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“Como é enfrentar o maravilhoso desafio da avosidade”

Com cinco netos, Elisabete Junqueira fala sobre o papel dos avós nas relações familiares com as crianças e recomenda como tirar melhor proveito disso.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
5 dez 2016, 19h50

Aos 54 anos, a publicitária e jornalista Elisabete Junqueira tornou-se avó pela primeira vez. Depois da estreia nesse papel familiar, mais quatro bebês vieram ao mundo e, em um intervalo de três anos e meio, a pequena trupe de cinco netos estava formada: Mateus, Sofia, Rafael, Natalia e Andrew. Foi para tratar dos temas relacionados às delícias e dilemas proporcionados por essa nova fase da vida que ela criou o site avosidade, no ar desde 2015, onde traz informações aos avós e, assim, acaba ajudando a si mesma. Confira, a seguir, o depoimento de Elisabete!

“Tudo comigo aconteceu cedo. A maternidade, a carreira profissional e tantos outros desafios que acontecem quando nos impomos metas ambiciosas. Fui mãe aos 21 e novamente aos 24 anos, de dois meninos, e ganhei três filhos que vieram no enxoval do meu marido.

Quando me tornei mãe, era absolutamente sem experiência e contei com a valiosa ajuda da minha mãe e, também, com os sábios conselhos da minha avó materna, que teve sob sua batuta seis filhos e 21 netos. Seria exagero dizer que a maternidade foi para mim uma etapa tranquila e sem inquietações. Todas as mães têm imensas dúvidas de como criar os seus filhos.

Nasci em uma família acolhedora, onde as crianças eram ‘compartilhadas’. Os cuidados dos avós e demais familiares eram vistos como uma “bênção” e não como uma intromissão. Dessa forma, a mãe sempre se sentia amparada por alguém em quem confiava. Tudo era mais natural.

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Aos 54 anos, quando virei avó pela primeira vez, me considerava uma pessoa muito experiente. Talhada em ambiente profissional competitivo, atuei por mais de 35 anos na área de comunicação e marketing e tinha a sensação de que os obstáculos são para serem vencidos e as dificuldades dão ‘sabor’ às conquistas.

Ser avó não dependia de mim, mas desejei muito, sonhei bastante com essa possibilidade. Apesar de ter uma vida profissional extremamente atribulada, não conseguia deixar de pensar insistentemente no assunto. Quando veio a notícia do meu primeiro neto, fiquei extremamente emocionada. Aproveitei cada minuto da gestação da minha nora, adorava assistir aos ultrassons 3D do bebê. Estava em uma alegria que não cabia em mim.

Finalmente, meu neto chegou lindo e perfeito. Comecei a perceber que as coisas seriam diferentes do que imaginava. Há sempre mudanças na dinâmica das famílias de uma geração para outra. E, em duas gerações, mais ainda. Tudo mudou de forma radical nas últimas décadas. Como pode, quem é avó de primeira viagem, aproveitar a delícia de ter netos sem cometer gafes ou causar embaraços familiares?

Comecei a prestar muita atenção a essa nova situação. Procurei conter o meu entusiasmo e observar com cuidado as pessoas próximas ao bebê: os pais, que são os protagonistas desse novo cenário, os demais avós e toda a família que cercava aquela criança. Fiquei surpresa! Quantas revelações e expressões de sentimentos de toda natureza! Bons e ruins…

Intrigada, comecei a fazer, em principio informalmente e depois de forma sistemática, uma pesquisa sobre as novas relações familiares que envolvem os avós. Descobri que havia muitas publicações sobre bebês (cuidados, educação e nutrição), mas voltadas para mães e pais. Não havia um só ‘manual de avó’. Muito frustrante para quem estava aprendendo a ser avó.

Rafael e Elisabete
(Arquivo Pessoal/Elisabete Junqueira)

Entre observações, anotações e conversas com outros avós, mães, pais e netos adultos, conclui que nós precisávamos de um ambiente para trocar experiências, tirar dúvidas, expressar nossos sentimentos em relação aos filhos e netos e aprender a ‘ser avós’.

Já decidida a criar um veículo, onde me impus a desafiadora meta de abarcar tudo isso, veio a boa nova de que teria um segundo neto. Na sequência, a notícia de que o terceiro neto também estava a caminho. Pouco tempo depois, o quarto neto entrou na fila do calendário de nascimentos. E, antes mesmo que eu pudesse processar aquele turbilhão de emoções e novas experiências, o quinto neto se fez anunciar. Em um intervalo de três anos e meio, ganhei cinco netos. A imensa alegria veio acompanhada de grandes desafios. Como ajustar tantas expectativas e modos de atuar, diante dos ‘novos pais’ que pensam e agem diferentemente entre si?

Em meio a esse cenário peculiar, lancei em julho de 2015 o site avosidade, que trata das delícias e dilemas das relações familiares e de todo o encantamento que essa fase da vida nos proporciona. Buscando trazer informações aos avós, ajudei muito a mim mesma. Já nas primeiras reuni��es para definir a linha editorial do projeto do site, percebi que seria uma empreitada cheia de surpresas. Escrever e contar sobre os sentimentos das pessoas, em uma etapa tão especial da vida, é uma tarefa desafiadora e extremamente delicada.

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Natalia e Elisabete
(Arquivo Pessoal/Elisabete Junqueira)

Hoje sou uma avó diferente, com mais habilidade na relação com todas as pessoas da família. Aprendi com os meus entrevistados e articulistas sobre muitas coisas que não atinaria se não estivesse fazendo esse projeto. A sinceridade dos avós, manifestada em momentos de emoção, às vezes é mal interpretada. Mas revela uma coisa que só a maturidade nos traz: honestidade com os próprios sentimentos e a noção dos próprios limites. É só uma imensa vontade de ajudar os filhos em uma tarefa que pertence a eles, e não aos avós, que é a educação das crianças. Nessa tarefa, somos coadjuvantes, o que não é pouco. Nossa participação fica mais importante se entendermos qual é o nosso papel nessa relação.

Cada neto já nasce com sua personalidade. Além disso, como é o meu caso, tenho netos de vários filhos e por isso não posso ser a mesma avó com todos eles, porque entre mim e cada um deles estão os seus pais, a quem cabe dar o tom da sua formação. O meu filho e a minha nora agora são um casal com filhos, estão formando uma nova família. E temos de respeitar isso.

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Andrew e Elisabete
(Arquivo Pessoal/Elisabete Junqueira)

Não me considero, como avó, uma ‘mãe com açúcar’ nem ‘mãe duas vezes’. Sou simplesmente avó, com todo o imenso encantamento que essa nova relação me traz.

Faço a todos, avós e pais, um convite para uma reflexão. Avós: respeitem as escolhas dos seus filhos. Já tivemos a nossa oportunidade de criar os nossos filhos. Não os deixem ainda mais inseguros com críticas e intromissões desnecessárias. É preciso reconhecer que tudo muda, inclusive os avanços da ciência e os novos cuidados de saúde e alimentação. O que valia quando nossos filhos eram crianças não vale mais hoje. Não devemos vestir a carapuça de ultrapassados, devemos nos atualizar.

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Pais: ouçam seus pais. Caso não concordem com alguma questão, ponderem o tema com cuidado, para não ferir os sentimentos de quem os ama. Pensem que, assim como vocês estão tentando agora, seus pais se esforçaram muito para que vocês crescessem saudáveis e felizes. Às vezes, eles têm razão. Avaliem com carinho antes de recusar apressadamente as sugestões.

As crianças, os lindos netos, agradecerão por ganhar uma família completa e harmoniosa”.

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