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Maioria dos brasileiros é contra o aborto em casos de microcefalia

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha mostra que, para entrevistados, a interrupção da gravidez não deve ser uma opção mesmo na presença da malformação cerebral em bebês.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 21h41 - Publicado em 29 fev 2016, 11h08

Atualmente, a legislação brasileira permite o aborto em casos de risco para a mãe, estupro e anencefalia (quando o feto não tem cérebro). Agora, diante da alarmante situação causada pela transmissão do zika vírus e pelo crescente surto de microcefalia, o aborto legal tem sido trazido novamente à discussão no país. Porém, embora o assunto tenha reacendido, as opiniões continuam, em sua maioria, contrárias ao direito de abortar quando há a malformação cerebral.

De acordo com um levantamento realizado pelo Instituto Datafolha entre os dias 24 e 25 de fevereiro, 58% dos entrevistados defendem que as grávidas que tiveram zika não podem ter a opção de interromper a gestação, contra 32% que são a favor da liberação nesta situação. Do total, 10% não opinaram. Essa rejeição continua à frente mesmo para casos em que a microcefalia já tenha sido comprovada: 51% acreditam que o aborto não pode ser uma escolha, enquanto 39% acham que esse deveria ser um direito da mulher. Foram ouvidas 2.768 pessoas em 171 municípios do país.

Embora a relação entre o zika vírus e a microcefalia ainda não tenha sido atestada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o aumento do número de registros da malformação cerebral em recém-nascidos levou a entidade a decretar emergência mundial; já a Organização das Nações Unidas (ONU) passou a defender que países com surto de zika autorizem o aborto em caso de infecção de gestantes. Sobre essa hipótese, o papa Francisco se posicionou absolutamente contra o que chama de “mal absoluto”, mas admitiu o uso de contraceptivos.

A pesquisa realizada pelo Datafolha aponta ainda que o aborto só tem defesa majoritária (no caso de malformação comprovada) entre os brasileiros com escolaridade superior ou com renda familiar acima de cinco salários mínimos. Vale ressaltar que entre as mulheres que planejavam engravidar, metade afirmou ter desistido do plano.

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Últimos números

Segundo o mais recente boletim divulgado pelo Ministério da Saúde na terça-feira, 23, há 4.107 casos suspeitos de microcefalia em investigação. Além disso, foram notificados 120 óbitos causados por alterações no sistema nervoso central após o parto ou durante a gestação. A atualização mostra ainda que o problema se alastrou: de 203 municípios na semana anterior, já são 235 cidades com casos confirmados da doença, sugestivos de infecção congênita.

Esses números foram divulgados no momento em que a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, visitava o Brasil para acompanhar de perto as respostas governamentais à epidemia da malformação fetal. Embora Chan tenha reconhecido que o país está preparado para enfrentar a ameaça do zika, a situação continua preocupante – do início das investigações, em outubro de 2015, até 20 de fevereiro, foram 5.640 notificações de microcefalia, das quais 950 foram descartadas.

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