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Como diferenciar baby blues de depressão pós-parto

Entenda como esses transtornos surgem, veja quais são os tratamentos indicados e como o apoio das pessoas próximas é essencial

Por Luísa Massa
Atualizado em 4 jan 2024, 08h41 - Publicado em 26 Maio 2017, 19h56

O teste da farmácia deu positivo e você recebeu a confirmação de que está esperando um bebê. A partir daí, os nove meses se passaram rapidamente: os preparativos a todo vapor, a correria para deixar tudo organizado a tempo e a ansiedade para conhecer o rostinho do pequeno. Então ele chega ao mundo e finalmente você pode pegá-lo no colo e começar a incrível jornada da maternidade.

Mas o que muitas pessoas não contam é que, apesar de ser maravilhosa, essa caminhada também é desafiadora. E no momento em que você imaginou conhecer a maior felicidade de todas, pode se deparar com uma tristeza estranha. Não significa não estar feliz com a chegada do pequeno, mas, sim, lidar com um turbilhão de emoções que chega sem avisar. Estamos falando do baby blues, período que algumas mulheres enfrentam depois do parto.

Essas alterações de humor são decorrentes de alterações hormonais abruptas que acontecem após a eliminação do bebê. O descolamento da placenta dentro do útero faz com que toda essa comunicação hormonal da mulher com o bebê se perca e o corpo reage a isso”, explica Diego Tavares, psiquiatra Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB).

A boa notícia é que, da mesma maneira que chega do nada, essa melancolia também vai embora de repente. Mas é preciso ter paciência para enfrentar esse período complicado. “No baby blues, a mulher se sente mais sensível, insegura e cobrada porque ela gostaria de estar bem, mas o seu humor não está bom. Ela se sente culpada por querer ter o momento de maternidade idealizado na revista, na novela, nas redes sociais, mas não está se sentindo emocionalmente apta para isso”, completa o médico.

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Para o psiquiatra, essa alteração pode surgir logo após as primeiras 24 horas do parto e some completamente por volta do quinto dia. Já Mariana Bonsaver, psicóloga da Maternidade Pro Matre Paulista, de São Paulo, acredita que o baby blues aparece no primeiro mês após o nascimento do bebê e pode durar de duas semanas até 30 dias. “Além das alterações hormonais, ele também está relacionado com questões emocionais como, por exemplo, se a gestação foi muito idealizada, se a mãe está com medo de dar conta da situação, se bebê chora bastante”, exemplifica a especialista.

Baby blues ou depressão pós-parto?

Diferentemente do que algumas pessoas acreditam, o que distingue o baby blues da depressão pós-parto não é o tempo de duração, mas a intensidade dos sintomas. O primeiro transtorno não atrapalha o funcionamento da vida da mulher e apesar de estar melancólica, ela consegue fazer suas atividades rotineiras. O mesmo nem sempre acontece com a depressão. “A gente consegue diferenciar pelo impacto e não pela sintomatologia. Se a mulher não estiver conseguindo se concentrar para ler um livro, ver TV, ou se o sono dela estiver muito alterado – que não seja pelo bebê -, se ela não conseguir se alimentar e se sentir incapaz de cuidar do filho é mais coisa de depressão”, conta Tavares.

Mãe cansada no puerpério com bebê no colo
(Jelena Stanojkovic/Getty Images)

Mariana Bonsaver reforça que tudo é mais acentuado na depressão pós-parto: o choro mais frequente, a dificuldade para dormir maior, assim como para se alimentar, e a falta de interesse pela criança ou por fazer outras atividades que antes eram consideradas prazerosas. Nesse sentido, o baby blues não apresenta um impacto tão forte na vida da mãe, mas ele cria, sim, uma confusão de sentimentos. “Ao mesmo tempo em que ela está feliz, que tem um vínculo com o bebê, sente ansiedade, tristeza, vontade de chorar sem motivo”, acrescenta a psicóloga. No caso de depressão, a mamãe também pode ter maior perda de energia e esgotamento.

O que causa esses transtornos?

Como já foi falado anteriormente, o lado psicológico pode interferir no surgimento do baby blues e da depressão pós-parto, deixando a mãe mais vulnerável. Mas é importante dizer que não é somente essa questão responsável por tais transtornos. “A mulher precisa ter uma tendência biológica. Isto é, uma história prévia de depressão na família, mesmo que leve, ou até se ela já teve a doença ao longo da vida, para que possa ser orientada o quanto antes”, afirma o psiquiatra.

Por esse motivo é importante que as gestantes fiquem atentas: se elas já enfrentaram transtornos psiquiátricos ao longo da vida devem conversar com o obstetra e buscar informação antes mesmo do bebê nascer. E o aparecimento destes distúrbios não está relacionado com o fato da mulher ser mãe de primeira viagem ou ter tido vários filhos. “Essa é uma questão que não temos controle. O que temos que ficar de olho é se a mãe teve alguma dificuldade mais acentuada durante a gestação, como a falta do apoio da família em alguns momentos complicados”, explica a psicóloga.

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Como tratar?

Assim como a maioria dos distúrbios e doenças, o diagnóstico precoce é muito importante. Algumas maternidades oferecem esse apoio psicológico quando a mãe ainda está internada, para que um especialista possa ajudá-la. “No baby blues, geralmente orientamos os pais a buscarem um psiquiatra para que tenha uma avaliação inicial, mas não necessariamente a mulher precisará desse acompanhamento”, ressalta Mariana.

O problema é que muitas mães ficam apreensivas na hora de procurar um médico, o que faz com que o tratamento não seja iniciado rapidamente. No caso da depressão, remédios podem ser prescritos e, atualmente, os mais utilizados são aqueles que passam menos para a criança através do leite materno.

“A mãe precisa saber que nos primeiros 100 dias do bebê ela tem que dar afeto, calor, contato, olhar nos olhos dele. As que estão muito deprimidas e não conseguem fazer isso podem interferir no sistema emocional do cérebro da criança, trazendo consequências quando ela for adulta. O impacto a longo prazo pode ser muito pior e fazer com que no futuro ela tenha depressão ou problemas psicológicos”, informa Tavares.

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É claro que cada caso é um e o profissional saberá avaliar as necessidades da sua paciente. Mas a terapia é sempre bem-vinda: a palavra também cura e exteriorizar os sentimentos e elaborá-los com a ajuda de um especialista é sempre válido.

O apoio é essencial

Tanto no baby blues quando na depressão pós-parto é muito importante que a mãe tenha uma rede de pessoas próximas que compreendam o momento difícil que ela está passando. “É importante não julgar. Não falar coisas do tipo: ‘Isso é besteira’, ‘por que você está assim? Você tem que estar feliz’ porque é algo que a mulher não controla. Evitar também cobranças, julgamentos, comparações com outras pessoas e situações”, reforça a psicóloga da Pro Matre.

Realmente, o pai da criança, os avós e os amigos devem exercitar o olhar de empatia e ainda auxiliar nos cuidados práticos do bebê, como trocar fralda, dar o banho ou colocar para dormir. “Eles têm que fazer o exercício de dar apoio sem que isso gere culpa. A mulher já se sente culpada por estar assim, achando que está fazendo tudo errado, que não consegue amamentar, então, quem está junto tem que ter o entendimento completo para não dizer nada agressivo porque a coisa que a mãe mais queria era estar bem”, completa o psiquiatra do Hospital das Clínicas.

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Tenha paciência com você

Além do apoio das pessoas próximas, outro ponto essencial é que a mulher tenha calma com ela e com a situação. Cobranças internas não ajudam em nada. “A mãe tem uma tendência a se julgar: ‘Por que eu estou assim? Acabei de ter um bebê, tenho que amamentar e ser uma ótima mãe’. Eu acho importante elas não exigirem tanto até mesmo porque ninguém fala a respeito desses sentimentos negativos que podem aparecer com a maternidade. Elas têm que dar tempo para elas mesmas para que possam se organizar, se conhecer nesse novo papel e, até mesmo se têm outros filhos, acertar a rotina em casa”, orienta Mariana.

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