos”, complementa Guimarães. Algumas pesquisas mostram também que esse tipo de nascimento diminui a incidência de alergias.

Um momento cercado de carinho

“Mais do que um simples nascimento, cada parto é um acontecimento único, que deve ser especial para a família”, diz Desireé. Especialmente porque o elo entre mãe e filho começa a se formar já nos primeiros minutos de vida. “No normal, esse contato pele a pele é mais fácil e pode ocorrer imediatamente após o nascimento”, complementa a pediatra.

Além disso, a mãe se recupera mais rápido, o bebê nasce com menos risco de ir para a UTI neonatal e com chances maiores de uma infância saudável. Mesmo assim, o índice de partos normais ainda deixa a desejar no Brasil.

Longe de ser regra

Em 2015, a Organização Mundial de Saúde emitiu um alerta geral para o excesso de cesáreas realizadas em alguns países, entre eles o Brasil. Segundo a entidade, o ideal é que no máximo 15% dos nascimentos de um país sejam cirúrgicos, enquanto aqui ainda são mais da metade.

Desde então, Ministério da Saúde e outras entidades, como os principais hospitais e universidades do Brasil, intensificaram seus esforços na promoção do parto normal e já obtiveram algum resultado. Em março de 2017, o número de cesáreas caiu pela primeira vez na história, para 55,5% dos partos – cenário ainda longe do ideal.

Já em junho deste ano, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo divulgou que na rede privada as cesáreas chegam a 82,6%. “Precisamos trabalhar para conscientizar profissionais de saúde e pacientes de que o parto natural e humanizado é a melhor opção para mãe e bebê”, explica Guimarães.

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(NataliaDeriabina/Thinkstock/Getty Images)

Segundo o especialista, uma das barreiras enfrentadas é o fato de muitas pessoas – incluindo mães e médicos – ainda associarem o momento à dor intensa ou a uma ideia estereotipada de parto humanizado. “Não quer dizer que a mulher não pode tomar anestesia ou deve comer a placenta, por exemplo. Pelo contrário, suas escolhas são respeitadas e ela é assistida durante todo o processo”, completa o obstetra.

A humanização vale inclusive para a cesárea, que aliás não deve ser demonizada – é um instrumento valioso e que salva vidas quando necessário. O problema está na cesárea marcada, ou seja, aquela que já está agendada sem sequer dar chances do trabalho de parto começar espontaneamente. O ideal seria, salvo exceções, esperar o momento certo chegar para, aí sim, optar pela cesárea se o parto normal não for viável.

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“Há maneiras de diminuir o risco e obter parte dos benefícios do parto normal e humanizado na cesariana”, reforça Desireé. Uma delas é estimular o contato entre mãe e bebê e estimular a primeira mamada ainda na primeira hora de vida mesmo quando o parto é cirúrgico. Alguns estudos apontam, ainda, que passar os fluidos da vagina da mãe imediatamente após a retirada cirúrgica com o auxilio de uma gaze pode ajudar a transmitir as bactérias do bem para o filho.

 

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