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Guia de emoções na gravidez: como lidar com os sentimentos que surgem em cada trimestre

O que acontece no corpo da mulher durante os nove meses de gestação se reflete em seu comportamento e bem-estar. Saiba como conviver com essas oscilações no temperamento.

Por Jaqueline Amaral (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 22h37 - Publicado em 29 Maio 2015, 13h55

A partir do momento em que o bebê começa a se desenvolver, um turbilhão de sentimentos toma conta da cabeça da mulher. Alegria, medo, insegurança e ansiedade ao mesmo tempo e em alta dosagem. Ufa! Culpa dos hormônios? Em grande parte, sim. Essa instabilidade na cachola ocorre devido à brusca alteração dos níveis do estrógeno, que é o responsável pelas características femininas e cujas taxas sobem que nem foguete na gravidez – tudo para deixar o organismo da futura mãe apto para o desenvolvimento da criança. Sem contar a progesterona, que tem a função de adequar o útero para receber o embrião. Saber lidar com todas essas transformações no corpo e na mente é uma árdua tarefa. Veja como reagir às mudanças emocionais de cada trimestre e não se sinta só. Acredite: todas as grávidas passam por isso.

Primeiro trimestre: emoções à flor da pele

As alterações hormonais são sentidas com maior intensidade nos três primeiros meses. É quando, bruscamente, as taxas de estrógeno e progesterona vão às alturas e a mulher precisa lidar com a grande novidade: há um bebê se desenvolvendo dentro dela. Isso nem sempre é sinônimo de felicidade instantânea, como conta a jornalista paulista Fabiana Faria, 28 anos, mãe de João Vitor, 4 meses: “Mesmo sendo uma gravidez planejada, quando descobri que estava grávida, fiquei apavorada. Chorei muito, não de tristeza, mas de medo”.
 
Assim como Fabiana, muitas gestantes experimentam sensações incompatíveis com as esperadas pela sociedade, o que aumenta ainda mais o nervosismo. “A mulher se sente obrigada a ficar feliz, como se a demonstração de medo, angústia e ansiedade fosse fazer dela uma péssima mãe”, explica Ricardo Monezi, especialista em medicina comportamental do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo.
 
Você tem medo do quê?
Os sentimentos conflitantes do início da gravidez, na maioria das vezes, expressam também a insegurança em relação ao futuro. “Na primeira gestação, a mulher passa do papel de filha para o de mãe e essa mudança sempre gera ansiedade. Se for o caso de uma segunda gravidez, o medo se intensifica por cobranças do tipo: ‘Vou dar conta de duas crianças? Terei dinheiro suficiente para a educação dos dois? Meu filho mais velho vai ter ciúme?’”, enumera Ricardo Monezi. Para lidar melhor com esse período de intensa transformação física e emocional, é indispensável contar com o apoio do parceiro e da família, além de ter abertura para falar sobre suas angústias e seus temores. “Nessa fase, a gestante se sente incompreendida, sozinha. Ela normalmente faz projeções baseadas na relação que teve ou tem com sua própria mãe. Quer ser melhor ou, no mínimo, igual. É uma autocobrança enorme”, completa Monezi. 

Mantenha o controle

  • Contar ou não contar a notícia sobre a gravidez antes de completar o primeiro trimestre? Considere a opção que for mais confortável, principalmente em relação ao trabalho. Talvez seja o caso de restringir a novidade ao seu círculo íntimo.
  • Escolha um(a) obstetra de sua confiança. Esse especialista é um aliado tão importante quanto o pai do bebê e a família. Anote todas as suas dúvidas em um caderno, para não esquecer, e pergunte tudo durante a consulta. Os esclarecimentos do médico a deixarão mais segura e, de quebra, menos ansiosa.
  • Não hesite em procurar ajuda de um psicólogo ou psicanalista se achar que o apoio da família e do obstetra não estão sendo suficientes. Somente esse tipo de profissional é capaz de perceber e ajudar a resolver alguns conflitos, mais sutis.
  • Descanse. No primeiro trimestre, a alta de progesterona pode causar sonolência excessiva. Se puder, aproveite para cochilar depois do almoço ou mude a rotina noturna e vá para cama mais cedo. Tentar inibir o sono de qualquer maneira pode deixá-la ainda mais irritada.

Segundo trimestre: aparente calmaria

Para a maioria das gestantes, esse é considerado o período mais brando. Os hormônios continuam atuantes, mas em compensação já é possível visualizar a gravidez como algo concreto. Se antes apenas desconfortos físicos como enjoos, dores lombares e sonolência denunciavam a chegada do bebê, agora a barriga já despontou e as mamas estão bem maiores. Sem falar que é possível ouvir o coração do pequeno e senti-lo se mexer. “Acho que essa é a melhor fase para mim e para o bebê. Ele ainda tem bastante espaço na barriga e eu não estou tão redonda”, diz, brincando, a analista de sistemas Marina Moela, de São Paulo, 34 anos e grávida de cinco meses do seu primeiro filho.
 
Se as evidências físicas têm o poder de trazer mais alegria para o processo de gestação, por outro lado podem virar um tormento para as mães que estejam preocupadas com a forma física. A jornalista Fabiana Faria conta que levou um susto quando soube que havia engordado 4 kg do quarto para o quinto mês: “Sentia muita fome e comia demais. Fiquei assustada com a mudança no tamanho dos meus seios porque, para mim, essa é a parte mais sensual do corpo feminino”.
 
Em sintonia com o seu corpo
Engordar é um processo natural e necessário durante a gestação. Se antes da gravidez você estava dentro de uma margem saudável de peso, é normal ganhar de 11 a 14 kg ao longo dos nove meses. Fique atenta para não descontar a ansiedade na comida e acabar acumulando mais quilos do que o indicado pelo médico. Afinal, não é só a forma física que está em jogo, mas sua saúde e a do bebê. Manter uma alimentação balanceada vai ajudá-la a controlar o peso e, aliada a isso, a prática de uma atividade física vai deixá-la mais tranquila e relaxada. “Exercícios de baixo impacto são muito benéficos para a gestante e podem ser praticados durante toda a gravidez, respeitando a orientação do obstetra”, sugere Aléssio Calil Mathias, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo.
 
Mantenha o controle

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  • Informe-se! Leia sobre o desenvolvimento do bebê e converse com outras grávidas. Você vai perceber que as dúvidas e as inquietações são muito parecidas e isso a deixará mais calma. Uma excelente alternativa é participar de cursos para gestantes que acontecem nas maternidades.
  • Aproveite a hora do banho para acariciar a barriga e usar óleos aromáticos e relaxantes no corpo – há marcas de cosméticos que desenvolvem linhas específicas para o período de gestação. Faça desse momento um encontro entre você e o bebê, sem intervenções e pressa.
  • Se antes de engravidar você já praticava exercícios, continue. E, se não era adepta de nenhuma modalidade, comece já. Fale com o seu médico a fim de eliminar qualquer possível restrição e escolha a que mais lhe atrai. As opções mais indicadas são: hidroginástica, caminhada, Pilates e ioga, por serem de baixo impacto. “As posturas de relaxamento da ioga são excelentes para essa fase, pois proporcionam uma conexão maior entre a mãe e o bebê”, explica a professora Adriana Fischer, especialista em ioga para gestantes de São Paulo. “É muito comum as alunas relatarem que sentem os movimentos mais intensos do pequeno durante a prática.” 

Terceiro trimestre: ansiedade total!

Na reta final, a ansiedade e a irritação voltam a deixar as grávidas com tudo à flor da pele. Dúvidas em relação ao tipo de parto, distanciamento da vida sexual, problemas de comunicação com o parceiro, dificuldade para dormir, cansaço físico, lapsos de memória até mesmo diante de coisas corriqueiras do dia a dia e ainda a sensação de desespero que bate na última hora: será que ele vai nascer bem?
 
A empresária paulista Sara Monroe, 31 anos, está no último mês de gravidez e relata a sua apreensão: “Estou muito ansiosa pelo nascimento porque quero que meu bebê seja saudável e chegue de parto natural. Ao mesmo tempo, sei que vou sair da zona de conforto em que estou agora. Não sei se vou saber cuidar dele direito”. O primeiro passo para não surtar nas semanas que antecedem o nascimento é definir prioridades e só assumir compromissos que não exijam o esforço físico e emocional. É hora de colocar em prática tudo que facilite a sua vida e lhe dê prazer. Vale antecipar em alguns dias a licença-maternidade, fazer massagem nos pés diariamente e até adotar um corte de cabelo mais prático.
 
Organize as emoções
Para manter a tranquilidade nesse momento, é importante avaliar quais são suas dúvidas e preocupações. Ao fazer isso, você perceberá que muitas delas já foram sanadas lá atrás e apenas voltaram à tona por causa da insegurança que antecede o nascimento. Você provavelmente já está bem informada sobre os tipos de parto e definiu com o seu obstetra como ele será conduzido. Em relação à chegada do bebê, direcione sua atenção para os últimos preparativos e não dê muita importância para os alarmismos e traumas de outras mães. Retenha apenas o que for bom. Cada gravidez tem suas particularidades, dificuldades e alegrias.

Mantenha o controle

  • Arrume o quarto do bebê e curta cada detalhe. Divida esse momento com o pai, com as amigas íntimas, com sua mãe, irmã e cunhada. Além de contar com uma ajuda extra, você poderá desfrutar de momentos relaxantes e conversas amistosas. “O ritual de espera que abrange todos os preparativos para a chegada da criança é importantíssimo para que a mulher incorpore o novo papel de mãe”, esclarece Ricardo Monezi.
  • No terceiro trimestre, a vida sexual pode sofrer abalos. O homem, por não saber como lidar com a nova situação ou por achar que pode machucar o bebê durante a relação, acaba se afastando e não demonstrando interesse. A mulher, por sua vez, acha que ele não a deseja e fica triste e angustiada. “É importante que o médico explique ao casal que o sexo não machuca o bebê e que eles podem manter a rotina sexual escolhendo posições confortáveis para ambos”, explica Aléssio Mathias.
  • Por causa da barriga, fica difícil achar uma posição cômoda na hora de dormir. E, se você não dorme direito, não descansa adequadamente, e isso eleva a irritabilidade. Nessa hora, vale usar todos os artifícios disponíveis. Desligue a TV, deixe o quarto escuro e silencioso. Deite de lado com o apoio de travesseiros nas costas, entre as pernas e embaixo da barriga para sustentar o peso do bebê. 

Depois do nascimento: mais mudanças

Depois que o bebê nasce, cai o nível de progesterona e outros dois hormônios passam a ser protagonistas: a prolactina, que estimula a produção de leite, e a ocitocina, que é responsável pela contração do útero para a expulsão do bebê na hora do parto e pela ejeção do leite.
 
Devido a essa nova condição hormonal e física, entre o segundo e quarto dia após o parto, a mulher pode apresentar uma leve tristeza, que não deve ser confundida com a depressão pós-parto, um problema bem mais sério e que deve ser tratado com o auxílio médico. Essa sensação de apatia e desânimo dura no máximo seis semanas, período em que normalmente a ex-gestante se acomoda no novo papel de mãe. “Ela vai perceber que algumas fantasias vão se tornar realidade e outras não. Há uma reestruturação na sua forma de pensar. Fica claro que agora existe um novo ser que depende dela”, explica Ricardo Monezi.
 
Mais uma vez o apoio familiar e do companheiro são essenciais. Ao homem, cabe o sentimento de compreensão pela nova condição porque sua companheira se ocupará em tempo quase integral em cuidar do bebê, esquecendo-se momentaneamente de seu papel de esposa, como esclarece Alberto D´Auria, ginecologista, obstetra e diretor de relacionamento da Maternidade Santa Joana, em São Paulo: “O hormônio prolactina inibe a feminilidade. A nova mãe fica mais preocupada em agasalhar e proteger o filho e se afasta do convívio social e de qualquer situação que ofereça risco, ainda que inconsciente, para o bebê”.
 
Mantenha o controle

  • Converse com outras mães. Trocar experiências nesse momento será muito enriquecedor e tranquilizante.
  • Peça ajuda! Você não precisa dar conta de tudo sozinha. É importante reservar um momento para se cuidar e relaxar.
  • Deixe e incentive o pai a participar dos cuidados com o bebê. Isso fortalecerá o vínculo entre eles e deixará você mais segura em relação à nova família.
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