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“Eu escolhi a criação com apego”

Conheça a história de uma mãe que é adepta a essa técnica e saiba quais são os benefícios que ela proporciona para o pequeno e toda a família.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 06h28 - Publicado em 2 Maio 2016, 10h34

Thalita Bernardes, 29 anos, é mãe do Gabriel, de 1 ano e 9 meses, psicóloga e idealizadora do blog Mamãe Felícia. Aqui, ela conta porque escolheu a criação com o apego e como incorpora esse método na rotina do pequeno.

“A maioria das crianças quando são questionadas sobre o que serão quando crescer respondem as mais variadas e criativas profissões. Comigo foi diferente. Minha mãe me conta que eu nunca titubeei quando faziam essa pergunta e prontamente dizia: “eu serei mãe!”. Essa realmente sempre foi a minha grande vontade!

Hoje eu sei que essa resposta fofa, que eu dava quando era criança, mostrava o reflexo dos meus sentimentos e até mesmo de certa carência que tinha na época. Fui criada pelos meus avós paternos, que sempre desempenharam de forma exemplar sua função de avós, padrinhos e até pais nas horas vagas. Meus pais se casaram jovens e se separaram muito cedo e, por isso, eu fui morar com os meus avós. Com maturidade, consigo entender que essa foi a melhor decisão – a mais inteligente e corajosa de todas as partes envolvidas. Mas quando você é criança e tem que lidar com as indagações dos seus amigos da escola, quando te questionam o motivo de escolhas que foram feitas por você, esse entendimento não é tão claro. Diversos sentimentos contraditórios estiveram presentes por anos nos meus pensamentos.

Cresci, estudei, me formei, me apaixonei – até mais vezes do que eu gostaria, confesso! Mas apenas uma única vez percebi que tinha encontrado a pessoa certa. Sim, ele seria o pai dos meus filhos! Namoramos, noivamos, casamos e engravidamos. Começamos a ler sobre o assunto e a pensar no futuro, em como desempenharíamos a nossa função de pais. Então, fizemos o primeiro trato: nada de críticas! Como aquele mundo era desconhecido para nós dois, que não tínhamos experiência, eu sabia que encontraria o meu caminho – a melhor forma de dar banho, de trocar fralda, fazer dormir – e que isso também aconteceria com ele.

Assim como o sonho de ser mãe, sempre cultivei o sonho de encontrar alguém que fosse parceiro de verdade e que despertasse nos meus filhos o mesmo sentimento de amor incondicional que o meu pai cultivou em mim! Ele se foi quando eu tinha apenas 15 anos e independente de suas escolhas pessoais, a única coisa que ele nunca me deixou em dúvida foi em relação ao seu amor. Nossa ligação e cumplicidade sempre estiveram em perfeita sintonia e hoje eu sei que isso aconteceu porque ele foi participativo em minha educação e criação.

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Enfim, o Gab (como chamamos o nosso pequeno Gabriel) chegou ao mundo! A parceria e cumplicidade com o meu marido só aumentaram de forma natural e espontânea. Ele tem a maneira dele de fazer as coisas, assim como eu. Compartilhamos novas experiências, situações inusitadas, dividimos quase todas as tarefas e sempre pude contar com o apoio dele! Fomos nos descobrindo cada vez mais como parceiros, cúmplices e pais.

Em meio a tanta novidade do mundo da maternidade, me deparei com o termo criação com apego. Nunca tinha escutado falar, mas a técnica chamou a minha atenção e despertou curiosidade. Entrei no site de uma organização americana e fui conhecer a metodologia. Assim que terminei de ler, lembro que falei para o meu marido: “É isso que fazemos. Nós praticamos a criação com apego!”.

A palavra “apego”, inserida no método, costuma gerar muitas dúvidas e até algumas críticas, pois é interpretada de forma pejorativa como algo pegajoso, dependente. Na verdade, o termo é usado para expressar o vínculo emocional de um relacionamento. Após muitos estudos nas áreas de psicologia e desenvolvimento infantil, descobriu-se que as crianças percebem as relações entre seus pais através de contato, de necessidades atendidas, de amor e afeto. A partir daí podem estabelecer um apego seguro emocional e fisicamente ou mesmo inseguro. Os pequenos com apego seguro, geralmente respondem melhor as situações de estresse, se relacionam bem com o meio, enquanto os com apego inseguro são propensos à depressão e situações de ansiedade, são menos flexíveis.

Nossa introdução no mundo da criação com apego foi intuitiva, mesmo porque sem conhecer as premissas, nós já a praticávamos na maior parte do tempo. Nessa época, o Gabriel já estava com seis meses e grande parte dos princípios – que falam de comportamentos que promovem o apego seguro – já eram utilizados no dia a dia. Hoje meu filho está com quase 2 anos e muitos ainda questionam sobre as decisões que tomamos. A mais polêmica é a de praticar a cama compartilhada. Nem sempre é fácil explicar que se trata de um estilo de vida, uma escolha que o casal fez e deu certo. Eu sinto que grande parte das pessoas está mais preocupada em argumentar sobre o assunto, dizer o motivo de que não devemos fazer isso ou aquilo, do que de fato ouvir o que temos a dizer e entender que cada família é uma, que o que funciona na casa do “João”, pode ser que não sirva para a minha e vice-versa.

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Lutei muito para amamentar o Gabriel, enfrentei dificuldades no começo, mas me mantive forte e estimulei a produção de leite. Não foi fácil, mas o pequeno mamou até 1 ano e 6 meses e acho que essa foi uma das decisões mais criticadas. Diziam que o meu filho seria sempre muito dependente, que usava o peito apenas como refúgio, já que ele não precisava mais disso. E eu? Ficava indignada com a facilidade de que todos tinham em oferecer sempre uma crítica, muitas vezes apenas pelo prazer de fazer isso, sem ao mesmo questionar detalhes ou entender nossa trajetória. Depois de quase dois anos, aprendi a escutar, trocar opinião com quem tem conteúdo, que critica de forma inteligente, concordando ou não comigo e faço cara de paisagem para quem fala por falar.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal ()

Nesse momento, posso dizer que  estamos passando por uma das fases mais difíceis na educação do Gabriel, onde temos que exercer uma das práticas mais desafiadoras que existem: a disciplina positiva. Digo que é a mais desafiadora, pois nós não fomos criados dessa forma. Viemos de uma época em que se falava não e só isso bastava para que a gente obedecesse. Agora, tento dar opções, explicar o porquê de tudo – principalmente do não – e apresentar alternativas diferentes por meio do sim. Confesso que não é fácil. Nós temos que nos reinventar diariamente, quebrar paradigmas, repensar em escolhas… Tudo em prol dos pequenos! Temos a missão mais prazerosa e recompensadora, porém difícil e extremamente importante. Educar é apresentar e preparar uma pessoa para o mundo e construir essa base sólida transmitindo amor e confiança é o que vai formar esse cidadão e permitir que ele se relacione de forma saudável com quem cruzar o seu caminho. Hoje entendo que criação com apego é mais do que uma metodologia, é um estilo de vida, uma configuração familiar em que a formação do vínculo emocional forte e saudável é criado através das práticas de empatia e respeito entre pais e filhos. E há muitos benefícios a curto, médio e longo prazo!”

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