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Devemos incentivar nossos filhos a revidar?

Para muitos pais, ensinar às crianças que "bateu, levou" é importante para que elas saibam se defender. Mas a agressão física pode não ser o melhor caminho.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 20 abr 2017, 15h49 - Publicado em 13 fev 2017, 17h01

Mãe de três meninos e de uma menina, a americana Jackie Goldschneider deu um depoimento ao Huffington Post que abriu espaço para uma importante discussão. Ela compartilhou com os leitores porquê ensina sua filha a revidar. Isso mesmo: ela acha importante não só ensinar a pequena a bater de volta nos irmãos, como ainda incentiva essa ação. “Ela precisa saber que ela é forte, ela precisa saber que ninguém pode colocar as mãos nela, ela precisa confiar em si mesma”, diz Jackie.

Mas além da questão de mostrar à filha, menina, que ela deve bater de volta nos irmãos, meninos, esse relato levou muitos pais a se questionarem. Afinal, deve-se ou não incentivar as crianças a revidar?

Para diversas famílias, ensinar os filhos na base do “toma lá, dá cá” é importante para que eles saibam se defender – seja na escola, em casa ou em outras situações da vida. Mas é sempre interessante lembrar que esse “saber se defender” durante a infância não precisa estar relacionado, necessariamente, à agressão física. “Gosto da ideia da criança se defender usando uma voz firme, falando bravo mesmo, evitando agressões até (muitas conseguem isso!) e se mantendo dentro do que acreditam. Bater porque o outro bate não é realmente fazer uma escolha e, muitas vezes, a pressão dos pais se torna maior do que a situação em si”, explica a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria.

Portanto, e principalmente para quem tem mais de um filho, esse é um aprendizado que começa em casa. Como os pequenos ainda estão desenvolvendo a percepção do outro – aprendendo a conviver, compartilhar, esperar, respeitar… – é preciso que os pais prestem atenção à sua própria postura quando os conflitos entre as crianças surgirem. “Isso é muito importante, pois as crianças podem entrar em grande competição em nome de terem razão perante pai ou mãe, quando esses funcionam como juízes de conflitos”, diz Daniella.

Mas, então, o que fazer já que elas ainda não conseguem lidar sozinhas com momentos de disputa? “Gosto muito da postura do adulto que facilita a comunicação, que ajuda a criança a expandir sua percepção do outro. É interessante que o adulto não dê razão a ninguém, apenas ajude os filhos a nomear o que não gostaram e garanta que ambos se escutem de fato. Isso feito, podemos perceber que a necessidade de agressão física diminui até parar por completo, pois as crianças desenvolvem uma capacidade de comunicar o que as desagrada. Fazer o ato de agressão parar é sempre o melhor caminho, até com a aplicação de consequências, se for o caso”, alerta a psicóloga.

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Por outro lado, a grande questão que parece preocupar mais os pais é a agressão dos colegas na escola. Quando um filho volta com um roxo no braço ou um machucado no rosto, às vezes é mesmo difícil ir além do “bateu, levou”, mas há outros caminhos que valem ser percorridos. “As escolas normalmente são muito parceiras nesse processo. Em geral, há muita provocação envolvida em casos assim e o ponto é que uma das crianças estoura e parte para a agressão física. Acontece entre os pequenos que até se gostam bastante, mas têm dificuldade para aceitar momentos de frustração nas negociações entre eles”, afirma Daniella. Mais uma vez, cabe o conselho de ensinar os pequenos a manter uma postura firme e, claro, estabelecer uma parceria com a escola, com o objetivo de facilitar as negociações entre esses baixinhos.

A ideia, de forma alguma, é criar filhos que aceitem agressões gratuitas e não reajam; a questão é ensiná-los a se defender sem partir para o ato físico. “Aprender a perceber suas emoções, expressar o que não gosta, falar firme quando necessário, pedir ajuda quando precisar e nunca se submeter a uma situação desconfortável é uma saída possível dentro do caminho respeitoso e construtivo da educação”, finaliza a especialista.

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