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Como tornar a transição da criança para a própria cama mais tranquila

Entre os contos de fadas e os pesadelos, são muitas as dúvidas dos pais quando o assunto é deixar ou não deixar os filhos dormirem com eles. Saiba o que dizem os especialistas.

Por Olivia Nachle (colaboradora)
Atualizado em 20 jun 2017, 20h26 - Publicado em 29 Maio 2015, 14h32

Não é de estranhar a dificuldade que algumas mães têm em deixar o recém-nascido dormir em um quarto diferente do seu. Afinal, foram nove meses de gestação e um vínculo intenso. Por isso, é comum que algumas queiram manter o bebê no mesmo ambiente que ela na esperança de ter controle da situação e evitar angústias durante a noite. Com isso, ele vai crescendo, crescendo e nada de mudar para outro cantinho. E, quando isso acontece, muitas vezes o pequeno ganha a permissão de ir dormir com os pais na hora que quiser. Quando se percebe, o costume está instalado e ele já não consegue passar a noite longe da cama deles.

Não faltam teorias e opiniões a respeito do impacto dessa bola de neve no comportamento da criança no futuro. Para esclarecer dúvidas e evitar que alguns mitos virem realidade, fomos ouvir alguns especialistas a respeito do assunto que costuma tirar o sono de pais e filhos.
 
1. Até quando o bebê deve permanecer no quarto dos pais?
Até o momento em que os pais tiverem segurança para deixar o pequeno no seu próprio cantinho. Muitas vezes, quando o recém-nascido chega em casa, a mãe, em especial, se sente mais tranquila em tê-lo próximo de si. Daí, acaba colocando o berço no quarto do casal. O contato direto entre mãe e filho, que durou cerca de nove meses, leva um tempo até ser quebrado: o bebê vai aos poucos se adaptando ao meio e a mãe se restabelecendo e se reestruturando psicologicamente para se acostumar à identidade materna.
 
2. Quanto mais velha, mais difícil fica essa transição?
Não existe uma idade certa para a transição. Ela deve acontecer quando os pais se sentirem seguros e confortáveis com isso. Mas, claro, quanto mais velha ela fica, mais difícil esse momento se torna. Isso porque o pequeno se acostuma com a presença do adulto para conseguir pegar no sono.
 
3. Crianças que crescem dormindo na cama dos pais podem ter alguma sequela psicológica, como se tornar inseguras?
Não se trata de uma situação de causa e efeito direta. O que pode levar a criança a se tornar insegura, por exemplo, resulta de diversos fatores.
 
4. Como acostumar a criança ao seu próprio quarto?
Não existe uma receita pré-formulada para que o pequeno passe a dormir no próprio quarto, mas algumas dicas são válidas: 

  • De acordo com a psicóloga Isis Pupo, de São Paulo, para um bebê que dorme no carrinho ao lado da cama dos pais, é interessante fazer com que ele continue no carrinho no seu próprio quarto por algumas semanas para que, então, se inicie a transferência para o berço. O recém-nascido necessita de uma rotina e mudanças constantes podem causar estresse e ansiedade. Durante o processo, é necessário que exista uma hora certa para dormir e que se converse com o bebê: ele entende muito mais do que se acredita. 
  • Bichinhos de pelúcia podem se tornar companheiros da hora de dormir, o que é positivo, já que a criança passa a se sentir acompanhada a noite toda, mesmo quando os pais não estão por perto.
  • Tornar o quarto da criança um ambiente acolhedor e agradável aumenta as chances de que ela queira ficar lá naturalmente e por escolha própria.
  • Se preciso, vale ficar com a criança no quarto até que ela durma, mas depois é importante deixá-la sozinha.
  • Todo esse processo de transição tem de ocorrer de forma gradativa. É comum que o bebê venha a chorar – e ocasionalmente até a berrar – nos primeiros dias, mas não se deve retroceder no processo: recomenda-se que os pais entrem no quarto, o acalmem e voltem a colocá-lo no berço, sempre com tranquilidade. Heloisa Benevides de Carvalho Chiattone, coordenadora do serviço de psicologia hospitalar do Hospital São Luís, de São Paulo, lembra que, por mais difícil que seja, limites são elementos fundamentais na educação de uma criança, além de definidores de personalidade.

 
5. É possível que haja traumas por causa disso?
Se o processo de transição for realizado com segurança e afeto, não haverá traumas.
 
6. A criança pode acostumar a dormir no próprio quarto e, de repente, voltar a querer ficar com os pais?
Sim. De acordo com o pediatra Eduardo Goldeinstein, que tem especialização em família, a criança está em constante desenvolvimento e é normal que passe por situações de dificuldade (seja na escola, seja com os irmãos), de medo e de angústias, entre outras. Nessas fases, é comum que peçam para dormir com os pais. Deixar ou não deixar depende da estratégia de cada um, mas é importante conversar com o pequeno, ver o porquê e de onde vem essa necessidade e fazê-la se sentir acolhida e compreendida.
 
7. Quando abrir exceções?
Abrir exceções vai de acordo com a estratégia dos pais, mas geralmente as crianças pedem para dormir com eles quando estão doentes, assustadas por causa de sonhos, inseguras, com medo do bicho-papão. Às vezes, vale entrar na fantasia da criança, como exemplifica a psicóloga Isis Pupo: no caso de medo do bicho-papão, em vez de dizer que ele não existe, é válido lutar com a criança contra ele, seja com uma guerra de travesseiros, seja com uma ligação para os pais do monstro para que eles o coloquem de castigo.
 
8. Às vezes é preciso buscar ajuda psicológica para fazer com que a criança durma na própria cama?
A ajuda psicológica é bem-vinda em situações nas quais os pais sentem que não estão conseguindo conduzir bem a situação. No entanto, é importante lembrar que a dificuldade em dormir sozinho é apenas um sintoma de outros problemas que estão acontecendo com a criança. O medo, a insegurança, a ansiedade de separação e o medo de perder os pais, por exemplo, são dificuldades que levam o pequeno a querer dormir acompanhado dos pais.
 
9. Se a criança já tiver entre 4 e 5 anos, como fazer essa transição?
Se até essa idade ela ainda necessitar dormir constantemente no quarto dos pais, é interessante uma investigação psicológica para descobrir os motivos que estão desencadeando isso. Às vezes, há problemas na própria família que passam despercebidos.

Ao mesmo tempo, com 4 ou 5 anos, a criança já tem bagagem e repertório para entender os fatos e reage muito bem às explicações. Segundo Heloisa Benevides de Carvalho Chiattone, coordenadora do serviço de psicologia hospitalar do Hospital São Luís, de São Paulo, essa conversa, aliás, é fundamental para apaziguar os temores infantis.

Durante essa fase, a psicóloga Isis Pupo aconselha a criar no quarto um ambiente no qual a criança se sinta bem, com objetos e itens que a agradem e sejam de seu interesse, desde bonecos até pinturas na parede. Abajures são muito bem-vindos, já que farão com que ela não tenha que dormir no escuro. Durante o dia, vale realizar atividades divertidas no novo quarto para que ela se acostume com o lugar e o associe a coisas prazerosas. E, essencial, não vale retroceder, mesmo que seja necessário ficar no quarto até que a criança durma.

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