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Meu filho venceu o câncer

Como você agiria se descobrisse que o seu filho tem leucemia? Veja o relato de uma mãe que passou por isso e conheça o final feliz dessa história!

Por Luísa Massa
Atualizado em 22 out 2016, 15h57 - Publicado em 11 Maio 2015, 10h53

Mabelle Rodrigues é mãe de João Pedro, de 7 anos. Aqui, ela conta como foi descobrir o diagnóstico de leucemia quando seu filho tinha apenas 3 anos. Confira!

“Tudo começou em setembro de 2010, quando o João Pedro tinha apenas 3 anos e foi diagnosticado com leucemia. Enquanto passávamos o feriado na praia, em Guarajuba, Bahia, meu filho começou a mancar. Não dei muita importância porque achei que fosse apenas resquícios de um final de semana prolongado cheio de atividades físicas. Mas não foi.

No dia seguinte, pedi para que o meu cunhado ortopedista examinasse a perna de João Pedro. Ele percebeu que ela estava inchada, receitou um anti-inflamatório e pediu uma série de exames para confirmar sua suspeita de inflamação na articulação do joelho. Por um tempo, resisti a dar o remédio porque meu filho estava sendo tratado com homeopatia e não tomava medicamento alopático havia muito tempo.

Um dia depois, João Pedro teve uma forte crise de dor e eu acabei dando o remédio para ele. Daquele episódio em diante, meu filho ficou muito desanimado e, na segunda-feira, eu estava com ele no consultório de sua pediatra em Salvador. A médica esperou mais de 24 horas para pedir internação e na terça-feira, dia 14/09, demos entrada na emergência no hospital. A partir daquele momento, a constatação de que algo muito sério estava acontecendo ficava cada vez mais evidente.

A médica plantonista que atendeu o João era hematologista e desconfiou de leucemia. O hemograma do pequeno estava muito baixo e ele precisou receber imediatamente uma transfusão de sangue. Quando ouvi a palavra “leucemia” pela primeira vez da boca da médica, meu mundo desabou. Minha mãe, que viajou comigo para Salvador, também não acreditava. Liguei para o meu marido, que estava trabalhando no interior do Maranhão, e não consegui falar nada. Só pedi para ele retornar com urgência porque o caso do nosso filho era sério. Às 7 horas da manhã do dia seguinte ele chegou.

João Pedro ficou muito assustado com tudo o que estava acontecendo e só a minha presença o acalmava. Até hoje eu não sei de onde tirei forças para suportar aqueles primeiros 11 dias no hospital. Nesse período, foram realizados quatro acessos para ministrar os medicamentos – o último deles na jugular. Dezenas de furadas foram feitas no meu pequeno para fazer o hemograma e ele estava com uma febre que não cessava. Eu senti desde o início que a conduta da equipe médica do hospital era confirmar o que para eles já era o certo: o diagnóstico de leucemia.

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No meu coração, a esperança de que fosse qualquer outra coisa ia se esquivando a cada dia. Vários exames foram feitos, entre eles raio-X, ultrassom e tomografia. Eles não identificaram nada de errado. Então, fomos apresentados a uma oncologista infantil. Ela conversou conosco e agendou para o dia seguinte o mielograma – exame de punção da medula óssea que  faz o diagnóstico de leucemia. Realizar o procedimento mexeu muito comigo. Era a primeira vez que eu teria que deixar o meu filho na mão de outra pessoa. O exame foi feito no centro cirúrgico com o João sedado e anestesiado. Não vou me ater ao fato de que o material coletado no primeiro mielograma foi contaminado porque isso me revolta até hoje. Mas para termos o diagnóstico certo precisamos passar por esse trauma novamente.

O fato é que recebemos a confirmação de que o nosso filho tinha leucemia linfoide aguda tipo B. O diagnóstico me tirou do chão! No primeiro momento, eu me perguntava como sobreviveria sem a parte mais importante do meu corpo: o coração. Confesso que, por um tempo, uma dor dilacerante tomou conta do meu peito. Vê-lo sofrer era insuportável! No dia seguinte, 22/09, demos início à quimioterapia. Esse primeiro mês de tratamento é muito pesado para o paciente e para quem o acompanha. Tudo é novo e difícil. Cada procedimento é um sofrimento sem fim. João perdeu dois quilos e meio e parte dos movimentos das pernas – um dos efeitos colaterais do uso constante de corticoides é a atrofia muscular. Apesar de tudo isso, meu filho venceu a primeira fase com louvor.

A segunda etapa do tratamento foi mais tranquila. O melhor de tudo é que pudemos voltar para a nossa casa, em Santo Antônio. Na minha cidade, tinha uma coisa que eu estava louca para fazer: levar o pequeno até a escola para rever os coleguinhas. Quando vi que a imunidade do meu filho estava recuperada, não pensei duas vezes. Ao chegar ao colégio, me emocionei com a recepção de todos e pelo fato de poder estar ali de novo com o João. Ele foi recebido com muito carinho pelos amigos, que queriam abraçá-lo e tocar sua carequinha. Nosso merecido descanso de 15 dias só foi alterado porque a hemoglobina do João caiu muito e tivemos que ir antes para Salvador. Mas com a transfusão de sangue, tudo se normalizou.

Depois disso, foi bem difícil voltar à rotina do hospital para a terceira fase do tratamento. Ter que conviver com o sofrimento de crianças que não têm noção do que estão vivendo é muito complicado. Acho que uma das melhores decisões que eu e meu marido tomamos foi a de contar tudo o que estava acontecendo para o João Pedro. Tentamos fazer isso de forma lúdica, mas nem sempre conseguimos. Um exemplo foi dizer para o pequeno que ele tomava suco de uva na veia quando fazia uma transfusão de sangue. Fomos levando assim, tentando tirar o peso do sofrimento diário.

Eu nunca imaginei que o tratamento da doença durasse tanto tempo. Nos dois anos seguintes nossas vidas foram permeadas por sessões de quimioterapias, injeções, baixa de imunidade, várias restrições, possíveis transfusões e internações. Foi assim que surgiu a ideia de criar o blog Príncipe João e o Dodói Bem Grandão, escrito por mim e pelo meu marido para contar o que estávamos vivenciando na época. Enfim, João respondeu bem ao tratamento e no dia 23 de janeiro de 2013 nosso filho recebeu alta! Impossível descrever essa emoção! A tão esperada cura só poderá ser comemorada, de fato, em janeiro de 2017, por conta do protocolo médico. Mas hoje, com 7 anos, João leva uma vida normal e lembra muito pouco do que vivenciou no tratamento. Para ilustrar isso, vou relatar um pequeno diálogo que tive com ele nos recentemente:

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– Mamãe, você sabia que câncer mata?

– É, meu filho? E você sabia que o dodói grandão era um tipo de câncer?

– Verdade? – Perguntou assustado. Depois de pensar um pouco falou:

– Que legal, vou contar para os meus amigos!

Sempre digo que, apesar das circunstâncias, fomos abençoados por Deus. Não só pelo final feliz dessa história, mas principalmente pela forma que nós conduzimos o tratamento. Eu e meu marido tentávamos transformar a rotina sofrida do João Pedro em momentos mais leves. Quem está de fora deve achar que ter um filho com câncer deve ser o maior infortúnio na vida de uma mãe. Mas conviver no dia a dia com histórias de outras crianças doentes nos faz enxergar o nosso privilégio. O que me manteve em pé foi a fé em Deus, o apoio das nossas famílias – sobretudo do meu marido – e a força que o João teve para lidar com um problema tão grande. Com o tempo, percebi que o nosso filho é o instrumento de Deus em nossas vidas: tudo o que ele passou tem um motivo e uma relação direta com a minha vida e a do seu pai.”

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*Depoimento publicado originalmente em 15/02/2015.

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