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Síndrome da banda amniótica: entenda o que é e quais os riscos

A condição afeta o bebê ainda na barriga e pode causar até amputamentos. Saiba mais.

Por Luísa Massa
Atualizado em 20 fev 2020, 16h22 - Publicado em 13 jul 2017, 16h41

Recentemente, o caso da chilena Paola Valenzuela ganhou grande repercussão na mídia. Quando estava com 11 semanas de gestação, ela recebeu a notícia de que o seu bebê tinha a síndrome da banda amniótica. Por conta dessa condição, a criança chegou a ter órgãos fora do corpo – como o intestino – e a cabeça e o pescoço abertos. E a mãe chegou a fazer uma declaração impactante à BBC: “Vi como o meu filho se mutilava quando crescia”.

A situação do bebê de Paola era considerada extremamente grave e, do ponto de vista médico, não havia alternativas para salvar o pequeno. Mas como até então a lei no Chile não permitia que as mulheres abortassem – independentemente da circustância -, ela levou a gravidez adiante e com 22 semanas de gestação, o seu filho nasceu morto. A mãe sequer conseguiu conhecê-lo. Apenas viu as suas perninhas.

“Sentia que meu filho estava morrendo e cada dia de gravidez era uma tortura. Mas também tinha medo de sofrer um aborto espontâneo e ser culpada por isso. Tinha medo de ser presa. Todos me diziam que [ele] não (sentia dor), mas como uma mãe sente, eu acho que ele sentia tudo desde o primeiro dia. Pensava o tempo todo que ele estava sendo cortado. E pedia, por favor, que não se movimentasse, pois estaria se ferindo”, confessou a microbióloga.

Mas, afinal, o que é essa síndrome?

A sequência de bandas (ou bridas) amnióticas ocorre no primeiro trimestre da gravidez, quando a criança já está formada. “O bebê fica dentro da bolsa amniótica, que fica dentro de outra bolsa: a membrana coriônica. Dentro dela, há um líquido viscoso que se chama celoma – uma estrutura semelhante à clara do ovo. O que acontece é que esse espaço entre a membrana amniótica e a coriônica vai diminuindo e, por volta das 15 semanas de gestação, ele some”, afirma Javier Miguelez, médico responsável pela Medicina Fetal do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, de São Paulo.

Os especialistas acreditam que há duas teorias que explicam a síndrome. A primeira delas refere-se a quando há ruptura amniótica no primeiro trimestre, isto é, quando acontece alguma agressão que rompe a membrana amniótica, mas não a coriônica. “Se as duas rompem, temos o quadro de bolsa rota e o bebê acaba ficando sem líquido. Mas se é só a membrana amniótica, o bebê pode colocar o pé ou qualquer outro membro no ‘buraco’ que ficou entre essas membranas e aquela parte do seu corpo acaba grudando no líquido viscoso”, explica Miguelez. O problema é que, com o avanço da gestação, a membrana amniótica junta-se com a coriônica e o que ficar preso – seja uma perna, a cabeça, a barriga ou o rosto – começa a ter dificuldade para receber sangue.

“Se o bebê colocou os dois bracinhos para fora, por exemplo, há interrupção do suprimento vascular dessas estruturas, que às vezes acabam não evoluindo. A criança pode ficar sem pé, dedos da mão e até com a coluna aberta. Em alguns casos, é possível notar no ultrassom de primeiro trimestre que algumas estruturas ficam grudadas – uma membrana que fica junto com o pé ou na barriga e na cabeça. Mas não é sempre que isso ocorre porque o bebê pode se movimentar e conseguir tirar a parte do corpo que ficou presa”, ressalta o médico.

A segunda hipótese relacionada com o problema está associada com os sangramentos que ocorrem dentro do útero. “Se por algum motivo acontecer um sangramento e o sangue se organizar em uma trave de fibrina – substância responsável por fazer o sangue coagular – uma parte dela pode se grudar ao bebê, como no braço ou na perna, e restringir o seu movimento”, informa o especialista.

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(Camilla Loureiro Pereira/MdeMulher)

Por que isso acontece?

Não há uma razão exata que explique o surgimento da síndrome, mas há alguns fatores que podem estar relacionados. “É o caso de situações em que há contrações uterinas muito enérgicas acompanhada de descolamento parcial de placenta“, exemplifica Miguelez.

Dificilmente a sequência de bandas amnióticas tem causas genéticas e hereditárias. Normalmente, as condições mecânicas estão mais vinculadas a esta doença. O uso de drogas – como a cocaína, crack e heroína – também está associado. Mas a boa notícia é que a chance disso acontecer novamente em uma próxima gestação é rara.

É grave?

Embora síndrome não seja tão incomum, raramente ela traz altos riscos para o bebê. O especialista em medicina fetal informa, no entanto, que a criança pode nascer com alguma lesão, como um dedinho a menos ou um membro menor do que o outro, mas em geral não é algo extenso, que acomete todas as partes do corpo.

Também é importante dizer que há a anomalia do pedículo embrionário (em inglês, body stalk anomaly – BSA), que é uma variante da sequência de bandas amnióticas, na qual o cordão umbilical fica presa no espaço celômico e acaba ficando curto ou quase ausente. “A barriga do bebê fica grudada na placenta e esta é uma condição 100% letal”, afirma o médico do Hospital São Luiz.

Como é feito o diagnóstico?

A detecção do problema é realizada por meio do ultrassom morfológico, se possível complementado pela via transvaginal, exame essencial para garantir um pré-natal saudável. A partir de 12 semanas de gestação, os especialistas já conseguem identificar muitos casos com essa sequência.

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Existe tratamento?

Quando o bebê já perdeu alguma parte do corpo não há o que fazer. Mas se a condição for diagnosticada bem no começo da gravidez, é possível realizar ainda na barriga um procedimento que tenta desfazer as aderências existentes. Nesse caso, a mãe normalmente recebe a anestesia raquidiana. “Você tem que detectar a questão antes de ter a lesão, mas tudo isso depende de fazer uma análise cuidadosa. Não é um procedimento muito complexo, mas traz, sim, riscos de romper a bolsa e perder a gravidez”, informa Miguelez.

Ele acrescenta que essa técnica é indicada quando há uma membrana envolvendo grande parte de um membro – como a coxa e o braço. No exame de dopler, os especialistas conseguem fazer um mapeamento da região para ver se o fluxo sanguíneo está sendo comprometido. “Se há uma membrana que está se prendendo, mas o fluxo está chegando normal, os médicos terão que avaliar. Essa técnica tem indicação muito específica que varia de caso para caso”, esclarece o profissional.

Sem desespero

É importante deixar claro que nem toda nem toda banda amniótica trará problemas para a criança. E nem toda membrana que aparece dentro do saco gestacional no ultrassom é uma banda amniótica. Muito pelo contrário: segundo o especialista, septos e aderências do próprio útero podem se confundir com uma banda amniótica e em outros casos, é apenas a presença de um segundo saco gestacional – quando a gestação era gemelar e um dos embriões não se desenvolveu. Por isso é tão importante fazer o acompanhamento no pré-natal e tirar todas as dúvidas com o obstetra.

 

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