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O que fazer quando seu filho quer os mesmos brinquedos dos amigos

Seu filho começa a frequentar a escola, faz as primeiras amizades e logo vem o pedido: “mãe, eu quero um brinquedo igual ao do meu amiguinho”. Acontece que nem sempre dá para ceder aos desejos do pequeno. Entenda as origens deste comportamento e saiba como contorná-lo.

Por Bruna Stuppiello (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 23h28 - Publicado em 31 Maio 2015, 16h45

 

Por que meu filho quer o brinquedo do amigo?
Existem alguns motivos. Um deles é a questão da imitação. “A criança tende a reproduzir o comportamento de pessoas que admira, por isso quer se parecer com elas e ter os objetos que possuem. É algo natural”, explica a pedagoga Valéria Cantelli, vice-líder do Grupo de Estudos em Educação Econômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A vontade de se sentir parte de um grupo é outra motivação frequente. “Uma boneca da moda, por exemplo, não é apenas um brinquedo, tem todo um significado de pertencimento por trás. A criança percebe que, dependendo do círculo social em que se relaciona, ter determinado produto significa fazer parte do grupo”, justifica a pedagoga Monica Fantin, professora do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina.

Para a socióloga Anete Abramowicz, professora do curso de pedagogia da Universidade Federal de São Carlos, este desejo de ser aceito por meio de produtos iguais ocorre porque a sociedade é construída com base em modelos hegemônicos, como o fato de toda menina ter uma boneca de determinada marca. “É muito difícil para uma criança, sendo tão nova, conseguir afirmar sua singularidade”, conta.

No início da infância, a criança é iniciada em diversas áreas da vida. Há o campo da família, do saber, das relações de poder e também o do consumo. “A criança é introduzida no mundo do consumo de uma maneira muito perversa e tem dificuldade de resistir a ele”, conta Abramowicz. Para a psicóloga Laís Fontenelle, do Instituto Alana, em São Paulo, a publicidade é uma das maiores responsáveis por essa imposição. “A criança é mais vulnerável aos anúncios, pois não tem capacidade crítica e de pensamento formadas, até os 8 anos a maioria ainda confunde a fantasia com a realidade”, esclarece Fontenelle.
 
Melhor prevenir
Os pais podem minimizar o desejo de consumo dos filhos com algumas atitudes. Para começar, é importante que eles cumpram um clássico: dar o exemplo. Não adianta reclamar que seu filho pediu um brinquedo igual ao do colega se você está endividado porque comprou um carro idêntico ao do vizinho. “Esse negocio de limitar aos filhos o que não limitam a si próprios é besteira, as crianças aprendem com aquilo que fazemos”, avisa Abramowicz.

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Outra sugestão é reservar um tempo para que a criança pratique outras atividades além de assistir televisão. Assim, ela não se expõe tanto à publicidade. “É preciso que os pais tenham uma rotina para os filhos, com horários e oportunidades para que eles se desliguem dos programas de TV e façam outras coisas”, aconselha Cantelli. Conversar sobre aquilo que está sendo transmitido nos canais também é uma boa alternativa.

Critério na hora de escolher a escola também poupa a todos de problemas futuros. “Um colégio que aceita o desfile de vaidades, ou seja, as crianças circulando com os mais variados brinquedos ou que não está de acordo com os valores da família pode não ser uma boa opção”, diz Cantelli.

Um pensamento frequente entre os pais não ajuda em nada a conter o desejo de consumo das crianças. Trata-se da intenção de dar ao filho tudo o que não tiveram na infância. “Nessa ânsia de oferecer o melhor, estamos atrapalhando o desenvolvimento da criança. Os pais não consideram que o aprendizado dos limites deve acontecer na infância”, alerta Cantelli. Assim, a criança precisa saber diferenciar desejos de necessidades, esperar e  lidar com os “nãos”. “Essas são preciosas lições para a formação de valores, se desejamos que nossos filhos tenham uma relação equilibrada com o consumo”, conta Cantelli.     
 
Compro ou não?
Diante da carinha de pidão do pequeno, os pais devem tentar compreender o que há por trás da vontade. “Preste atenção no que aquela atitude quer dizer. Será que a criança quer compensar uma ausência? Ou se sentir incluída?”, questiona Fantin. Pergunte a seu filho sobre os brinquedos que ele já tem que são parecidos com o que deseja, como iria empregar o objeto em suas brincadeiras, entre outros pontos. Assim, é possível até fazer com que a criança mude de opinião ou perceba que, de fato, aquele brinquedo é muito importante para ela. “Se for mesmo tão significativo, os pais podem comprar o produto, porém, é importante valorizar a compra para que não haja uma banalização do presente”, explica Fantin. Uma das maneiras de tornar a compra especial é prometendo-a para uma data específica, que pode ser o dia das crianças, o aniversário, o natal… “Ensine o pequeno a esperar, a cultivar as tradições e a acompanhar, no calendário, quantos dias faltam para a celebração”, aconselha Cantelli.

Outra maneira interessante de lidar com a vontade do filho de ter o brinquedo do amiguinho é propor trocas, que podem ser promovidas pelas escolas. “Já os pais, podem convidar o colega do filho para visitá-lo e pensar nos brinquedos que ele tem e que poderiam complementar a brincadeira dos dois”, sugere Cantelli.

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Uma boa alternativa é instituir  mesadas, ou melhor, semanadas para as crianças. “A estratégia representa a administração do dinheiro e pode começar a ser feita entre os 4 ou 5 anos”, explica Cantelli. Os pais devem oferecer quantias pequenas e combinar com os filhos que, uma vez por semana, eles irão receber o dinheiro. “Os menores de 11 anos tem dificuldade em lidar com o tempo e com uma quantia maior”, diz Cantelli. Mas, é fundamental que os pais dêem orientações em relação ao dinheiro, para que os filhos saibam o quanto terão que poupar para ter determinado produto.
 
Passando pelas lojas de brinquedo
A família deve estipular regras em relação ao consumo explicá-las aos filhos. Vale reforçar as condições e fazer acordos, antes de uma ida ao shopping, por exemplo. “Deixe claro o que ocorrerá naquele passeio. Por exemplo, explique que vocês estão a caminho do shopping, mas que vão comprar apenas um lanche e ir ao cinema”, conta Fantin. É essencial não ceder ao que foi combinado.

Ao deixar as regras claras, é importante saber aplicá-las e dizer “não” quando necessário. “Nesse caso, esclareça por exemplo que, apesar de o amigo ter determinado objeto, você não irá comprá-lo. Se for algo fora do alcance financeiro da família, deixe claro que existe essa diferença social, mas que a criança também deve ser valorizada por aquilo que tem e pode fazer”, conta Fantin.    

Mesmo com muita conversa, os pais precisam se preparar para possíveis birras, carinhas de tristeza, choramingos, chantagens, entre outros. “O comportamento de insistência mostra a capacidade de persuasão de seu filho e é comumente usado para alargar limites e conferir  nossa consistência e coerência”, diz Cantelli.

Compras da família
Segundo uma pesquisa realizada com famílias que têm filhos de até 10 anos, pelo canal Discovery Kids, 91% dos pais levam os filhos junto quando vão fazer compras. Assim, a influência das crianças na aquisição de produtos é muito forte.  57% delas opinam nas seleção de biscoitos e guloseimas, 47% na compra de produtos de higiene pessoal, 42% na escolha de sucos e 11% influenciam na aquisição do carro.

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Quando se trata de decisões que envolvem toda a família, a opinião da criança sobre o assunto pode ser ouvida, desde que a decisão seja de interesse dela. Mas, a palavra final é dos pais. “Uma vez decidido, é fundamental explicar porque a opinião do baixinho foi ou não acatada”, acrescenta Fantin.

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