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O que fazer para evitar o intestino preso durante a gravidez?

Especialistas explicam qual é a frequência normal de ir ao banheiro, e quando é necessário procurar por um médico para evitar problemas como hemorróidas.

Por Alice Arnoldi
30 out 2020, 14h46

Ainda que intestino preso possa ser um tema desconfortável, ele é um assunto necessário quando falamos de gestação. Grávidas podem sentir mais dificuldade para ir ao banheiro e há explicações médicas para isso.

A primeira justificativa está relacionada ao crescimento do bebê. “O aumento do feto dentro do útero acaba comprimindo o fluxo normal do cocô dentro do intestino”, explica Vanessa Prado, cirurgiã de aparelho digestivo do Hospital 9 de Julho. A especialista ainda pontua que as alterações hormonais da gestação também contribuem para que o funcionamento intestinal fique mais lento.

É o que reforça Alberto d’Áuria, ginecologista e obstetra da Maternidade Pro Matre. “A progesterona, considerado o hormônio da gravidez, reduz a velocidade do intestino e do fluxo de esvaziamento gástrico. Tudo isso tende a afetar o funcionamento do intestino da mãe”, detalha.

Junto com as mudanças fisiológicas naturais do organismo durante a gestação, a nutricionista Mariana Armentano, especializada em nutrição da pré-concepção ao pós parto, lembra que a falta de exercícios físicos na rotina também é um fator que contribui para a constipação intestinal.

Quando é um caso de intestino preso?

O obstetra esclarece que a dificuldade de ir ao banheiro pode acontecer desde os primeiros meses da gestação, mas tende a piorar com o desenvolvimento da gravidez em que há o aumento do nível de progesterona e peso do feto.

Para entender se é isso que está acontecendo, é importante analisar a frequência com que se vai ao banheiro. Vanessa pontua que é considerado normal tanto evacuar entre dias alternados quanto todos os dias. E se no seu caso é diariamente, vale ainda ter em mente que está dentro da normalidade sentir vontade de defecar até três vezes no mesmo dia.

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Também é preciso estar atento ao tempo que se passa na privada. “Geralmente são sete a dez minutos sentada no vaso sanitário e sem fazer força. Se acontecer de ficar mais tempo e fazer muita força, você propicia o aparecimento de hemorróidas ou pode também causar fissura, que é um pequeno rasgo na entrada do ânus por causa do coco mais endurecido”, esclarece a cirurgiã do Hospital 9 de Julho.

Os cuidados para prevenir a constipação intestinal

Para contornar o problema, d’Áuria explica: “É importante manter uma alimentação equilibrada, com bastante ingestão de fibras e líquidos, além da prática regular de atividade física. Caminhadas diárias de 30 minutos, em terreno plano, são recomendadas para as gestantes, exceto para aquelas que apresentem alguma contraindicação para o exercício“.

Já para um cardápio balanceado, a nutricionista Mariana indica frutas como laranja com bagaço, tangerina, kiwi, ameixa, mamão e abacate. Além de vegetais folhosos, como couve, alface, e espinafre. Vale também adicionar outros alimentos que são fontes de fibras e gordura boa, como chia, aveia, iogurte natural e oleaginosas.

Só que junto com as escolhas certas para o que se come, é também preciso atenção para o que se bebe. “De nada adianta ingerir muitas fibras e não consumir água para hidratá-las, aumentar os movimentos intestinais e tornar as fezes mais macias. O cálculo para ingestão mínima que usamos é simples: 30ml de água pra cada quilo de peso”, explica a nutricionista.

Mariana aconselha as gestantes a priorizarem pela água pura. Os sucos, por exemplo, devem ser evitados ou tomados com moderação. “Por tratar-se de uma bebida calórica, com perda de fibras devido ao processo de feitio e que estimula a insulina. O ideal é sempre comer a fruta”, enfatiza.

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Entenda quando procurar um médico

Se mesmo com os cuidados ainda houver episódios repetidos de intestino preso, é preciso analisar se não está na hora de procurar por um proctologista. Por exemplo, na primeira semana, a gestante fica dois dias sem conseguir evacuar até que no terceiro ela vai ao banheiro. Após isso, o intestino segue o fluxo normalmente. Entretanto, com a chegada da segunda semana, ela percebe que acontece o mesmo período de dificuldade para evacuar. Esse cenário é um dos indícios de que o organismo gestacional está passando por mudanças e pode precisar de ajuda para chegar até o fim da gravidez saudável.

Junto com os dias sem conseguir ir ao banheiro, outros alertas podem aparecer. “Odor forte ao defecar e fezes fragmentadas também são alguns dos sinais que indicam um descompasso intestinal”, complementa o obstetra da Pro Matre.

Vale ter em mente que não conseguir evacuar normalmente também pode trazer consequências para além do desconforto físico durante a gravidez, o que torna imprescindível a busca por um especialista.

“Por meio do líquido amniótico, a gestante passa para o bebê uma composição importante que irá ajudá-lo na construção de seu próprio microbioma e sua imunidade. Por isso, é essencial que a grávida tenha um arranjo saudável de lactobacilos e bactérias intestinais. Sempre que existir algum descompasso orgânico, a imunidade fica ainda mais reduzida. Dessa forma, acaba-se abrindo espaço para infecções oportunistas, como as respiratórias, de pele, gengivite, urinária, e mamilos hemorroidários (dilatações venosas no ânus devido ao esforço físico realizado para o esvaziamento intestinal)”, finaliza d’Áuria.

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