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“Sou refugiada e estava grávida quando deixei meu país em guerra”

Mãe de Aleppo, na Síria, relata as dificuldades que enfrentou ao se tornar uma imigrante e, no meio do caminho, descobrir que teria um filho.

Por Laís Barros Martins
13 jun 2017, 21h00

Razan Suliman, 27 anos, nasceu na Síria, em Aleppo, e veio para o Brasil em 2014 contra a sua vontade, por causa da guerra civil em seu país. No trajeto, descobriu que estava grávida e seu filho, Adam, nasceu em terras brasileiras. Conheça esta história:

“Resistimos o quanto pudemos, mas Aleppo se tornou o centro do conflito e a nossa cidade estava destruída por conta da guerra civil – não havia luz, água, comida. Tínhamos muito medo. Eu e o meu marido, Mohamad, precisamos mudar os planos.

Deixamos a Síria em 2014. Foi um período muito difícil! Ficamos três meses em Beirute, no Líbano. Pedimos um visto para a França, mas foi negado, pois sabiam que pretendíamos ficar lá. Todos os países se fechavam para nós. Tentamos então o Brasil, que estava aceitando refugiados sírios e a vinda era relativamente segura, sem riscos de travessia.

Achei que seria por pouco tempo, mas hoje percebo que vai demorar muito para podermos voltar para casa.

Durante toda a trajetória do refúgio, ainda não sabia, mas estava grávida de 40 dias do caçula, Adam, hoje com 2 anos. Descobri a gestação uma semana depois da imigração. Passei por muitas dificuldades neste trajeto e agora preciso cuidar do meu filho em outro país, longe dos meus familiares.

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Chegando aqui, não sabia nada sobre o Brasil e muito menos falar português. Não sabia qual médico visitar, quem iria cuidar do meu filho quando nascesse… Adam nasceu na cidade de São Paulo, no dia 28 de fevereiro de 2015. Ele é brasileiro! Frequenta a creche e fala português.

Mas eu ainda me sinto muito sozinha porque estou longe da minha família. Quando ligo para a minha mãe, que está na Macedônia, ele também se sente triste quando desligamos o telefone, por estarmos tão distantes! Não estou feliz aqui. Quero uma vida melhor. Quero poder voltar para o meu país. Meus outros dois filhos – Thanaa, uma menina de 8 anos, e Nwaf, um menino de 6 – estão na Alemanha, com o pai deles, meu ex-marido, e quero muito reencontrá-los em breve.

O meu desejo é um dia reunir novamente a família dividida pela guerra. Para isso, sigo tentando reconstruir a vida. Hoje tenho o meu próprio negócio e vendo comida típica do meu país em feiras de São Paulo”.

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Os filhos de Razan: Adam, Nwaf e Thanaa (Divulgação/Arquivo Pessoal)

 

 

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