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“Quero que a minha filha tenha orgulho da sua cor”

Conheça a história de uma mãe que, apesar de enfrentar comentários preconceituosos, luta que a filha seja empoderada e se ame como ela é.

Por Luísa Massa
Atualizado em 7 dez 2016, 13h46 - Publicado em 25 abr 2016, 07h30

Renata Germano, 29 anos, é mãe da Rafaella Leonarda, de 5 anos, microempreendedora e idealizadora do Instagram Ree Germano. Aqui, ela fala sobre como lida com os questionamentos da filha e com os palpites racistas que elas escutam.

“Eu sempre tive vontade de me casar, mas nunca sonhei em ser mãe. Depois de cinco anos casada, o desejo foi surgindo e eu e o meu marido definimos que teríamos um filho. Essa foi a melhor decisão das nossas vidas! Na época, morávamos em Moçambique porque somos pastores evangélicos e pregávamos a palavra de Deus em uma missão. Decidimos que a pequena nasceria lá e assim foi. Em 2012, retornamos para o Brasil.

Eu sou branca e meu marido é negro. Naturalmente, nossa filha é miscigenada, como a maioria dos brasileiros. Desde cedo, tento explicar para ela que as diferenças existem, mas que elas não definem as pessoas e percebi a necessidade de empoderá-la quanto a sua negritude. Várias vezes, Rafa é a única representante de sua etnia em festas de amigos, escolas, restaurantes, eventos infantis ligados ao mundo da moda, entre outras ocasiões.

Quando ela começou a crescer, surgiram os questionamentos – vindos dela e dos próprios amigos. “Mãe, por que você é branca igual a parede?”. Essa foi a primeira pergunta que Rafa fez sobre a nossa diferença étnica. Eu expliquei que era porque os meus pais tinham aquela cor e que, normalmente, nos parecemos com os nossos familiares. Ela prontamente falou: “Não fica triste, mamãe. Vou comprar uma tinta preta e te pintar todinha para você ficar feliz!”. Naquele momento, o meu coração se encheu de alegria porque eu sabia que a pequena estava absorvendo o que eu ensinava e que ela tinha orgulho da sua cor.

Porém, não é nada fácil e a nossa luta é diária. Dentre 400 crianças da escola, Rafa era a única negra e não tinha referências. Sempre chegava em casa pedindo uma franja loira, uma pele mais clara e por aí vai. O problema que vivemos é social e cultural. É mais comum vermos um branco com poder aquisitivo alto do que um negro. Infelizmente, essa ainda é a realidade do nosso país.

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De todas as vezes em que a minha filha questionou algo, nada me doeu mais do que o dia que ela pediu para ser branca. Eu perguntei o motivo daquele desejo, já que ela era tão linda da sua maneira, mas a sua resposta partiu o meu coração: “ah, mãe, porque as pessoas brancas só falam com as pessoas brancas. Elas não conversam muito com as pretas”. Eu respondi: “Mas, como assim? Eu não falo com você, com o papai?”. E ela disse: “Você não vale. Você é minha mãe”. Imediatamente eu pensei: onde minha filha sentiu isso? Em qual momento ela percebeu essa atitude? Ela se sentiu desprezada, infeliz? Eu não sei dizer… Só sei que luto todos os dias para que ela se ame, se aceite e tenha certeza de que pode ser o que quiser.

Como eu disse anteriormente, o Brasil é um país racista e esse papo de “racismo velado” não me compra. A partir do momento em que o salário de um branco e de um negro da mesma profissão os difere isso já não é velado. Muitas vezes, os olhares tortos para um grupo de rapazes negros não acontecem da mesma maneira para um grupo de rapazes brancos. Ouço quase diariamente das pessoas na rua: “Ela é adotada, é sua filha do coração?”, “Nossa, ainda bem que ela não nasceu com o cabelo tão ruim” ou “Pelo menos ela não é tão pretinha, né?”. Tento entender o que se passa na cabeça das pessoas, porém, não as culpo, pois elas foram criadas e ensinadas dessa forma. Por isso, educo a minha filha de maneira consciente, para que no futuro ela seja diferente.

A geração de hoje está falando mais, lutando pelo seu espaço. Imagina quando a Rafa crescer? Eu anseio por esse dia porque quero que ela seja referência para muitas meninas negras que ainda estão por vir. Talvez dessa forma, nós consigamos construir uma sociedade um pouco mais igualitária e, assim, outras garotas não precisarão enfrentar os problemas que a minha filha vive hoje.”

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