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“Eu perdi o meu bebê, mas o amor por ele nunca vai morrer”

Conheça a história de uma mãe que precisou lidar com a morte do filho e saiba como ela superou a dor dessa perda.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 07h38 - Publicado em 13 set 2015, 19h16

Flavia Camargo, 32 anos, é mãe do Igor, que faleceu com quatro dias de vida. Ela é advogada e autora do livro “Quatro Letras”, que está prestes a ser publicado. Aqui, ela conta as dificuldades que passou e como conseguiu reencontrar a felicidade.

“Em 2012 foi a primeira vez que eu pensei sobre a maternidade. Senti esse chamado interno despertando no meu coração, mas eu tinha consciência de que não deveria colocar uma pessoa no mundo sem estar preparada para lhe oferecer um bom suporte. Então, decidi que engravidaria depois que tivesse reunido condições que considerava necessárias para ser uma mãe paciente e compreensiva. Fiquei dois anos lendo muito sobre educação infantil, além de ir a vários médicos para preparar a minha saúde.

Logo no início das tentativas, em 2014, engravidei. Como eu tinha planejado tudo nos mínimos detalhes, assim que recebi o resultado positivo do teste de farmácia, comecei a escrever cartas para o meu bebê com o objetivo de registrar sua história desde a época da concepção. Não tive enjoos e a gestação do Igor transcorria sem problemas. Eu me consultava periodicamente com a obstetra e nutricionista, seguia adequadamente as recomendações e meus exames estavam ótimos. Mas fui surpreendida na 33ª semana e o que estava perfeito se transformou no extremo oposto.

Igor Alecsander
Igor Alecsander ()

No dia 7 de janeiro de 2015, preocupada com o fato de o bebê estar quieto desde o dia anterior, dei entrada no hospital para fazer uma ultrassonografia. Eu me sentia muito bem e não teria buscado atendimento se não fosse unicamente por causa da diminuição dos movimentos fetais. Depois de um tempo, fiquei sabendo que ir ao hospital foi o que salvou a minha vida. Quando passei pela triagem da emergência, minha pressão estava 13×8 e quarenta minutos depois pulou para 24×17. Nesse pequeno intervalo, senti uma dor abdominal muito forte e tive uma lesão no fígado. O Igor precisou nascer imediatamente – com 7 meses e meio – pesando 1,4 kg e medindo apenas 40 centímetros.

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Os médicos disseram que a crise foi tão rápida, que se eu tivesse saído do trabalho em busca de socorro apenas depois de começar a passar mal, teria morrido antes de chegar ao hospital. Ao saber disso, senti gratidão pelo meu filho ter me ajudado a estar no lugar certo na hora exata. Todos os sintomas que eu estava sentindo foram causados pela Síndrome Hellp – uma doença raríssima, que se desenvolveu silenciosamente e se agravou em uma velocidade enorme.

Como perdi metade do sangue devido à hemorragia no fígado, que se rompeu por causa da pressão alta, o meu estado de saúde estava em risco e fiquei internada na UTI. O meu maior desejo era estar perto do meu filho naquela hora tão importante, em que ele lutava para sobreviver, mas eu não podia ajuda-lo, pois também precisava estar forte para continuar viva. Eu não cheguei a conhecer o Igor porque ele nasceu sem batimentos e respiração, foi levado para a UTI Neonatal para ser ressuscitado e não saiu mais de lá. O que me tranquilizava era ver as fotos e os vídeos que o meu marido fazia quando o visitava na incubadora. Porém, no quarto dia de internação, chegou a triste notícia de que o nosso bebê tinha nos deixado. Dez dias depois recebi alta e fui para casa – minha saúde levou alguns meses para voltar ao normal.

Como toda mulher que dá à luz, tive um período de licença, mas não o usei para amamentar, zelar, conhecer ou levar o meu bebê para passear. Esse foi um período em que eu precisei cuidar de mim, cultivando alguns valores que me permitissem passar por essa experiência tão difícil com valentia e desprendimento. Enquanto realizava esse trabalho de me aperfeiçoar, a fim de suportar a falta de um ser tão amado e desejado, escrevi um livro. Na obra “Quatro Letras”, eu relato as reflexões que me favoreceram nessa jornada em direção ao reencontro com a felicidade e mostro que o amor pelo meu filho foi o que me deu forças para me reinventar e me reconstruir.

Tenho planos de publicar o livro em breve e criei uma página no Facebook para que os futuros leitores possam conhecer alguns trechos antes do lançamento. O meu objetivo é compartilhar quais foram os recursos que eu usei para transformar esse desafio em crescimento e aprendizado. Tudo o que aconteceu comigo me ensinou que não são apenas as pessoas negligentes que podem ter complicações na gravidez, pois aquelas que tomam todos os cuidados também estão sujeitas a acidentes e imprevistos. Tornei-me mais humilde ao perceber que nós não temos o domínio sobre a natureza. Podemos nos esforçar ao máximo para contribuir com a nossa parte, mas a palavra final depende de fatores que escapam do nosso controle.

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Mães e pais que perdem um bebê tão prematuramente tendem a se considerar culpados, mas eu decidi não adotar essa conduta porque ela só pioraria as coisas. Estou certa de que eu não deixei de fazer nada que estava ao meu alcance e concedi a mim mesma o direito de não carregar uma culpa que não me pertence. Depois de um tempo, constatei que usufruir dessa liberdade e enxergar as coisas assim foi essencial para manter o meu equilíbrio.

Durante o meu processo de superação, descobri que nos defrontamos com vários inimigos invisíveis no combate ao sofrimento decorrente da morte de um filho. Só estando muito atento para enxergar todos os vilões que aparecem no nosso caminho. Eu identifiquei a presença de inveja, da ansiedade, da queixa, da revolta, da pretensão de posse, da sensação de fracasso e de vazio, do pessimismo. Acho natural que esses pensamentos negativos surjam, mas também acredito que é possível eliminá-los com a certeza de que não há fundamento em nenhum deles. Essas são apenas sugestões mentais falsas, que podemos vencer, exercitando nossa inteligência e sensibilidade. Eu consegui e acredito que todas as pessoas também são capazes de alcançar isso!

Igor Alecsander
Igor Alecsander ()

Aprender a amar a si mesmo como se amava o filho que partiu é o conselho que eu dou para as mães que passaram pelo que eu passei, pois foi o que me devolveu alegria e a vontade de sorrir. Escrever sobre as próprias emoções também é válido, porque organizamos as ideias e trazemos clareza para as mudanças e adaptações que precisamos realizar dentro de nós. Eu e meu marido passamos a ser felizes novamente quando percebemos que o nosso filho nos tornou seres humanos mais fortes e possuidores de muitas virtudes, que não tínhamos desenvolvido antes da sua existência. A morte do Igor nos fez descobrir que ser mãe e pai é maravilhoso, independente de quanto tempo essa experiência dure. Ele nos fez conhecer um amor incondicional, que não precisa ser retribuído para permanecer pulsando. Um amor que ultrapassa as barreiras físicas e nos faz enxergar além do efêmero e circunstancial. Esses aprendizados são muito preciosos! Perceber que as perdas também provocam ganhos é uma lição que podemos tirar até mesmo das situações mais duras da vida, assim, elas se tornam leves.”

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