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Crianças com trejeitos de adulto

Imitar os pais é natural e pode ser uma delícia para os pequenos. Mas, quando a brincadeira passa da conta, é preciso ficar atento.

Por Thiago Perin (colaborador)
Atualizado em 23 fev 2017, 19h17 - Publicado em 17 Maio 2015, 21h17

Toda criança gosta de imitar os adultos. “Por volta dos dois anos, os pequenos começam a ter vontade de se vestir e agir como os pais e os familiares mais velhos. É perfeitamente normal”, diz a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo, em São Paulo. Mas, há casos em que a imitação vai longe demais e a criança começa a falar e agir com trejeitos de adulto.

Um bom exemplo é a apresentadora e atriz mirim Maisa, que fez sucesso ao aparecer no SBT ao lado de Sílvio Santos. Em frente às câmeras, Maisa, desinibida, falava como se fosse gente grande, mas houve ocasiões em que ela cedeu à pressão e, como uma criança normal, caiu no choro e pediu pela mãe. Transbordaram críticas. Será que é saudável incentivar esse tipo de comportamento em uma criança?

Segundo especialistas, incentivar a criança a agir como adulto é, na prática, encurtar sua infância. “Cria-se nela uma necessidade de desempenhar um papel que não é compatível com a sua idade. Muitas vezes, elas se comportam dessa forma para se sentirem reconhecidas e aceitas pelos pais”, diz a psicóloga familiar Liana Kupferman, de São Paulo. Na tentativa de manter essa posição, a criança “adultificada” pode se tornar agressiva e, sem conseguir lidar com a frustração, começar a ter problemas na escola e até dificuldade em se relacionar com colegas da mesma idade.

“No futuro, se essa questão não for trabalhada, pode levar a conflitos internos, dificuldade de adaptação e até gerar alguma regressão de atitudes para resgatar a fase importante da infância que foi perdida”, diz a psicoterapeuta infantil Vanessa Sapiro, de São Paulo. “Casos de depressão e de transtornos de ansiedade vêm crescendo absurdamente na população jovem”, completa Rita Calegari.

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É fato: quando a criança olha para o adulto, tem vontade de fazer as mesmas coisas que ele faz. Mas há um processo natural: conforme ela vai crescendo, adiciona elementos ao dia a dia. “A criança cria expectativa pelas coisas bacanas que vêm com a idade. Se pular essa estapa, ela perde o encantamento pelas coisas gostosas do mundo adulto. Quando cresce, a única novidade é a responsabilidade”, diz Rita. É normal que, então, o jovem se sinta entediado, deprimido, e até adoeça.

A atitude dos pais, como sempre, é fundamental. Imitar o adulto, a criança vai mesmo, mas depende dos pais reforçar ou não esse comportamento. “Se o pequeno já estiver acostumado a agir como gente grande, os pais devem fazer um autoexame de consciência para identificar como suas atitudes estão influenciando os filhos”, diz Vanessa. “O ideal é que não tentem cortar os hábitos de uma hora para a outra, e sim aos poucos, ao mesmo tempo em que comecem a valorizar outros aspectos da personalidade do filho, condizentes com sua idade”, diz Rita Calegari.

“Ser flexível com o pequeno, mostrar que ele mesmo tem espaço para erros, dúvidas e dificuldades é um bom começo para que ele se identifique com a totalidade que é o ser humano”, diz Vanessa Sapiro. “É essencial respeitar a fase em que o seu filho se encontra, com atividades que ele consiga acompanhar”, finaliza.

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