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Violência doméstica na gravidez dobra o risco de parto prematuro e de bebês com baixo peso ao nascer, aponta estudo

Pesquisadores dos Estados Unidos avaliaram 5 milhões de mulheres, das quais 15 mil haviam sofrido algum tipo de abuso dentro de casa.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 10h19 - Publicado em 22 mar 2016, 16h00

A violência doméstica é inconcebível em qualquer situação – esteja a mulher grávida ou não – mas, por mais assustador que seja, o fato é que ela ainda está presente em muitas famílias e, quando atinge uma gestante, não afeta apenas o seu corpo e o seu estado emocional. Uma pesquisa publicada no BJOG: An International Journal of Obstetrics and Gynaecology concluiu que os atos violentos de parceiros ou ex-parceiros durante a gravidez dobram o risco de a mulher sofrer um parto prematuro e, ainda, de dar à luz um bebê de baixo peso. 

Para chegar a esse resultado, pesquisadores da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, analisaram 50 estudos sobre o assunto, alcançando mais de 5 milhões de mulheres de 17 países; entre elas, 15 mil haviam sofrido algum tipo de abuso dentro de casa. Audrey Saftlas, principal autora do trabalho, declarou: “A violência doméstica por um parceiro ou ex-parceiro é uma preocupação ainda mais particular durante a gravidez, pois não uma, mas duas vidas estão em risco. Embora as taxas sejam diferentes ao redor do mundo, os efeitos prejudiciais são muito claros e nós devemos continuar a determinar intervenções eficazes a nível mundial para prevenir a violência e para apoiar as mulheres que passam por isso”.

De acordo com relatório divulgado no último dia 8 de março pela ONG Action Aid, a violência doméstica é responsável pela morte de cinco mulheres por hora no mundo. No Brasil, há uma denúncia de violência contra a mulher a cada 7 minutos, segundo balanço da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM – PR), referente aos relatos recebidos pelo Ligue 180 durante os dez primeiros meses de 2015. No caso das grávidas, a investigação apontou que, além de extremamente prejudiciais para a mãe, os abusos podem afetar diretamente o crescimento do feto – por um trauma físico ou sexual – ou mesmo indiretamente, pois o aumento do estresse materno pode levar à nutrição inadequada e a um cuidado pré-natal carente.

“Violência doméstica durante a gravidez pode trazer consequências fatais ou a longo prazo para a mãe e para o bebê. Essa grávida tem necessidades muito complexas e não necessariamente sabe que tipo de apoio está disponível a ela. Profissionais da saúde têm um importante papel em enfrentar o problema e são geralmente o primeiro e único ponto de contato que as vítimas isoladas e vulneráveis alcançam. Todos nós que trabalhamos em serviços sociais e de saúde precisamos ser treinados para reconhecer os sinais de violência doméstica e de abuso, e saber como agir e a quem encaminhá-las, para garantir a segurança delas”, diz Lesley Regan, Vice-Presidente de Desenvolvimento Estratégico do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists.

Certamente, outras pesquisas ainda são necessárias para esclarecer como funciona o mecanismo biológico dessa relação entre violência e os efeitos nocivos aos bebês, mas esse já é um importante começo para colocar a pauta em discussão ao redor do mundo.

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