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Flavia Calina fala sobre a maternidade e o seu trabalho no YouTube

Em entrevista, a vlogueira conta como está sendo a experiência de ser mãe e como ela e sua família lidam com o sucesso do canal.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 31 out 2016, 17h07 - Publicado em 21 mar 2016, 11h04

Desde criança, Flavia Calina já sonhava em ser mãe e, quando se casou e se mudou para os Estados Unidos, aos 22 anos, não via a hora de engravidar. Mas como a vida nem sempre cumpre os projetos que a gente insiste em traçar, sua primeira filha só veio 7 anos depois – após diversos tratamentos de inseminação artificial e várias tentativas frustradas. Para se distrair da decepção de não conseguir aumentar a família, Flavia criou um canal em 2009 para falar sobre maquiagem e, de lá para cá, os seus inscritos só se multiplicaram – já são mais de 1,3 milhões. A pequena Victoria nasceu (e já completou 2 anos e quatro meses), os vídeos passaram a se voltar para o universo da maternidade e o hobby virou trabalho. Em entrevista exclusiva ao Bebê.com.br, Flavia conta como é a experiência de ter um filho e como ela lida com o fato de ter se tornado uma celebridade do YouTube:

Você sempre fala que queria ser mãe mais jovem, mas a vida te levou por um outro caminho e a maternidade só veio depois dos 30. Pensando nisso hoje, você acha que é uma mãe diferente do que teria sido aos vinte e poucos anos?

Flavia Calina: Com certeza! Acho que hoje eu estou muito mais madura, mais preparada para ser mãe. Nesse período em que eu tentava engravidar, tive a chance de trabalhar na área de educação infantil e essa experiência faz com que eu entenda, agora, certos comportamentos da minha filha que talvez eu não entedesse antes – e isso traz vantagens para nós duas. E é engraçado que muita gente pensava que o fato de eu ter demorado para conseguir engravidar fosse me fazer querer proteger demais a Victoria, colocá-la numa redoma. E é muito pelo contrário, na verdade. Eu quero que ela aprenda, que ela explore as coisas e tenha uma independência.

Por ter trabalhado na área de educação infantil, você sempre fala sobre a linha montessoriana. Por que você gosta dessa linha? E é ela que você pretende seguir ao procurar uma escola para a Victoria, quando quiser que ela comece a estudar?

F.C.: Gosto do sistema, embora eu ache a professora muito “tradicional”, o que já é bem diferente de mim, porque eu sou mais calorosa, amorosa… Por exemplo, em vez de abraçar, ela aperta a mão das crianças e isso me pega um pouco. Mas a parte acadêmica é excelente! Na montessori, eles dão autonomia para as crianças. Há uma mistura de idade que é muito interessante. Então, crianças de 3 anos convivem com as de 6 e as veem escrevendo, resolvendo problemas de matemática e ficam inspiradas, mas tudo acontece no tempo certo de cada uma. Você pode reparar que criança gosta de ver outras crianças, elas gostam de se assistir.

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Eu estou muito animada para colocar a Victoria em uma escola montessoriana na qual eu trabalhei, mas estamos decidindo quando ainda. Para mim, o ideal seria ficar com ela até os três anos de idade em casa, porque eu acho que é melhor para a imunidade dela e também porque ninguém vai cuidar melhor do nosso filho do que o pai e a mãe. Mas agora acho que já estou preparada para isso, minha filha já fala e isso ajuda bastante, porque ela consegue contar se alguma coisa estiver errada. Como eu trabalhei lá, conheço bem e sei que depois que os pais vão embora, a criança para de chorar e tem experiências incríveis.

Você acha que estar no YouTube muda o seu jeito de ser mãe de alguma forma?

F.C.: Acho que muda geral, não só no meu jeito de ser mãe. O fato de eu poder me assistir me traz uma perspectiva bem diferente. A gente grava muitos minutos durante o dia e só alguns vão ao ar. Então, quando eu edito, consigo ver muita coisa que aconteceu e até penso “nossa, mas eu falo assim?”. Por exemplo, já percebi uma vez que minha filha estava tentando me falar alguma coisa e eu não deixei, passei por cima e não dei atenção. Só depois que assisti ao vídeo percebi o que eu tinha feito. Então acho que os meus vídeos me fazem prestar mais atenção ao meu comportamento e isso acaba influenciando também na minha relação com a Victoria.

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O seu canal cresceu muito desde 2009 e o seu hobby passou a ser o seu trabalho – inclusive, o Ricardo, seu marido, deixou o emprego dele. Então, vocês dois trabalham em casa na maior parte do tempo. Como a Victoria entende isso?

F.C.: Essa é uma coisa que a gente se questiona bastante. Aqui em casa, ela associa a ideia de trabalho ao computador. Então, quando estamos na mesa do computador ela entende que é hora de trabalhar e que aquilo está fora do limite dela, que ela tem outras coisas para brincar. Mas uma coisa que me preocupa mais é que nós estamos aqui 24 horas por dia. Ela vê que nós trabalhamos em casa, às vezes ficamos de pijama, na sala… Eu fico pensando em como vou ensiná-la a ter uma boa ideia de ética no trabalho, de disciplina. Às vezes eu fico trabalhando de madrugada e acabo acordando tarde no dia seguinte, mas ela não vê que fiquei acordada até tarde. E me pergunto: “será que ela pensa que vai poder trabalhar na cama?”. Mas eu passei por todo um processo até chegar aqui, já trabalhei muito acordando cedo, batendo cartão, respondendo para chefe. Claro que ela vai entender quando ficar maior, mas por enquanto ela só vê a “parte boa”. Conforme ela for crescendo, aí vou compartilhando com ela que a gente trabalha em casa, mas também tem compromissos, prazos a cumprir, reponsabilidades… Enfim, tudo que envolve um trabalho. 

Como você explica para a Victoria o carinho que as pessoas têm por vocês (e que é diferente do que se tem com artistas de TV, porque há uma sensação de intimidade)? Você chegou a fechar sua caixa postal para parar de receber tantos presentes que as suas fãs te mandavam. Então isso é algo que te preocupa?

F.C.: Eu acredito que algumas conversas têm que ser apropriadas para a idade, então não adianta ainda falar certas coisas para ela. Mas é algo importante até para mim, porque eu nunca esperei nada disso e ainda tento entender como as pessoas lidam com a gente, como é toda essa proximidade que elas sentem que têm. Eu quero ser sempre muito centrada em relação a isso, não quero que a Victoria nunca se ache mais especial do que ninguém porque as pessoas a conhecem. Ela é especial para mim, que sou mãe, mas no mundo ela não é melhor que ninguém. Tudo vem do mérito dela e de como ela vai se comportar. Foi por esse mesmo motivo que eu fechei a caixa postal, não queria que ela achasse normal ganhar tantos presentes. Não sei o quanto ela vai entender, mas eu explico sempre com frases curtas para ela assimilar melhor.  

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Dá pra perceber que as suas leitoras criam um vínculo muito forte com você, que elas entendem até que têm uma familiaridade que, na verdade, não é bem real. E isso abre espaço para que as pessoas se sintam muito à vontade para opinar sobre tudo. Como você lida com isso?

F.C.: Eu aprendi desde cedo no YouTube que o segredo para isso – se é que existe um – é você saber quem você realmente é, qual é o seu propósito e por que você está fazendo certas coisas. Por exemplo, às vezes eu falo algo para a Victoria e as pessoas reclamam que fui meio seca com ela. O que importa é que, naquele momento, eu sabia que precisava ser assertiva e que aquilo seria o melhor para a minha filha. Então eu tento não ficar me justificando muito. Claro que isso não quer dizer que tudo o que faço está certo, mas se eu for levar em consideração o que todo mundo fala, não vai funcionar. As coisas que eu faço e que eu mostro nos vídeos são aquelas que eu acredito ser a melhor forma para a nossa família, é o jeito que eu escolhi e deixo isso bem claro. Nunca falo para as pessoas como elas devem viver suas vidas ou criar os seus filhos.

Por outro lado, o bom das críticas e dessas opiniões diferentes das minhas é que muitas me fazem repensar bastante coisa. Claro que algumas eu avalio e vejo que não têm fundamento, mas tem coisa que eu leio e falo “nossa, nunca pensei por esse lado!”. E eu já cheguei a abrir isso várias vezes em vídeo e até a me retratar, porque acho que nós estamos aqui para aprender também. Sei que não é nada pessoal, que cada um tem suas experiências de vida e que elas não falam certas coisas para me atacar. Mas quando percebo que é por maldade, aí realmente não quero nem saber, mas às vezes a pessoa só não usa as palavras certas e aí consigo passar por cima e entender o que ela está querendo me dizer.  

Você vê alguma diferença no comportamento da Victoria quando vocês estão no Brasil, junto da família, e quando vocês estão aí, longe dos avós e tios? Você acha que esse contato mais próximo é importante?

F.C.: Sim, 100%! Essa é uma coisa que eu me questiono o tempo todo. Será que estou fazendo o certo de estar longe? Porque eu sei o quanto eu me beneficiei por crescer perto das outras pessoas, da minha família. Tenho minha cabeça no lugar, sempre sei com quem contar, tenho mais segurança por causa disso e quero muito que a Victoria cresça sentindo a mesma coisa. O problema é que não tem como fazer isso à distância, é muito, muito difícil criar laços fortes pelo Skype. A minha mãe consegue mais porque ela se esforça mesmo, liga todo dia e faz o que precisar para chamar a atenção da Victoria na tela. Mas é perceptível o quanto ela se comunica mais quando estamos no Brasil, porque aí ela tem mais estímulos, já que lida com mais gente. E também é importante porque ela vê que existem personalidades variadas e entende que pessoas diferentes a amam. Meu sonho era poder estar aí e aqui ao mesmo tempo. A gente até recebe bastante gente da família em casa de vez em quando, mas não é a mesma coisa. Agora, eu estou tendo oportunidades de ficar mais tempo no Brasil. Acho que, se não fosse assim, teríamos que repensar essa decisão de continuar nos Estados Unidos.

A gente conhece a Victoria antes mesmo de ela nascer. Como você consegue escolher o que mostrar ou não nos vídeos? Como você mede o que invade ou não a privacidade dela?

F.C.: Essa é uma preocupação diária que eu tenho, e nós, eu e o Ricardo, decidimos nunca colocar a Victoria numa posição de estresse ou de vergonha. Por exemplo, tem vários vídeos engraçadinhos na internet em que aparece uma criança aprontando, chorando… E a gente acabo rindo, achando divertido. Mas se você parar para pensar e se colocar no lugar da criança, você percebe que ela está chorando de verdade. A gente ri porque sabe que é uma coisa boba, mas para ela é algo sério. Às vezes eu dou risada de algumas situações que acontecem com ela, mas não coloco no vídeo. Imagina como fica a cabeça da criança? “Como assim, em vez de me acudir você ainda ficou rindo e filmando?”. Então, tomei essa decisão. E não é para tentar mostrar que a vida é perfeita, não, mas como é a vida da minha filha, eu só vou mostrar quando estiver tudo bem. Até porque criança apronta mesmo, todo mundo sabe disso, eu não preciso colocar na internet. Além disso, há coisas que nós temos que preservar na nossa família. E eu sempre penso antes: o que seria inofensivo e que também poderia levar uma coisa legal para as pessoas? Por isso, sempre tento focar em algo positivo.

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Você já disse várias vezes que quer engravidar novamente. Quando isso acontecer, você acha que vai registrar todo o processo de novo e compartilhar na internet?

F.C.: Ah, com certeza. Até porque isso já é esperado pelas pessoas. Mas, como eu falei, me assistir me faz ser uma pessoa melhor. E quando eu assisto aos vídeos antigos é, de certa forma, como um presente para mim também. Relembrar, reviver aquilo tudo me traz uma alegria muito grande. E eu adoraria ter registros como esses da minha infância, da minha mãe grávida… Então, sim, se acontecer eu pretendo fazer tudo de novo.

Antes de ter filhos a gente acaba julgando muito as outras mães pelo comportamento de suas crianças, mas, depois da maternidade, acaba enxergando tudo com outra perspectiva. Acontece de você se pegar fazendo alguma coisa que jurava nunca fazer?

F.C.: Toda hora! Estou tendo um problema muito sério para ela dormir ultimamente. Sempre achei que ia colocá-la na caminha dela, sair e fechar a porta. Mas não, ela só dorme passando a mão no meu corpo, no meu rosto… Ela está com essa dependência de encostar para conseguir dormir. E eu sempre falei que, se ela viesse à noite para a nossa cama, eu não deixaria de jeito nenhum. Mas agora isso acontece e estou sempre tão cansada que acabo deixando. Outra coisa que eu achava que nunca iria acontecer era um showzinho da Victoria no mercado. Porque eu explico tudo para ela o tempo todo, falo o que é certo e o que não é, dou alternativas. Mas um dia eu aprendi que ninguém segura uma criança com fome e com sono. A menina passou a mão na prateleira e derrubou tudo! Aí aprendi que se tem uma palavra que não existe é essa: nunca. Ela já saiu do meu vocabulário faz tempo.

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Você sonhou em ser mãe por muito tempo, mas, às vezes, as coisas não são como a gente espera ou idealiza… A maternidade é tudo que você sonhava? É mais difícil?

F.C.: Eu acho que é melhor. Por que eu pensava muito em ter um filho, mas eu não idealizava tanto como ela ia ser, eu não tinha tanta expectativa. Talvez por lidar com crianças no meu trabalho, eu já sabia que as personalidades são muito diferentes, então eu tinha um pouco de medo de idealizar uma criança. Eu pensava muito em momentos, em situações… Como seria ir ao parque aquático com ela, se eu iria colocá-la no meu colo para brincar de dirigir como a minha mãe fazia comigo… Todo mundo fala do amor de mãe, mas quando você tem um filho, você realmente entende e percebe que ele só cresce. Hoje eu amo a Victoria mil vezes mais do que quando ela nasceu! Claro que eu a amava antes, mas a convivência só multiplica isso. Regar a plantinha do amor faz toda a diferença, estou cada vez mais apaixonada por ela, pela personalidade dela, pelo jeito que ela se comporta, por ver o respeito que ela tem. E nada disso eu já sabia como ia ser, porque na sala de aula é diferente, você não lida com o próprio filho. Os pais sempre me perguntavam como eu conseguia lidar com 7 crianças pequenas ao mesmo tempo, mas não é a mesma coisa porque, por eu não ser mãe delas, dá para ser mais assertiva. Quando você tem um amor incondicional, aí às vezes acaba sendo mais mole, cedendo algumas coisas.

Então, eu sabia que ia mudar, mas o amor é ainda muito maior do que eu imaginava. A responsabilidade também, claro. Ela aprende e repete as coisas imediatamente, então temos que estar muito atentos. E às vezes eu me pergunto se o que estou fazendo é o certo, mas acho que está tudo muito melhor do que eu esperava. As pessoas até comentam que eu pareço muito mais alegre do que eu era antes. E eu achava que era um exagero, afinal, eu já era feliz. Mas um dia e eu parei para assistir aos vídeos antigos e é verdade, eu mudei mesmo! Acho que a gente sempre busca um propósito na vida, algo maior. E, quando nasce um filho, isso triplica, porque você pensa “poxa, agora eu realmente tenho uma missão”.

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