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O fim da licença-maternidade e a difícil decisão de retomar ou não a carreira

O momento de voltar para o trabalho após o nascimento do bebê se aproxima e você está aflita? Confira o depoimento de uma mãe que viveu o mesmo dilema.

Por Luísa Massa
Atualizado em 26 out 2016, 11h46 - Publicado em 15 Maio 2015, 20h03

Marilia Ometto, 32 anos, é mãe da Clara, de 1 ano e 5 meses, economista e idealizadora do blog Mamãe Plugada. Aqui, ela fala sobre como foi a decisão de abandonar o cargo de executiva em uma grande empresa após o nascimento da filha:

“Com o fim da licença-maternidade, muitas mães ficam em dúvida sobre voltar ou não para o trabalho. Essa é uma decisão muito difícil e acredito que só quem passou por ela sabe realmente como é. Vários fatores afetam essa escolha: satisfação profissional, contribuição para a renda familiar, apoio do companheiro, entre outras coisas. Comigo não foi diferente.

Fui criada para ser uma mulher independente e lutar pelos meus objetivos, por mais distantes que eles estivessem. Na minha infância, eu tinha facilidade para aprender as coisas e era uma criança inteligente, mas me desestabilizei muito com a separação tumultuada dos meus pais e as brigas que surgiram. Por conta disso, passei a não ir tão bem na escola e confesso que me perdi um pouco. Porém, na adolescência, os valores da base da educação que eu recebi começaram a ficar evidentes para mim. Eu sabia que queria ser uma mulher independente e precisaria alcançar algumas metas para que isso acontecesse. Então, resolvi me focar e estudar para passar no vestibular e ingressar em uma boa universidade. Me dediquei bastante e deu certo: fui aprovada em Ciências Econômicas em excelentes faculdades e tive que escolher para onde iria – acabei optando pela USP.

Durante o curso, eu continuei me esforçando e tirava boas notas. Participei de pesquisas científicas, estagiei em boas empresas e até morei no exterior para adquirir fluência na língua inglesa. Depois de concluir a faculdade, surgiu a oportunidade de trabalhar em uma empresa em São Paulo. No primeiro mês nesse emprego, consegui dobrar o meu salário. Em minha trajetória profissional, trabalhei em renomadas corporações, recebi promoções e cresci muito – eu ganhava mais do que o meu marido.

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Não sei se vocês notaram, mas no meio dessa história de ser uma mulher independente, eu não citei em nenhum momento o desejo de ser mãe. Pois é, eu realmente não pensava nessa questão, pois estava focada em construir uma carreira sólida. Meu pai sempre dizia que um dia o relógio biológico da maternidade iria soar para mim e ele estava certo. Com 30 anos, decidi que era o momento de engravidar. Consegui o positivo logo na primeira tentativa – o que me deixou muito feliz, mas também assustada.

Eu vivia uma mistura de sentimentos: estava alegre porque a gravidez tinha sido planejada, mas ao mesmo tempo, eu não sabia como conciliaria a maternidade e a carreira. Meu marido é piloto de avião e fica muitos dias fora de casa. Também moramos longe de todos os familiares e não podemos contar com a ajuda deles nas tarefas do dia a dia. Além disso, eu sempre trabalhei muito – mais do que a minha carga horária – e viajava constantemente. Mesmo assim, decidi deixar rolar e ver como as coisas aconteceriam quando a Clara nascesse.

Quando contei a notícia da gravidez em êxtase para a minha equipe de trabalho, percebi que as pessoas começaram a olhar para mim de uma forma diferente. Nossa sociedade é machista e a área que eu atuava (mercado financeiro) não foge nenhum um pouco da regra. Naquele momento, eu levei um baque porque não senti que eu estava sendo apoiada – muito pelo contrário! Eu valorizava demais todo o caminho que tinha percorrido para estar ali, mas comecei a perder até mesmo a vontade de continuar trabalhando. Dessa maneira, meus conflitos internos só cresciam.

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Os nove meses se passaram, eu sai para a licença-maternidade e a Clara veio ao mundo. Com o nascimento da minha flha, eu tive certeza de que nada na minha vida importava mais do que ela – um amor incondicional, que eu nunca tinha conhecido antes, invadiu o meu coração. A decisão de parar temporariamente de trabalhar para cuidar dela me amedrontava, mas confesso que era algo que não saía da minha cabeça. Mas, com o término da licença, acabei voltando para o meu trabalho.

Para fazer isso, tive que colocar a Clara em uma escolinha em período integral por doze horas diárias. Fiquei com ela durante uma semana para acompanhar o período de adaptação. Eu ainda estava muito em dúvida sobre o que deveria decidir. Paguei para ver, mas no fundo, eu sabia que a situação era insustentável. Afinal, eu trabalhava uma jornada de 44 horas semanais. Como moro em São Paulo, gastava no mínimo 1 hora para ir para o trabalho e 1 hora para voltar para casa e mal conseguia ficar com a pequena, que também passava a maior parte do tempo na escola.

Eu estava sempre correndo para dar conta de todas as tarefas. Tudo ficou muito difícil, então, conversei com o meu marido, fizemos as contas e decidi que eu pararia de trabalhar temporariamente na carreia que eu tinha escolhido. Em nenhum momento eu me arrependi da minha escolha. Claro que eu sinto falta do ambiente de trabalho, de me sentir valorizada profissionalmente e de ter o meu salário. Mas o que me consola é saber que eu sou uma mãezona e que posso acompanhar de perto o crescimento da minha filha.

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Não acredito que eu estou me anulando. Sou focada e sei que no momento certo vou arrumar um emprego em um local que permita que eu concilie o meu papel de mãe com o de profissional, que entenda que eu posso sair no meio do expediente para levar a minha filha ao pediatra porque eu produzirei em outro momento. Hoje eu posso dizer que me sinto plena, pois sou realizada com a família que eu construí. Também sou feliz por ter tido a oportunidade de tomar a decisão que eu tomei, de poder acompanhar e estar perto da Clara durante a sua primeira infância. Ainda assim, sou uma mulher destemida, tenho a alma independente e acredito que sempre vou correr atrás dos meus sonhos”.

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