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“Eu decidi ficar em casa cuidando das minhas filhas”

Conheça a história de um pai que fica à disposição das crianças enquanto a mãe trabalha. Veja quais são os pontos positivos e negativos da escolha que ele fez.

Por Luísa Massa
Atualizado em 22 out 2016, 14h19 - Publicado em 14 ago 2016, 07h30

Eduardo Costa, 35 anos, é pai da Maria Antonia, de 2 anos e 7 meses, e da Maria Eduarda, de 1 ano e 3 meses, e idealizador do Instagram Pai das Marias. Aqui, ele fala sobre a decisão de cuidar das filhas em tempo integral.

“Sempre tive vontade de ser pai. Quando eu tinha 17 anos, um primo meu nasceu com um probleminha na perna e toda terça-feira eu o levava ao ortopedista porque os meus pais estavam trabalhando, a minha tia estava de licença-maternidade e o pai dele não morava na mesma cidade que a gente. Eu acho que foi a partir dessa experiência que o desejo da paternidade foi despertado. Mas eu sabia que só poderia realizar esse sonho quando tivesse uma família, pois não tinha intenção de ser pai solteiro – não desmerecendo quem é, mas eu sempre acreditei na instituição família. Então, logo depois que me casei, eu e a Simone já pensávamos na ideia de ter um filho.

Na época em que a minha esposa engravidou, eu não estava trabalhando, pois o comércio que eu tinha no ramo da alimentação fechou. Eu estava fazendo uma coisa ou outra, começando alguns projetos, mas nada concreto. Como a Simone tem trombofilia, nós sabíamos que teríamos que tomar alguns cuidados específicos durante a gestação. Foi aí que resolvi que engravidaria junto com ela e que passaria pelo que ela estava passando para que a doença fosse apenas um detalhe. Eu não perdi nenhuma consulta médica, nenhum ultrassom, nada. Compareci em tudo e, às vezes, até acho que pequei pelo excesso.

Com o nascimento da Maria Antonia, novamente resolvi participar ativamente. Os primeiros quinze dias de vida dela foram bem difíceis, mas nós contratamos uma enfermeira para ajudar à noite. Nesse período, a Simone também teve o começo de uma depressão e eu tive que colocar a mão na massa: dei o primeiro banho na nossa filha porque ela estava com receio e juntos fomos tentando fazer com que a doença não progredisse. Graças a Deus, ela ficou bem após duas semanas. Às vezes ela comenta que esse sentimento estava ligado ao medo e a insegurança, que acredito que toda mãe tem no início. Nós também tomamos a decisão de não ter babá para não correr o risco de delegar certas coisas que deveríamos fazer e optamos por não colocar na creche até completar 2 anos.

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Quando a Maria Antonia tinha apenas dois meses, a Simone precisou voltar a trabalhar. Ela tem um laboratório de análises clínicas e sua sócia teve um problema de saúde muito sério e entrou em licença médica, então, ela teve que retornar. O horário de trabalho era das 9 às 14h e nesse tempo eu ficava com a Maria Antonia. No começo a minha mãe me deu uma força, mas as coisas foram se ajeitando e decidimos que eu ficaria em casa cuidando dela. Na época, eu tinha uma conta no Instagram e compartilhava a nossa rotina somente com os amigos, mas surgiu a ideia de desbloqueá-la e torná-la pública. Eu comecei a questionar se a minha conduta estava certa, se esse realmente era o trabalho de pai e estava meio confuso. Abrir o perfil do Instagram foi muito bom: as pessoas começaram a me seguir e indicar para os amigos. Acho que, no fundo, essa ideia também surgiu para que eu fugisse de algo, pois estava me sentindo mal com a situação, só que não sabia ainda que o papel de pai não é somente pagar as contas.

Hoje, eu ainda fico em casa cuidando da Maria Antonia e da Maria Eduarda, que chegou depois. A rotina é bem cansativa, mas acho que ela é assim porque não tem rotina, pois cada dia as meninas acordam e vão dormir em um horário. É um trabalho desgastante fisicamente e emocionalmente. Eu digo que eu e a Si não temos uma divisão de tarefas exata, mas nos organizamos por períodos, pois eu gosto de acordar e dormir cedo e ela prefere acordar e dormir mais tarde. Fazemos isso desde que as nossas filhas eram bem pequenas porque elas desmamaram cedo devido à trombofilia. Depois que elas nasceram, a Simone ficou 30 dias sem medicação e, após esse período, teve que tomar um remédio que compromete a saúde dos bebês, por isso, decidimos entrar com fórmula. Se eu e a minha esposa estamos em casa, trabalhamos juntos, em parceria.

Com o esquema que temos com a nossa família, a Simone sempre diz que dá valor ao pai dela, que passou muito tempo fora de casa para trabalhar e pagar as contas e hoje ela vê como é difícil. Eu também comento que dou mais valor pelo o que a minha mãe fez para mim e para as minhas irmãs – de largar tudo e cuidar da gente, pois sei o quanto é puxado. Acho que a parte ‘ruim’ de ficar em casa cuidando das meninas é a cobrança que exijo de mim mesmo. As pessoas acham que, por eu estar em casa, estou achando maravilhoso não estar produzindo e fazendo o dinheiro entrar, mas não é fácil. Às vezes eu me sinto na obrigação de pagar alguma coisa ou quero comprar algo para mim – não é que eu não tenho liberdade para fazer isso, muito pelo contrário, mas nem sempre eu me sinto no direito, pois acho que tudo que entra a prioridade é a Simone e as meninas. A parte boa dessa escolha é passar o tempo com a Maria Antonia e a Maria Eduarda. As duas disseram ‘papai’ primeiro que ‘mamãe’ e no começo fiquei até preocupado da minha esposa ficar triste, mas ela não enxergou dessa forma. É muito gratificante ver as duas acordando e correndo para me dar bom dia.

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Sobre preconceito, todo mundo fala de paternidade ativa, mas aos olhos das pessoas, ela é legal quando o pai é participativo porque quando os papéis se invertem ninguém vem dizer que acha normal. Mas tudo bem, cada um sabe dos valores que tem e que vai passar para os seus filhos. Eu tento não absorver comentários indesejados porque eu e a Si sabemos que a coisa está fluindo, que o trabalho está legal e essa é a nossa realidade. As meninas ainda não questionam o esquema porque elas são pequenas e não têm noção. Talvez isso ocorra mais pra frente se essa circunstância continuar acontecendo. Outra coisa que eu preciso ressaltar é que a minha esposa se faz presente. Ela é uma mãezona, trabalha, cuida da casa, da gente, das meninas. Eu sempre digo que não sou ‘pãe’ ou babá. A mãe é mãe e o pai é pai, a única coisa é que eu resolvi participar mais do que o ‘normal’.

Eu pretendo, sim, voltar para o mercado de trabalho pelo menos no próximo ano porque a gente sabe que as contas vão aumentar e que ano que vem as duas estarão na escola no período da tarde. Também pensamos em alguns projetos de empreendedorismo e, se der certo, eu vou ficar mais tempo em casa com as meninas e vai ser muito bom! Com certeza, eu acho que esse desapego vai ser mais difícil para mim do que para elas.

E se eu recomendo que algum homem deixe o trabalho para cuidar dos filhos é algo muito relativo. Por exemplo, eu já estava desempregado quando resolvi ficar com a minha filha. É diferente de você ter um emprego e se ausentar dele, mas se você tiver intenção de fazer isso, converse com a sua esposa, faça as contas e analise se é viável. De qualquer forma, eu acho que é muito válido, pois é um crescimento fantástico – você evolui como pessoa e passa a dar valor em outras coisas. Como essa decisão é difícil, você tem que estar muito bem com a sua cabeça porque será cobrado: a sociedade irá cobrar, os parentes vão cobrar e a esposa também terá dias em que reclamará da situação. Apesar de tudo isso, é gratificante demais e compensa qualquer sacrifício!”

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