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7 perguntas e respostas sobre o ensino de língua estrangeira para bebês

Introduzir um outro idioma nos primeiros meses de vida não vai confundir a cabeça do pequeno? Ele vai demorar mais para falar? Vale a pena colocar na escola bilíngue? Conversamos com especialistas para solucionar essas e outras questões.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 28 out 2016, 00h15 - Publicado em 8 jun 2016, 17h55

Bebês que convivem em ambientes bilíngues apresentam uma maior atividade em áreas cerebrais ligadas às funções executivas – aquelas que envolvem organizar, planejar e analisar, por exemplo. A constatação é de um estudo da Universidade de Washington, no Estados Unidos, publicado em abril de 2016 no jornal científico Developmental Science. “Nossos resultados sugerem que antes mesmo de começarem a falar, essas crianças já estão praticando tarefas ligadas às funções executivas”, comenta Naja Ferjan Ramírez, a principal autora da investigação.

Para chegar a esses achados, os pesquisadores recrutaram 16 bebês de 11 meses de vida – oito de famílias que só falam inglês e oito cujos pais dominam inglês e espanhol. Os pequenos foram avaliados por meio da magnetoencefalografia, uma técnica que mapeia a atividade cerebral a partir do campo magnético. Ao contrário de outros exames de imagem, esse método é mais preciso ao identificar o momento e o local da massa cinzenta em que ocorre alguma atividade.

Enquanto estavam sendo analisados, os baixinhos ouviram faixas de 18 minutos que incluíam sons como “da’s” e “ta’s”, além de fonemas específicos do inglês, do espanhol e de ambas as línguas. Após comparar os dois grupos, os especialistas notaram que os bebês bilíngues tinham uma resposta mais forte à linguagem em áreas do cérebro ligadas às funções executivas em comparação aos que só eram expostos a apenas um idioma.

Outra evidência identificada pelos estudiosos americanos é que o cérebro dos pequenos cujos pais dominam duas línguas permanece mais “aberto” a novos sons. “O cérebro de uma criança de 11 meses está aprendendo qualquer língua ao seu redor e é capaz de aprender até mais de um idioma”, garante Ramírez. “Nossos achados reforçam a ideia de que os bebês são capazes de aprender várias línguas e mostram que a primeira infância é o melhor momento para desenvolver essa habilidade”, observa a pesquisadora.

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No entanto, mesmo diante de tantas evidências, muitos pais ainda têm dúvidas e receios sobre como ensinar um segundo (ou terceiro) idioma para os seus pequenos. Com a ajuda de especialistas, fomos atrás das respostas para as principais questões sobre esse assunto. Confira a seguir:

1. Aprender outro idioma vai causar muita confusão na cabecinha do meu filho?

Como demonstrou o estudo da Universidade de Washington (e outras pesquisas já feitas), os bebês são totalmente capazes de ser introduzidos a mais de uma língua. Inclusive, os primeiros três anos de vida são o período ideal para que isso aconteça. “Nessa fase, as conexões cerebrais ainda estão em construção, o que torna o cérebro mais disposto para esse aprendizado”, explica Clay Brites, neuropediatra da NeuroSaber e doutorando em ciências médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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Além disso, o contato com idiomas diferentes da língua materna estimula que mais conexões sejam formadas no sistema nervoso central. “Isso leva o cérebro a desenvolver as áreas frontais e do lóbulo temporal, que são as regiões mais ligadas à linguagem e que normalmente ficariam adormecidas”, ensina Brites. E não para por aí: esse efeito se estende a outras partes da massa cinzenta, que acabam sendo igualmente estimuladas. O contato com o inglês ou o espanhol na adolescência, por exemplo, também favorece esse processo, mas não de forma tão sensível quanto na infância.  

2. Como a língua estrangeira deve ser introduzida na rotina do meu bebê?

Se a criança não tem pais que são nativos de países que falam outro idioma, o ideal é que o primeiro contato com a segunda língua aconteça de forma lúdica, o que inclui brincadeiras, músicas, desenhos e historinhas – que podem ser contadas por meio de livros ou de fantoches, por exemplo. “Dessa forma, você já está preparando o bebê, mas sem estressá-lo”, pontua o neuropediatra.

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3. Quando o pai é de uma nacionalidade e a mãe de outra, qual idioma cada um deles deve falar em casa?

Não existe uma regra sobre isso, mas os especialistas recomendam que no ambiente domiciliar prevaleça a língua materna dos pais. Desse modo, se a criança vive em um país que fala outro idioma, ela não perde o contato com a língua que todos os seus familiares usam. Nos casos em que pai e mãe dominam vernáculos diferentes, o ideal seria que cada um privilegiasse sua língua materna. Fiquem tranquilos: os baixinhos dão conta do recado!

4. Crianças bilíngues demoram mais para falar?

Isso é mito. “Não há comprovação científica de que o bilinguismo atrase a fala“, afirma Clay Brites. Segundo o médico, é provável que a demora para começar a balbuciar as primeiras palavras esteja ligada a outros fatores. E fiquem calmos, papais e mamães: esse atraso nem sempre é indício de que há algum comprometimento neurolinguístico, cada criança tem seu tempo. De qualquer forma, vale ficar de olho e, no caso de alguma suspeita, procure o pediatra.

5. É normal que o meu filhote confunda ou misture palavras dos dois idiomas?

Sim, isso é totalmente normal e esperado! “Os pais têm que pensar que o seu filho ainda está aprendendo”, observa Mônica R. Varges Ribeiro, professora e diretora da Creche Escola Ativa Idade, no Rio de Janeiro, que oferece ensino bilíngue já no berçário. “É que nem escrever: até que a criança consiga fazer isso da forma correta, demora. E é o contato, a maturidade e o usar que vão levar ao acerto”, compara a educadora. Ou seja, quanto mais o pequeno falar e ouvir o idioma estrangeiro, mais ele vai dominá-lo. E entenda: isso acontece aos poucos.

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Mesmo assim, é preciso estar atento até quando as confusões acontecem. “Uma criança de 4 anos já tem que dominar os sons das duas línguas; aos 5, ela já é capaz de identificar uma letra visualmente e associá-la ao som; e aos 6, ela já domina tudo isso e pode até estar alfabetizada, dependendo da estimulação e da escola que frequenta”, informa o neuropediatra da NeuroSaber. Se o seu pequeno não está de acordo com esses marcos, vale a pena bater um papo com a professora ou até com um psicólogo.

6. O melhor é ir para a escola bilíngue desde os primeiros anos ou só na fase da alfabetização?

Muitos acreditam que o ensino bilíngue na fase da alfabetização pode prejudicar o aprendizado da criança. Mas, segundo Mônica Ribeiro, se o pequeno tiver contato de forma lúdica, prazerosa e significativa com a língua estrangeira desde os primeiros anos, é provável que ele encare o período de aprender a ler com mais facilidade, por já estar familiarizado com o idioma.

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7. Mesmo que a criança vá para a escola bilíngue, é preciso estimular o contato com o idioma estrangeiro fora da sala de aula?

Se o único lugar em que o seu filho tem contato com o segundo idioma é na escolinha, então, sim, estimular que ele fale em casa é fundamental. “Se você não continuar apresentando a língua para a criança, ela vai desaprender”, alerta Brites. A dica, mais uma vez, é escolher o caminho da diversão: brincadeiras, músicas, filmes e livros infantis são a melhor forma de fazer com que o seu pequeno se torne, lá na frente, um verdadeiro dicionário bilíngue. 

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